Segunda 6 de Maio de 2024

Nacional

Lula e o PMDB juntos contra os trabalhadores

18 Jul 2009   |   comentários

Os escândalos de corrupção que mais uma vez vieram à tona nas últimas semanas a partir da crise no Senado não são nenhuma novidade para os trabalhadores brasileiros, que já estão cansados de saber como o Congresso Nacional é um covil de ladrões. Não vale nem a pena fazer uma lista dos variados e diversificados métodos utilizados, tamanha a imaginação dos nossos deputados e senadores quando se trata de encher seus próprios bolsos às custas dos impostos pagos pelo povo.
O que a nova crise do Senado ressalta com mais força, no entanto, é o nível de apoio que os políticos mais retrógrados e corruptos do país encontram em Lula. O PMDB, partido que hoje aglutina grandes e pequenos coronéis dos rincões se transformou no principal partido da base governista. Para mantê-lo como aliado, pois dele depende a “governabilidade” ’ isto é, a maioria no Congresso ’ e como apoiador de Dilma em 2010, Lula está disposto a tudo. Graças a ele Sarney ainda se mantém no cargo de presidente do Senado, pois foi Lula quem disciplinou o PT. Além disso, Lula tem pressionado o PT nos estados para abrir mão de candidatos a governador em função de favorecer os candidatos do PMDB. Mas esse é só um aspecto do pacto de Lula com os setores mais atrasados da burguesia brasileira.
Inaugurando obra do PAC em Alagoas, o presidente elogiou Collor e Renan pelos serviços prestados ao governo no Senado. Na Bahia, depois que Jacques Wagner do PT derrotou o carlismo nas eleições, promoveu a reorganização no coronelismo em torno do PMDB de Geddel Vieira (ministro da Integração Nacional), que acaba de romper com o governo petista para articular sua própria candidatura ao governo do estado em 2010. Na região amazónica Lula se alia aos pecuaristas que destroem a floresta, os mesmos interesses que estiveram por trás do assassinato de Chico Mendes em 1988. A mesma coisa no centro-oeste, onde seus aliados preferenciais são os latifundiários da soja, representados na figura de Blairo Maggi. No Pará, o governo de Ana Julia Carepa é aliado direto dos latifundiários que assassinam os trabalhadores rurais e camponeses pobres que lutam pela posse da terra. Não foi apenas uma frase de efeito quando Lula há algum tempo atrás, declarou que os usineiros da cana ’ responsáveis por boa parte dos casos de trabalho escravo no país ’ eram “heróis nacionais” .

Um pacto que vem de longe

Lula, ao governar o país em função dos interesses da burguesia, tem necessariamente que pagar um alto tributo aos setores mais retrógrados desta mesma burguesia. É o mesmo trajeto que os intelectuais do PSDB, em um principio representantes dos setores ilustrados das classes médias paulistas, fizeram ao selar o pacto eleitoral com o PFL que lhes permitiu aplicar a ofensiva neoliberal através do plano real e da derrota da greve dos petroleiros em 1995 ’ para isso contou com a ajuda de Lula e do PT, como discutimos no artigo ao lado.
Essa incapacidade da burguesia brasileira e dos políticos que defendem seus interesses, sejam eles oriundos das classes médias ilustradas como FHC ou até mesmo da classe operária como Lula, de romper com os elementos de atraso que expressam em última instância uma continuidade com os velhos senhores de escravos se deve a motivos estruturais de sua própria formação. Como explicaram os trotskistas brasileiras da LCI na década de 30, a burguesia industrial paulista surgiu desde o inicio ligada ao imperialismo e aos grandes proprietários de terra (os senhores do café, na época) e temia acima de tudo seus próprios trabalhadores, assim fazia todo tipo de pacto com as oligarquias para manter o seu domínio. Apesar de todas as modificações provocadas primeiro pela política de Getulio Vargas e depois pela industrialização do país principalmente a partir da década de 50, essa incapacidade da burguesia industrial brasileira de romper com os ecos do atraso se manteve ao longo de todo o século XX. Na verdade, o que ocorreu foi uma fusão cada vez maior dos interesses da burguesia industrial com a velha oligarquia, sob a tutela do imperialismo.

A transição negociada

Esse pacto de classe, responsável pelo golpe em 64, foi também o que deu o tom na transição da ditadura militar para a democracia dos ricos que temos hoje. Frente a rebelião operária que começou no ABC paulista e na própria cidade de São Paulo, os militares junto com os políticos da Arena (entre eles José Sarney, hoje apoiador de Lula), iniciam um processo de transição sem ruptura institucional do qual participaram os políticos do então MDB (entre eles FHC e José Serra). Lula, antes mesmo da formação do PT, já fazia a sua parte neste grande pacto para evitar que as greves operárias derrubassem a ditadura e iniciassem um processo revolucionário no país. Dirigindo o sindicato dos metalúrgicos do ABC, evitava uma aliança com os conselhos de fábrica dos metalúrgicos da cidade de São Paulo e ao mesmo tempo mantinha a greve nos marcos da campanha salarial, evitando levantar a consigna política de abaixo a ditadura e se negando a convocar uma greve geral com esse objetivo.
Fruto desde processo negociado, que significou um grande desvio das lutas do movimento operário, a Constituição de 88, apesar de constar uma série de conquistas para as massas (que foram em grande medida retiradas com os ataques a partir do plano real), também e fundamentalmente significou uma série de concessões aos militares e às oligarquias do interior do país. Aos militares, foi garantido o status jurídico de guardiões últimos da própria constituição o que significa na pratica a possibilidade de golpes de estado constitucionais. Aos coronéis do norte e do nordeste, foi garantida uma sobre representação política, que se expressa justamente no Senado, onde estados com uma pequena população tem quase a mesma representação que grandes estados como São Paulo ou Minas Gerais. Não a toa todos os governos tem que pagar tributos ao atraso para “manter a governabilidade” .
Contra esse estado de coisas, defendemos a punição aos corruptos e o confisco dos seus bens, a punição para os atuais repressores, que assassinam os que lutam pela terra e a juventude negra e o povo pobre das grandes cidades, assim como a punição aos torturadores da ditadura militar. No entanto, até mesmo essas medidas democráticas elementares não vai ser levadas a cabo por políticos que defendem a ordem burguesa.

Por uma luta independente por parte das organizações operárias

As questões democráticas mais elementares como as que citamos acima, assim como o direito à terra para os camponeses pobres, a uma moradia digna para os pobres urbanos, a saúde e educação de qualidade para os trabalhadores e o povo pobre, a saneamento básico e outras questões essenciais, não serão defendidas por nenhuma setor da burguesia. Só poderão ser conquistadas através da luta dos trabalhadores, em aliança com os camponeses pobres e as camadas populares.
No entanto, os trabalhadores estão paralisados pela política duas suas direções. O PT, que dirige a CUT, assim como o PCdoB que dirige a CTB, se submetem à política do governo Lula de privilegiar as alianças com o PMDB e políticos como Sarney e Collor. Se sequer organizam as lutas por salário, esses não vão enfrentar os aliados corruptos do governo Lula. É por isso que os sindicatos e as organizações operárias precisam romper com o governo Lula que apóia a burguesia mais retrograda, e passar a organizar a luta dos trabalhadores e do povo por uma verdadeira democracia que possa representar seus interesses.

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