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Nacional

Lula/PT: 4 anos de um governo corrupto e burguês

10 Oct 2006   |   comentários

A eleição de Lula em 2002 representou a confiança de milhões de trabalhadores que após oito anos de miséria na “Era FHC” , tinham a esperança de um governo que atendesse as demandas mais sentidas da maioria dos trabalhadores do país. Apesar disso, o governo de Lula e do PT, que se dizia o mais comprometido com a ética na política, ficou marcado por escândalos de corrupção que envolveu os principais nomes “de mão limpa” do partido e pela aplicação da reforma da previdência que significou um enorme ataque aos trabalhadores.

Apesar de tantos escândalos e mantendo as principais bases económicas do governo anterior, a eleição presidencial de 2006 na qual Lula tenta se reeleger, chegou polarizada no segundo turno entre a imagem do candidato-presidente “pai dos pobres” contra a candidatura tucana de Alckmin, o “pai dos ricos” . Dia 1° de Outubro Lula ganhou disparado nos sete estados brasileiros com pior IDH (à ndice de Desenvolvimento Humano), enquanto Alckmin foi hegemónico nos sete estados de melhor estatística. [1] Para se diferenciar dos tucanos e esconder o caráter corrupto e burguês do seu governo, Lula se apóia na denuncia do reacionarismo de Alckmin, que representa a tradicional elite brasileira. Para se apresentar como defensor dos pobres Lula denuncia corretamente que o tucano tenta se eleger para retomar o projeto de privatizações do governo Fernando Henrique, reprimir mais duramente os movimentos sociais de trabalhadores e sem-terra e, no primeiro debate do segundo turno, Lula aproximou seu opositor do sanguinário presidente dos EUA, George Bush. No entanto, Lula segue tendo o apoio de grandes burgueses, pois governa, apesar de todo o discurso, a favor deles. Blairo Maggi por exemplo, governador (e “dono” ) do Estado do Mato Grosso, rei da soja no país, declarou seu apoio a Lula em troca de um bilionário investimento para a agroindústria que ele mesmo controla.

Nesse artigo procuramos mostrar como em meio a maior crise vivida pelo próprio partido dos trabalhadores e pelo conjunto dos partidos e instituições da burguesia, Lula usa demagogicamente sua origem de “sertanejo pobre” e de “brasileiro comum” para se distanciar dos mensaleiros e sanguessugas do seu partido e do Congresso Nacional e aprofundar no segundo mandato a política de ataque à classe trabalhadora que aplicou neste primeiro governo. Seja Alckmin ou Lula o próximo presidente, as reformas política, trabalhista/sindical, universitária e a segunda fase da reforma previdenciária, seguirão na pauta do Congresso para consolidar os acordos que só interessam aos patrões brasileiros e a burguesia internacional.

A Esperança venceu o Medo?

Hoje, depois dos quatro anos do seu governo, Lula se compara com a “herança maldita” deixada por FHC. Os anos 90, para a imensa maioria dos trabalhadores e da população pobre, foram desastrosos: De 98 a 2000 o governo FHC gerou insignificantes 16 mil empregos. No mesmo período, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o rendimento médio do poder de compra dos salários caiu 11% e mais de 40 milhões de trabalhadores viviam na informalidade. Foi também em seu governo que a média salarial dos trabalhadores chegou a quarta pior do mundo; a diferença salarial entre homens e mulheres atingiu 40% (Datafolha) e, entre 1995 e 2001 o intervalo para conseguir um novo emprego aumentou de 6 para 11 meses. [2]

Frente à catástrofe que foi a geração de empregos no período anterior ao seu, Lula pede aos trabalhadores mais uma chance na presidência para gerar ainda mais empregos. Depois de quase completos 4 anos de governo, Lula gerou pouco mais de 4 milhões de novos empregos (dos 10 milhões prometidos), seguindo a mesma lógica de flexibilização iniciada por FHC. Prova disso é o já aprovado projeto de lei do Supersimples, ante-sala da reforma trabalhista, que desobriga as médias e pequenas empresas a respeitar os direitos básicos dos trabalhadores como as férias remuneradas e o décimo terceiro integral no final do ano, descanso semanal regular, licença maternidade, etc. Esse tipo de empresa representa no Brasil mais de 90% do total de empregadores e mais de 60% dos empregados registrados.

Lula também se orgulha por ter elevado o salário mínimo para R$ 350,00. Qualquer trabalhador sabe muito bem que é simplesmente impossível arcar com todas as despesas de alimentação, moradia, saúde e educação de uma família média de quatro pessoas com esse salário mínimo de fome. Enquanto a maioria esmagadora da população continua sofrendo com condições indignas de vida, no ano de 2005 os 50 maiores grupos empresariais do país comemoraram a política “para todos” do governo: R$ 47 bilhões foi o lucro que reuniu algumas das sempre milionárias famílias do país, e R$ 18 bilhões foi o lucro (recorde em toda história!!) dos cinco maiores bancos nacionais (Unibanco, BB, Caixa, Itaú e Bradesco).

Contra os funcionários do setor público, em 2003, Lula aplicou a Reforma da Previdência com uma campanha reacionária para isolá-los chamando-os de “privilegiados” . Ao mesmo tempo em que estabelecia mais tempo de trabalho para homens e mulheres prorrogando a idade da aposentadoria, e após conceder míseros 1% de reajuste à categoria, Lula usou a verba pública para engordar ainda mais os cofres dos banqueiros. No livro: “Fórum Nacional Governo Lula: Novas prioridades e desenvolvimento sustentado” o então Ministro do Planejamento Guido Mantega (hoje no Ministério da Fazenda) explica muito bem como seriam as “novas prioridades” para os servidores dizendo que a Reforma da Previdência era necessária para poder aumentar os investimentos nos programas sociais. Dessa medida só podemos tirar uma conclusão: tira-se dos pobres, para entregar algumas migalhas aos ainda mais pobres e conter a insatisfação popular, enquanto os mais ricos enriquecem ainda mais as custas do governo como sempre.

Demagogia e migalhas para os trabalhadores.

O Programa Bolsa-Família, carro chefe do governo, destinou as 11 milhões de famílias mais carentes do país um total de recursos que, somados, atingiram pouco mais de R$ 8 bilhões em 2006. No entanto, enquanto Lula enche o peito para falar do seu governo voltado “aos mais necessitados” , estima-se que o governo pagará aos organismos internacionais nada menos que cerca de R$ 700 bilhões até o final deste ano com os juros da dívida externa. Quase cem vezes maior é a “bolsa-família” que Lula reserva aos grandes burgueses internacionais do Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Banco Mundial (BID) com quem cumpriu a risca todos os acordos.

Para garantir a reeleição, Lula usa diariamente da demagogia e ressalta “seus grandes feitos” . Afirmando que tem "uma obra realizada" para mostrar, Lula vem lembrando, além do Bolsa Família, o ProUni, o programa Luz para Todos e os números que mostram a redução da pobreza...Quanto Cinismo! Com o programa ProUni, primeira fatia da Reforma Universitária, Lula gastou mais de R$ 7 bilhões em 2005 para salvar os grandes capitalistas da educação, comprando as vagas ociosas das universidades particulares ao invés de investir na educação pública. O projeto de lei ainda prevê “maior autonomia de recursos” para as Universidades Públicas... desde que o governo não precise gastar nem um centavo! Essa autonomia é, na verdade, um golpe de morte na autonomia universitária uma vez que obriga as universidades a buscar recursos com as grandes empresas, o que só pode ser conseguido colocando ainda mais a mercê destas empresas todo conteúdo das pesquisas produzidas nas universidades brasileiras, já suficientemente elitizadas e racistas.

Favorecido pela relativa estabilidade da economia internacional durante grande parte do seu governo, Lula diz que reduziu significativamente a pobreza baixando o preço da cesta básica e dos materiais de construção. Essas medidas que Lula defende como grandes feitos estão no marco de um crescimento da economia que, na América Latina, só não foi menor que o do Haiti, país devastado por uma guerra que inclusive Lula mandou tropas para ajudar o imperialismo norte-americano a reprimir milhares de negros e pobres. Ainda sim, o valor da cesta básica atual corresponde a absurdos 55% do valor do salário mínimo, contra 70% do período anterior, o que para nada significa um “grande avanço na redução da miséria brasileira” .

Frente à “miséria do possível” e a demagogia, a classe trabalhadora precisa retomar a independência de classe

Mesmo com toda a demagogia e assistencialismo, e frente a grande influencia que Lula e o PT ainda exercem sobre amplos setores da classe trabalhadora e do povo pobre, algumas categorias se mobilizaram contra os ataques despendidos pelo governo, e inclusive a revelia de suas históricas direções. A greve dos previdenciários em 2003, das Universidades Federais e Estaduais nos anos de 2004 e 2005, dos bancários e, inclusive a surpreendente paralisação política dos metroviários contra a privatização da linha 4 do metró e a greve dos metalúrgicos do ABC na Volks em 2006 (onde 40% da categoria rejeitou o PDV imposto pela patronal e pelo sindicato) mostram que há disposição de luta na classe trabalhadora.

No próximo governo, que contará com um parlamento recheado de figuras pitorescas como Paulo Maluf, Valdemar Costa Neto e o ex-presidente Collor (só pra citar alguns), continuará valendo a lógica dos conchavos e dos favorecimentos que tiveram estampados aos olhos de todos no governo de Lula e do PT. Nós trabalhadores não devemos manter a menor ilusão de que um próximo mandato de Lula e seu congresso corrupto estarão a serviço dos interesses de nossa classe. É imperiosa a necessidade de unificarmos nossas pautas e lutar contra o inimigo comum; contra a burguesia que tentará aplicar sim ou sim todas as reformas necessárias para garantir o lucro das grandes empresas, dos patrões e de seus políticos de plantão. É impossível para os trabalhadores, sem uma política de classe totalmente independente, obter uma saída de fundo para os problemas estruturais do país.

[1Revista Forbes, Outubro/2006
.

[2Dados extraídos do livro: “Era FHC” A Regressão do Trabalho, Marcio Pochmman e Altamiro Borges.

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