Quarta 8 de Maio de 2024

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Greve em Oakland: unidade entre jovens e trabalhadores

27 Nov 2011   |   comentários

O movimento “Occupy Oakland” convocou uma greve geral como medida de protesto para o dia 3 de novembro. A greve ocorreu com adesão parcial entre os trabalhadores portuários, enfermeiras e professores. De acordo com a imprensa burguesa, dos 325 estivadores sindicalizados, sem convocação oficial do sindicato, pararam 40; aderiram à medida cerca de 300 professores (15% do total); também participaram centenas de trabalhadores municipais. Alguns estabelecimentos comerciais fecharam em solidariedade à ação, inclusive um cinema manifestou em seu cartaz a solidariedade com a greve. Oakland, quinto porto industrial dos Estados Unidos, deixou de operar devido à greve geral. Realizaram-se ações em solidariedade em Nova York, Houston, Boston, Los Angeles e muitas outras cidades estadunidenses. Veteranos de guerra uniram-se aos protestos porque não conseguem encontrar trabalho.

O jornal El País informou que “entre os manifestantes havia pais com seus filhos, desempregados, representantes de estudantes universitários (fortemente endividados para pagar seus estudos, mas com dificuldades para encontrar um trabalho que permita quitar suas dívidas), admiradores dos Panteras Negras (movimento afro-americano fundado em Oakland), médicos com cartazes a favor de um sistema de saúde para todos, jovens com máscaras dos cyber-ativistas Anonymus, ou com adesivos em apoio a Bradley Manning (o soldado que permanece preso por passar documentos secretos ao WikiLeaks). Os acampados, assim como os espanhóis, receberam comida de graça dos estabelecimentos comerciais da região”.

Até este ano, a última greve geral ocorrida em Oakland foi em 1946, como parte da onda de greves de 1945-1946, ocorridas no pós Segunda Guerra Mundial. Os condutores de ônibus e de bondes negaram-se a passar pelos cordões policiais, estabelecidos para escoltar os caminhões que furavam a linha do piquete de 425 grevistas, a maioria mulheres, na loja de departamentos Hasting and Kahn no centro de Oakland: assim estourou a greve. No dia seguinte, furiosos, caminhoneiros marcharam ao centro e reuniram-se em frente à loja, em Latham Square. No dia 3 de dezembro, 142 sindicatos da Federação Sindical Americana do Condado Alameda declararam “feriado” e aproximadamente 100 mil trabalhadores saíram de seus trabalhos em marcha. Sua marca distintiva foi haver superado os sindicatos tradicionais em uma profunda solidariedade de classe. Em 1947 uma lei federal declarou ilegal que sindicatos façam paralisações em solidariedade a outros trabalhadores.

Passados 65 anos, os trabalhadores e o povo de Oakland retomaram o melhor de sua tradição histórica. Convocada pelo movimento Occupy Oakland, trabalhadores de distintos sindicatos tomaram a greve como sua. Ainda que a cidade não tenha parado por completo, as atividades portuárias foram suspensas por cerca de seis horas. Ao redor de 10 mil manifestantes exigiram o castigo dos responsáveis pela crise econômica que afeta os Estados Unidos, protestaram contra a repressão e contra a desigualdade econômica e social no país e exigiram a cobrança de impostos dos ricos. Nas ruas deu-se a unidade entre trabalhadores e setores da classe média baixa estadunidense, imigrantes e afro-americanos. Ainda que não tenha sido uma greve geral massiva da cidade, mostra um salto na radicalidade do movimento Occupy Wall Street: de encontros, acampamentos e manifestações, passou-se para o chamado a uma greve geral. Jovens e trabalhadores juntos bloquearam o porto para deter o fluxo de capital. As perdas para os empresários calculam-se na casa das dezenas de milhões de dólares. Este é o enorme poder da classe trabalhadora: deter a circulação e a produção de mercadorias.

A greve de 3 de novembro, ainda que com limites, ressalta a importância da unidade com os trabalhadores e retoma a idéia de greve geral como método de luta da classe trabalhadora. Ela levanta a potencialidade dos trabalhadores em luta para enfrentar os ataques dos capitalistas ante a crise. Frente aos que reivindicam o caráter espontâneo, horizontal e não-classista do movimento dos indignados, a ação de Oakland demonstra uma nova perspectiva. O que se iniciou como uma ação defensiva frente ao desalojo do Occupy Oakland fortaleceu o movimento com a incorporação de setores de trabalhadores. Isto é o suficiente? Não, mas representa um avanço. Os primeiros passos de uma unidade entre jovens e trabalhadores no coração do imperialismo insuflam nova energia para avançar na luta contra o capitalismo. Somente a classe trabalhadora, liderando os setores populares, pode levantar uma saída alternativa ao desastre capitalista. Frente à crise e às primeiras respostas da vanguarda, está colocada mais do que nunca a necessidade de avançar na luta pela construção de um partido revolucionário internacional. Um vento fresco sopra do norte para o mundo, em direção a vanguarda operária e juvenil que enfrenta os porta-vozes do capital na Grécia, no Estado espanhol, no Magreb, no Chile e na Colômbia.

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