Segunda 29 de Abril de 2024

Mulher

A 89 anos do assassinato da grande revolucionária polonesa

16 Jan 2006 | O artigo inédito que aqui reproduzimos faz parte de uma obra mis extensa sobre mulheres revolucionárias, de aparição próxima.   |   comentários

"O socialismo deixou de ser um esquema, uma bonita ilusão ou um experimento realizado em cada país por grupos de operários ilhados, cada um deixado a sua própria sorte. Programa político de ação comum para todo o proletariado internacional, o socialismo se torna uma necessidade histórica, resultado do agir das próprias leis do desenvolvimento capitalista .”

Rosa Luxemburgo

O ano era 1871. Dias antes de que os operários franceses proclamassem a Comuna de Paris , em 5 de março, nasceu Rosa Luxemburgo no seio de uma família judia na Polónia, uma mulher cuja vida esteve marcada pela revolução. Nesta época a Alemanha e a Rússia disputavam o território polonês. Em 1874 sua família se mudou para Varsóvia. Para “russificar” o país, o czarismo proibiu que se falasse polonês. O uso clandestino dessa língua se converteu na forma de protesto dos estudantes, as escolas eram núcleos de agitação contra o absolutismo. Já ao terminar seus estudos, a medalha de ouro foi negada à Rosa por conta de sua atividade clandestina. Aos dezesseis anos, Rosa militava no Partido Revolucionário Socialista Proletariat, com influência marxista. Sob o terror czarista, em 1889 foi criada a Federação dos Trabalhadores Polacos, na qual também participou. Uma greve convocada na cidade de Lodz acabou com o massacre de quarenta e seis operários, assassinados pela guarda czarista. A perseguição política obrigou Rosa a exilar-se em Zurich, onde ingressou na universidade.

Rosa e León Jogishes com Proletariat, a Federação de Trabalhadores Poloneses e dois grupos cindidos do Partido Socialista Polonês (PPS) fundaram o novo partido polonês, que em 1893 começou a editar em Paris o periódico Sprawa Robotnizca (A Causa Operária). Rosa tinha somente vinte e dois anos. Quando o partido pediu sua adesão à II Internacional , ela redigiu o informe, revelando sua grande capacidade dirigente. Dessa época é sua teoria de que a autodeterminação dos povos é uma herança da revolução burguesa, não uma tarefa socialista, diferenciando-se de Lênin, que sustentava o direito à autodeterminação das nações oprimidas .

Em 1896, na Silésia, Rosa foi a voz do SPD para a agitação entre os mineiros poloneses, e então, demonstrou a capacidade de transmitir e chegar às massas operárias com uma mensagem revolucionária. Os trabalhadores lhe levavam flores e lhe rogavam que os ajudasse em suas lutas. Em 1903 foi julgada e condenada por insultar ao Kaiser.

1898: Reforma ou Revolução

Em 1898, Rosa escreve “Reforma ou Revolução” , um panfleto polêmico contra as posições reformistas de Eduard Bernstein , um dos dirigentes do SPD. Esta foi sua entrada em cena no partido. Bernstein reivindicava que se poderia obter melhoras para o nível de vida das massas trabalhadoras sem a necessidade de fazer a revolução. Para Rosa, integrante da esquerda da II Internacional, a luta pelas reformas era um meio para conquistar um fim: a conquista do poder pela classe operária. Para Bernstein, pelo contrário, “O objetivo final seja qual for nada é; o movimento é tudo ” . Para ele, nesse momento, na Europa ocidental, não se podia falar de reação: a situação dos operários estava melhorando. As conseqüências de sua caracterização são contundentes. Bernstein constituiu o braço teórico das tendências oportunistas dentro do SPD, que anos depois levaria à traição histórica de votar os créditos de guerra, dando aval ao massacre imperialista.

As idéias de Rosa se difundiram a partir desse trabalho, abrindo uma discussão profunda no seio do SPD e da II Internacional, inclusive chegou a aprovar-se resoluções em repúdio a Bernstein que foram votadas por ele mesmo; porém tão formais que Bernstein e seus aliados permaneceram dentro do SPD. A unidade das distintas alas do partido operário melhor organizado, mantida até a revolução de 1918, teve um custo político enorme: o proletariado alemão se viu privado de uma direção revolucionária decidida, à qual não faltasse a firmeza no momento em que a classe operária estivesse em condições de tomar o poder.

Entre as Guerras e as Revoluções

A revolução russa de 1905 teve também suas repercussões na Polónia oprimida pela Rússia imperial . Começou com a greve geral em repúdio ao massacre do “Domingo Sangrento” . A partir de então se sucederam greves operárias em Varsóvia, Lodz e Sosnovitz pela redução da jornada de trabalho e por aumento de salário na indústria metalúrgica, na construção, telégrafos, tecelagens, tipografias, operários calçadistas, entre muitos outros. Entre uma e outra greve, entre a prisão e o lockout patronal ou estatal, os trabalhadores organizaram os primeiros sindicatos na clandestinidade.

Na II Internacional somente Rosa se interessava pelas questões russas e pela cisão no partido russo que estava afiliado à internacional, o POSDR e, uma vez estourada a revolução, escreve numerosos artigos e pronuncia conferências ante os operários alemães, enquanto a burocracia via com melhores olhos os kadetes e os eseristas . Isso lhe custou uma condenação por incitação à violência e uma temporada na prisão. Ao sair, em dezembro de 1905, se muda clandestinamente para Varsóvia, que encontrava-se e guerra, apesar dos conselhos de seus camaradas de não faze-lo pois era perigoso para uma mulher. Ao chegar realizou uma febril atividade, a pesar de seu frágil estado de saúde: desde a redação de panfletos, artigos e proclamações até empunhar o revólver para obrigar os impressores a editar os materiais de seu partido; desde a participação em greves e manifestações até pronunciar discursos nas portas das fábricas, dizendo que era necessário um levante geral.

Enquanto isso, o czarismo russo, derrotado pelo Japão na guerra, e ante a ação revolucionária das massas, se viu obrigado a reconhecer alguns direitos políticos básicos e teve que convocar eleições. Na divisão que ocorreu no partido russo, entre mencheviques e bolcheviques, Rosa Luxemburgo se manteve eqüidistante. Sua concepção da “organização como processo” se enfrentava à tese leninista da necessidade de um partido dirigente, organizado conforme os princípios do centralismo democrático . Não eram esses os fundamentos da social-democracia alemã, somente preocupada pelos contagens eleitorais. Contra o conservadorismo político dessa organização, Rosa enfatizou o papel das massas operárias em ação, nos passos que eram capazes de dar sem direção consciente. Estava profundamente impressionada pela capacidade revolucionária da classe operária na ação. Cria que as massas tinham que ultrapassar e varrer os dirigentes conservadores e criar organizações revolucionárias novas. Sua postura partia de uma errónea interpretação do conceito de autoemanciapção do proletariado, formulado por Marx: “A emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores” . Este grande revolucionário demonstrou, mediante uma análise económica e social científico que no sistema capitalista a única classe social capaz de revolucionar a sociedade é a classe operária. Porém também chegou a formular que para cumprir esse papel histórico, a classe operária deve ter seu próprio partido, independente da burguesia e da pequena-burguesia. Portanto, a auto-emancipação do proletariado é válida a nível histórico, mas não como estratégia política. Em sua obra “Marxismo contra Ditadura” Rosa escreve “não podem existir departamentos estanques no núcleo proletário consciente, solidamente enquadrado no partido, e as camadas envolventes do proletariado, já adestradas na luta de classes, e entre as quais aumenta cada dia mais, a consciência de classe” . Para ela, as massas covertiam-se em revolucionárias no curso da luta e nesse momento se criavam as condições para que superassem suas direções conservadoras (leia-se, para ela, a social-democracia). Em 1906, o panfleto “Greve de Massas, Partido e Sindicatos” sustenta que “Na mobilização revolucionária das massas, a luta política e a económica se fundem em uma, e a fronteira artificial entre sindicalismo e social-democracia como duas formas de organização do movimento operário independentes entre si é varrida pela maré” .

Rosa concebia a consciência de classe do proletariado com uma conseqüência mecânica de sua situação no modo de produção capitalista. Não compreendeu que entre a consciência histórica do proletariado (encarnada no partido) e sua consciência imediata existe uma situação contraditória. Não contempla as rupturas que se produzem na consciência da classe operária em seu caminho desde as lutas económicas até as lutas políticas, produto de derrotas físicas, de desvios de cooptação das direções e de setores inteiros do proletariado. Subestima o poder da burguesia que detinha o aparato ideológico do Estado encarnado nas escolas, nas universidades, nos meios de comunicação, na Igreja. E superestima a capacidade da classe operária de poder liberar-se da influência desse aparato ideológico por si mesma, apesar das condições de opressão e exploração em que vive. Lênin pelo contrário, concebia o partido revolucionário como a conexão indispensável entre o movimento de massas e a teoria da revolução. A construção do partido deveria ser uma decisão política consciente. Lutou por forjar um partido que reconhecesse que há que se derrotar o capitalismo na luta e compreendesse que a classe operária deveria ser dirigida por uma organização capaz de manter-se de pé sob a pressão do combate, que durante anos se preparasse para o papel que deverá desempenhar nas lutas decisivas, que compreende a necessidade vital de uma organização e direção conscientes. Porém, voltando a Rosa, em 1907, também participou da Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, informando do trabalho da Oficina Socialista Internacional, da qual era a única mulher membro.

Ante os preparativos da Primeira Guerra Mundial, as críticas contra Rosa tomaram as próprias filas do SPD. Era apresentada pela imprensa como “a polonesa sanguinária” . Como testemunho vieram á tona algumas cartas entre Bebel e Adler : “A cachorra raivosa ainda causará muito dano, tanto mais quanto for esperta como um macaco (blizgescheit), enquanto por outro lado carece de todo sentido de responsabilidade e seu único motivo é um desejo quase perverso de auto-justificação” ; “Com todos os jatos de veneno dessa condenada mulher, eu não queria que não estivesse no partido” . Porém também havia camaradas que a admiravam. Disse Ledebour (que não era amigo de Rosa): “A camarda Luxemburgo entrou freqüentemente em conflito comigo... [entretanto], as manifestações de massas contra a guerra e os belicistas, como as que ocorreram não são realização de Muller e do executivo... senão da camarada Luxemburgo, graças a suas críticas” .
Rosa reunia características pouco favoráveis para uma sociedade opressiva e discriminatória: era mulher, judia, deficiente física e estrangeira, porém o que mais contribuiu a que os problemas a perseguissem até dentro de seu partido foi seu espírito revolucionário. Aos vinte e sete anos, replicou os insultos da redação do Vörwarts que censurava seus artigos porque chamavam à greve geral e à insurreição. Acusou os “falsos socialistas” com epítetos como o que segue: “Existem dois tipos de seres vivos, os vertebrados que graças a isso podem andar e, em ocasiões correr, e os invertebrados, que somente podem rastejar e viver como parasitas” .

Nos inícios da Primeira Guerra Mundial, em 4 de agosto de 1914, o bloco de deputados da social-democracia votou quase unanimemente os créditos de guerra, com a honrosa exceção de Karl Liebknecht . A primeira conferência internacional anti-bélica foi organizada por mulheres socialistas. Rosa deveria acompanhar Clara Zetkin para fazer as considerações finais desta conferência, entretanto em 18 de fevereiro de 1915 foi detida. A primeira acusação judicial que lhe foi feita era por incitação à insubordinação das tropas, na qual Rosa acusou o militarismo alemão. O promotor pediu um ano de prisão e o encarceramento imediato; Rosa replicou que se ao promotor lhe condenassem a um ano de prisão, fugiria, porém ela não iria correr: podiam encarcera-la ou fazer com ela o que quisessem porque jamais vacilaria em suas convicções. Sua condenação levantou uma onda de indignação e suas denúncias do militarismo, o rearmamento e a guerra imperialista encontraram cada vez mais auditório. Neste campo, Rosa encontrou a seu aliado mais fiel, Karl Liebknecht, com quem também coincidia no internacionalismo. Juntos criaram, em janeiro de 1916, a fração dentro do partido social-democrata com o nome de Espartaco, em honra ao lendário chefe da rebelião dos escravos romanos.

1918: o ano da revolução alemã

As ondas da revolução russa chegam à Alemanha: começa a revolução em um dos países centrais e a derrubada do regime imperial. Em 28 de janeiro de 1919 se declara a greve geral e se inicia a formação dos Conselhos Operários. O proletariado melhor organizado do mundo havia se lançado à batalha: como nunca antes, estava em jogo o futuro da revolução mundial.

A 31 de janeiro a greve é proibida e se declara estado de sítio. A repressão começou. Em março são presos Rosa Luxemburgo e outros espartaquistas que difundiam a propaganda revolucionária no exército. Entre 15 e 17 de abril se produzem greves de massas em Berlim. Em setembro os dirigentes reformistas do SPD decidem participar no governo. A 1º de outubro a Liga Espartaco realiza uma Conferência Nacional e faz um chamamento a formar Conselhos de Operários. Em 20 de outubro, Liebknecht é libertado da prisão de Luckau e é recebido em Berlim por mais de 20 mil trabalhadores. Em 30 de outubro se produzem os primeiros motins nos barcos da marinha de guerra. São reprimidos e quatrocentos marinheiros são presos. Em 1º de novembro, uma grande assembléia de marinheiros em Kiel exige a liberdade dos detidos. Em 3 de novembro se produzem novos motins e seus dirigentes são presos. A conseqüência é uma marcha que, durante seu percurso, consegue desarmar vários oficiais e diversas patrulhas militares. Também em Munich há uma manifestação revolucionária. Em Kiel novas unidades militares se somam à rebelião: já são vinte mil marinheiros e soldados. Se organizam em Conselhos de Soldados ’ os primeiros da revolução alemã ’ presididos pelo marinheiro Artelt. Os dirigentes revolucionários das grandes empresas fazem um chamamento à greve geral. Em Stuttgart há uma manifestação a favor da República Socialista. No dia 5 toda Kiel está em greve. Todo o poder passa às mãos dos Conselhos de Operários e Soldados. O ministro Noske promete anistia em troca de que tudo volte à normalidade. Em 6 de novembro os operários abandonam as fábricas e, após alguns conflitos com soldados, tomam o controle da cidade. O mesmo sucede em Bremen, Cuxhaven e outras cidades. Ao dia 7, a revolução e a formação de Conselhos de Operários chega a Oldenburg, Rostock, Magdeburg, Halle, Leipzig, Dresden, Chemitz, Düsseldorf, Frankfurt, Stuttgart, Darmstadt e Nüremberg. Friedrich Ebert, dirigente social-democrata, se comunica com o chanceler Max de Balde e lhe diz: “Se o imperador não abdica, a revolução social é inevitável. Eu também não desejo a revolução. Para mim é como um pecado” .

Em Munich, o Conselho de Operários e Soldados vai ao Parlamento, declara o fim da dinastia de Baviera e proclama a República destituindo o governo monárquico. A 9 de novembro a revolução chega a Berlim. A polícia abandona seus postos e os quartéis são abertos às massas, os soldados se mostram neutros ou se unem ao movimento. O chanceler Max de Balde renuncia e Ebert, social-democrata, é nomeado chanceler do reich. Se nomeia um Conselho de Comissários do Povo integrado por seis membros: três do SPD e outros três social-democratas independentes. Os espartaquistas editam esse dia o primeiro número do periódico Die Rote Fahne (Bandeira Vermelha).

No dia 10, Ebert é nomeado chefe do Conselho de Comissários do Povoe e se coloca imediatamente em contato com o Estado Maior para preparar a luta contra o que denominava o “bolchevismo” . Dia 12, o Conselho de Comissários do Povo lança um conjunto de leis que, entre outras coisas, promete a implantação da jornada de trabalho de 8 horas a partir de 1º de janeiro de 1919. No dia 22 os Conselhos de Soldados de Hamburgo decide apoiar o novo governo. Lhes seguem outros conselhos. De 16 a 21 de dezembro se reúne o Primeiro Congresso dos Conselhos de Operários e Soldados da Alemanha.

O programa que os espartaquistas defenderam se baseava em reclamar todo poder aos Conselhos de Operários e Soldados, a dissolução do Conselho de Comissários do Povo presidido por Ebert, o desarme da contra-revolução e dotar de armamento ao proletariado, formando ademais a Guarda Vermelha, e um chamamento internacional aos proletários de todo o mundo para a formação de Conselhos de Operários e Soldados para levar a cabo a revolução socialista mundial. Porém o Congresso adotou o programa social-democrata sem discutir os pontos que reivindicavam os espartaquistas. O programa aprovado se baseava em dar todo o poder ao Conselho de Comissários até que a Assembléia Constituinte estivesse formada, reservando ao Conselho Central dos Conselhos de Operários e Soldados um papel de “supervisão parlamentar” .

Decide-se adiantar as eleições para a Assembléia Constituinte para 19 de janeiro. Enquanto isso, a burguesia tratava de reorganizar suas forças armadas e contra-ataca em várias cidades, formando “Corpos de Segurança” .

Era, sou e serei

A traição da social-democracia se evidenciava plenamente. Então, das mesmas filas espartquistas surge o Partido Comunista Alemão (KPD), o qual se institui num Congresso celebrado entre 30 de dezembro de 1918 e 1º de janeiro de 1919: nascia o primeiro partido comunista em um país economicamente desenvolvido. Rosa foi quem redigiu o programa da nova organização revolucionária que se aprovou no Congresso fundacional.

Em 1º de janeiro é desarmado um dos regimentos revolucionários mais importantes em Bremen. No dia 4 é destituído o chefe de polícia, Eichhorn, membro da ala esquerda os social-democratas independentes. Se sucedem as manifestações contra essa destituição. Dia 5 se forma uma comissão entre os social-democratas independentes e o Partido Comunista para seguir lutando contra a destituição de Eichhorn, com um chamado à greve geral e uma grande manifestação dia 6, às 11 da manhã. Os revolucionários vão ocupando todos os diários.

São outorgados plenos poder a Noske para frear ao movimento. Ele contesta: “Bem. Um de nós deve ser o cão policial. Não temo essa responsabilidade.” . O próprio Noske escreveu mais tarde: “Se as massas houvessem tido chefes decididos, com objetivos claros e precisos, em lugar de pronunciar belos discursos, ao meio-dia daquela jornada seriam completamente donas de Berlim” .

Se realizam greves de solidariedade com os revolucionários berlineses em diversas cidades. Há enfrentamentos nas ruas de Berlim e Spandau. No dia 11, os repórteres locais do diário social-democrata Vorwärts, ocupados pelos revolucionários, são atacados pelas tropas. Noske faz uma demonstração de força desfilando pelas ruas de Berlim. Em 15 de janeiro, Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht foram assassinados por soldados que cumpriam ordens do ministro social-democrata Noske. No dia 25 ocorre enterro de Liebknecht e dos demais combatentes revolucionários assassinados. Porém o cadáver de Rosa ainda não havia aparecido.

No dia 16 fora proibido o diário espartaquista “Bandeira Vermelha” . A partir da celebração das eleições à Assembléia Constituinte, a 19 de janeiro o governo se consolida, enquanto é retirado o poder dos conselhos. De 20 a 23 de janeiro se produzem greves de protesto contra o assassinato de Rosa e Liebknecht. No dia 23, o governo declara o estado de sítio em Hamburgo. Em 23 de março é declarada a greve geral em Berlim, reclamando o reconhecimento dos Conselhos de Operários e Soldados, a liberdade e a ilegitimidade de todos os presos políticos, a formação de uma Guarda Operária Revolucionária e a dissolução das forças repressivas, além do estabelecimento de relações económicas e políticas com a Rússia revolucionária. O governo declara o estado de sítio, que continuaria até 5 de dezembro. Se dão choques armados em Berlim até o dia 6, em que as tropas de Noske ocupam a prefeitura. Fracassa a greve geral e se retoma o trabalho em toda a Alemanha central a partir do dia 8. No dia 10 Leo Jogishes é preso e a polícia anuncia que havia morrido ao tentar fugir. Novos combates se produzem entre 15 e 18 de abril, dia em que as tropas causam mil e duzentos mortos ao disparar contra as manifestações de marinheiros e trabalhadores. A 31 de março se encontra o cadáver de Rosa Luxemburgo.

O Partido Comunista e todas suas publicações são proibidas. Ao longo de 1919 se sucedem as lutas e as greves cada vez mais enfrentadas a um ambiente de maior repressão e perseguição por parte do governo e as tropas de Noske. A 7 de abril se proclama a República dos Conselhos da Baviera, que dura até 4 de maio, quando as tropas de Noske penetram em Munich e desencadeiam feroz repressão. São fuziladas dezenas de dirigentes e militantes revolucionários. A repressão se prolonga até junho. As lutas acabaram com o fim da greve dos metalúrgicos de Berlim em 11 de novembro.

A 5 de dezembro se levanta o estado de sítio em Berlim. A revolução foi derrotada, porém não morreu: o primeiro estado operário da História, a União Soviética, não pode contar com o vital auxílio do proletariado alemão, um dos mais fortes da Europa. Não contou nem com sua capacidade tecnológica nem com sua cultura.

Os dirigentes mais reconhecidos desta revolução Alemã foram Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht. Junto a eles caíram nas ruas milhares de operários revolucionários; outros inauguraram os primeiros campos de concentração. Dizem que entretanto se repete uma pichação nos muros dos bairros operários alemães, que é muito habitual: "Trotzalledem!" (Adiante, apesar de tudo!), a frase que pronunciou Liebknecht ao inteirar-se das ameaças de morte que pendiam sobre eles.
Não morreram em vão. As lições da revolução alemã e seus protagonistas contribuíram para a emancipação do proletariado mundial. Porém há quem tomamos a grandeza na luta por uma sociedade sem exploração nem opressão. Em nossos ouvidos ainda ressoam as palavras finais do artigo “A Ordem Reina em Berlim!” , escrito por essa pequena mulher que foi uma revolucionária gigante, Rosa Luxemburgo, na véspera de seu assassinato: “A ordem reina em Berlim! estúpidos carrascos mercenários! Não reparastes em que a vossa ”˜ordem”™ está a alçar-se sobre a areia. A revolução alçará-se amanhã com a sua vitória e o terror pintará-se nos vossos rostos ao ouvir-lhe anunciar com todas as suas trombetas: ERA, SOU E SEREI!”

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