Domingo 5 de Maio de 2024

Internacional

Históricas Jornadas de Mobilização no Chile contra o Regime herdeiro de Pinochet

27 Aug 2011   |   comentários

As duas jornadas de paralisação nacional convocadas pela CUT (Central Unitária de Trabajadores) nos dias 24 e 25 de agosto significaram um novo salto na luta iniciada há meses pelos estudantes secundaristas e universitários do Chile. A demanda pela “educação gratuita” conseguiu aglutinar a simpatia de amplos setores operários e populares, que somam a esta suas demandas (contra o regime trabalhista atual, contra os salários de fome, por um sistema de saúde público e gratuito...). Esta luta aberta contra o governo direitista de Piñera de conjunto é o movimento mais importante contra o regime herdeiro da ditadura de Pinochet. Uma herança evidente pela condição elitista e privatizada da educação, pela brutal e impune repressão contra todo protesto ou pelo terror patronal contra o direito de greve, aprovado pela declaração de “ilegal” pelo governo em relação à paralisação desses dias.

As jornadas começaram com os panelaços de quarta feira pela noite. Este protesto se estendeu não apenas aos bairros do centro mas também aos bairros (comunas) mais periféricos, de forte composição operária e popular. Ao longo da madrugada se levantaram um sem fim de barricadas nessas comunas e nas imediações de muitas faculdades que permaneciam tomadas pelos estudantes. Um dos combates mais significativos ocorreu na Faculdade de Filosofia e Humanidades da Universidade do Chile, onde votaram e organizaram comissões de auto-defesa para defender a ocupação contra a forte repressão da polícia de Piñera. Foram impressionantes as mais de três horas de combate contra os carabineros (“pacos”), as mangueiras de água à pressão, gases tóxicos... que dava mostras da grande combatividade e ânsia de luta da juventude chilena. Ao longo do dia repetiram-se as batalhas deste tipo por toda a geografia e pela noite os panelaços se repetiram de maneira muito mais massiva que no dia anterior. Os trabalhadores públicos, apesar de que a burocracia da CUT (do Partido Socialista e Partido Comunista) não havia preparado a greve, participaram da paralisação entre 50% e 80%. No setor privado o terror patronal, do governo e a política traidora da burocracia impediram a paralisação da indústria e outros setores estratégicos, se bem que em muitas fábricas a raiva dos trabalhadores -que sim queriam parar- em relação a seus dirigentes se incrementou notavelmente.

Na quinta-feira se reproduziram as paralisações da mesma maneira, e o centro da cena esteve nas massivas mobilizações. Mais de 600.000 jovens e trabalhadores ocuparam as ruas, 400.000 na capital. O PC e o PS -que em todo momento tiveram o papel de “bombeiros”- trataram de evitar que a marcha atropelasse a proibição governamental de chegar à frente de “la Moneda” (sede do governo) e tiveram a política de criminalizar as alas combativas do movimento com um discurso contra os “capuchas” (encapuzados). Era patético observar um pequeno número de quadros destes partidos tratando de frear os milhares de jovens que não se resignavam a ter que sofrer passivamente a ofensiva repressiva de Piñera. Finalmente entre 10.000 e 20.000 jovens e trabalhadores mantiveram duros combates contra a cavalaria, os “guanacos” (caminhões com mangueiras de água a pressão tóxica), os “zorrillos” (veículos 4x4 que lançam gases tóxicos pelas laterais) e os “pacos” (policiais) a pé.

O PS e o PC buscam desesperadamente desativar a mobilização –colocando-se à frente para moderá-la- e assim abrir um processo de negociação que desvie este importante processo de luta. Já falam de “uma segunda transição”, tentando repetir a traição histórica que o PC do Chile e o PS (imitando a atuação de seus “colegas” espanhóis em nossa “Transição”) realizaram em 1989 para dar uma saída de contra-revolução democrática e “gatopardista” à ditadura de Pinochet. Ainda assim esta política de desvio tem à sua frente milhares de jovens e trabalhadores que não querem engolí-la. Isto ficou evidente nos combates que dezenas de milhares de jovens protagonizaram durante toda a tarde e a noite de ontem por toda Santiago, resistindo combativamente a uma repressão brutal que deixou o saldo de centenas de feridos, mais de 200 detidos e um jovem de 14 anos assassinado pelos disparos da polícia.

Agora mais que nunca está colocada a necessidade de continuar com as mobilizações e por este caminho conseguir delimitar-se das direções traidoras do PC e do PS, desenvolvendo a auto-organização e a coordenação do movimento estudantil e forjando a unidade operário estudantil que esses dirigentes traidores estão tentando atropelar constantemente. Igualmente a política repressiva contra os que lutam – que é uma constante na “democracia” chilena -está dando um salto como demonstra o assassinato do jovem Manuel Gutiérrez- deve ser enfrentada contundentemente, mais ainda quando a política do PS e do PC de dividir os “moderados” dos “radicais” vai alentar mais “mão dura” contra os setores que não se disciplinem a sua política.

Esta importante batalha da juventude e dos trabalhadores chilenos deve ser ao mesmo tempo rodeada de toda a solidariedade possível de parte da juventude e dos trabalhadores dos demais países do mundo. No Estado Espanhol o movimento dos indignados expressa um crescente rechaço a esta democracia dos ricos. Os combates de nossos irmãos chilenos deve nos servir de exemplo de luta. Eles lutam contra a herança de Pinochet e nós contra a de Franco. Uma vitória de nossos companheiros chilenos significaria um forte impulso às lutas que já estamos vivendo no mundo árabe e na Europa ao calor da atual crise capitalista.

Viva a luta da juventude e dos trabalhadores chilenos!!
Rodear de solidariedade internacionalista seus combates!!
Abaixo o Regime herdeiro da ditadura de Pinochet!!

27/08/2011, Santiago, Chile

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