Segunda 29 de Abril de 2024

Nacional

Contra as alternativas burguesas para a crise no governo

Impulsionar um Encontro Nacional para unificar os anti-governistas e anti-burocráticos em uma política independente

15 Jun 2005 | Como discutimos no editorial e em diversos artigos desse jornal, os escândalos de corrupção abriram uma crise sem precedentes no governo. Essa crise abre uma oportunidade inédita para que setores mais amplos da classe trabalhadora rompam com o governo Lula. No entanto, essa ruptura pode se dar tanto pela esquerda como pela direita. O PSDB e outros setores burgueses deflagram uma verdadeira ofensiva para capitalizar o descontentamento com o governo Lula pela direita, visando às eleições de 2006.   |   comentários

O PT e a CMS se esforçam para salvar o governo

A CUT, o MST, a UNE, a CMP e a CNBB/PS se unificaram em torno de um bloco enorme que reúne praticamente todas as principais direções do movimento de massas no Brasil em uma verdadeira “blindagem” de Lula, que tem como objetivo impedir que a indignação do povo com relação aos escândalos de corrupção saiam do seu controle, ganhem as ruas do país em forma de protestos que podem se voltar contra o governo.

Para tal, essas direções criaram uma “teoria” na qual, por um lado, defende o governo Lula contra uma suposta ameaça golpista planejada por Washington e as transnacionais em conluio com o PSDB (segundo eles, a direita) e, por outra lado, se contrapõe ao neoliberalismo do mesmo governo exigindo mudanças na política económica. O que essa “teoria” não explica é por que Bush e as grandes empresas transnacionais elogiam tanto o neoliberalismo de Lula e ao mesmo tempo querem derrubá-lo?! E também não explica quem se favorece com o neoliberalismo lulista uma vez que a “direita” estaria contra o governo?!

Por trás desse bloco montado para impedir qualquer ação das massas contra o governo e costurando todos os acordos está o PT, que golpeado pelos escândalos de corrupção e sem querem gerar ainda maiores problemas para o governo, apóia as manifestações mas não se posiciona oficialmente contra a política económica.

Por uma política independente para a classe trabalhadora

É necessário unificar sindicatos, oposições sindicais, trabalhadores, jovens e organizações operárias antigovernistas e antiburocráticas, a começar pela Conlutas e pela FES (CUT).

E nós, os trabalhadores, jovens e militantes da esquerda que nos indignamos tanto com a burguesia tucana como com os burocratas das direções da CUT, da UNE e do MST? O que temos feito os militantes da Conlutas e o que têm feito os setores ligados à Frente de Esquerda Socialista (FES) da CUT para unificar a vanguarda antigovernista e antiburocrática em torno de eixos políticos independentes da burguesia e capazes responder ao momento político que vive o país?

Precisamos ser ofensivos. A reduzida força dos setores antigovernistas e antiburocráticos em relação à força do PSDB e das direções da CMS, exige que busquemos nos unificar em torno de eixos políticos independentes da burguesia de modo a aumentar nossa voz e nossa capacidade de ação. Não podemos permitir que os partidos burgueses sejam os maiores beneficiários da atual situação política.

Os chamados que a CMS faz à mobilização de setores das massas, ainda que sejam para defender o governo, potencialmente liberam energias do povo explorado e oprimido e abrem oportunidades para que possamos nos dirigir a parcelas mais amplas da classe trabalhadora. É que a “teoria” do “golpismo de direita” , mesmo sendo uma deformação da realidade com o intuito de salvar a pele do governo, imprime um tom de enfrentamento entre as classes, entre esquerda e direita, que pode acabar se voltando justamente contra os burocratas conciliadores na medida em que se apóia num instinto de repúdio contra a burguesia reacionária que existe em setores das massas. É precisamente esse tipo de ódio de classe que esses mesmos burocratas têm se esforçado para esvaziar durante anos a fio, e principalmente desde que Lula assumiu o governo. Hoje, esse tipo de discurso, combinado com a exigência de mudanças na política económica no sentido de favorecer políticas sociais, ainda que estejam arquitetados para cumprir um papel de contenção, em perspectiva tendem a desgastar duplamente as direções da CMS na medida em que a idéia de “golpe direitista” se mostre uma farsa e as exigências não forem atendidas; e na medida em que setores do movimento de massas levem a sério o discurso de enfrentamento e se tornem mais avessos ao amortecimento dos conflitos entre as classes característico do cotidiano dessas mesmas direções.

É por isso que esse é o momento para uma vanguarda ampla se colocar na cena política, aproveitando tanto as brechas que a crise no governo abrem, mas principalmente as brechas que surgem dessa política contraditória das direções burocráticas do movimento de massas. Esse é o momento por excelência para que as distintas correntes, agrupamentos e setores que têm se colocado contra o governo e contra a burocracia governista e conciliadora, mostrem que estão interessados nos destinos do conjunto da classe trabalhadora e das massas brasileiras e são capazes de colocar as necessidades dessa luta por cima de seus interesses particulares. É hora de colocarmos na ofensiva todos os setores que romperam com esse governo burguês e anti-popular e que por isso mesmo não têm nenhum compromisso com esse mar de lama que aumenta a cada dia. É hora de nos organizarmos juntos com bandeiras e ações comuns, capazes de multiplicar por cem ou por mil as nossas vozes, que assim poderá superar os limites que têm até agora e chegar aos setores das massas que ainda apóiam o governo ou que rompem com ele sem uma perspectiva à esquerda.

Precisamos lutar pela unificação da vanguarda em torno de um pólo classista, antigovernista e antiburocrático que responda à necessidades mais sentidas pela população e que nos armem para lutar contra os ataques do governo Lula. Um pólo que tenha políticas claras para responder a problemas como a luta contra a corrupção, a luta pelo fim do desemprego e contra o arrocho salarial e a luta contra a miséria no campo, a luta contra as reformas neoliberais do governo e a unificação das greves em curso.

Sabemos que existem diferenças políticas importantes entre a Conlutas e a FES, e que existem diferenças políticas inclusive dentro de cada uma delas. Sabemos que a Conlutas e a FES já têm encontros marcados em datas distintas, o da Conlutas em agosto deste ano e o da FES em novembro. Conscientes disso, nós da Liga Estratégia Revolucionária, que atuamos como uma fração classista, antiburocrática, antigovernista e por sindicatos militantes dentro da Conlutas, acreditamos que é necessário uma política emergencial frente à crise no governo.

Convoquemos um grande Encontro Nacional Unificado de Trabalhadores e da Esquerda

Precisamos convocar imediatamente um Encontro Nacional Unificado de Trabalhadores e da Esquerda com milhares de representante dos sindicatos, oposições sindicais, trabalhadores, jovens e organizações operárias antigovernistas e antiburocráticas, em torno de eixos políticos independentes da burguesia, capazes de responder à crise aberta no país, com delegados eleitos nas assembléias de base e nos locais de trabalho, para que sejam os próprios trabalhadores nas bases de seus sindicatos os que devem decidir as tarefas da vanguarda para o próximo período.

Em um Encontro como esse, o PSTU, o PSOL, os NARS, a LER-QI e as demais organizações políticas que hoje se colocam numa perspectiva de lutar contra o governo e a burocracia sindical poderiam colocar abertamente suas posições para o debate junto às bases. Afirmamos desde já que para nós um Encontro como esse poderia tirar uma política ofensiva de exigência às principais organizações do movimento de massas, com o eixo numa campanha para que a CUT e seus sindicatos rompam com o governo Lula e impulsionem um programa independente de reivindicações dos trabalhadores e das massas. Num momento em que a direção da CUT, assim como as demais da CMS, são obrigadas a chamarem setores da massas a se mobilizarem em defesa do governo em crise, uma política assim seria a melhor maneira de acelerar a experiência das bases com suas direções traidoras.

Para dar os primeiros passos e demonstrar a potencialidade da unidade entre trabalhadores ligados à Conlutas com os trabalhadores ligados à FES, devemos desde já convocar encontros regionais nas principais cidades do país para votar campanhas e ações concretas com um viés claramente classista, chamando as categorias que começam a protagonizar greves a colocarem sua combatividade a serviço dessa tarefa. Mãos à obra!

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