Sexta 26 de Abril de 2024

Nacional

Greve das Universidades Estaduais Paulistas

05 Jul 2004   |   comentários

A greve das três universidades paulistas (USP, Unesp e Unicamp), desde 27 de maio, vem enfrentando a intransigência dos reitores e do governo Alckmin, que negam o atendimento das reivindicações em todas as negociações realizadas e, nos últimos dias, aplicam a tática de dividir e isolar os funcionários da USP em relação aos professores e estudantes das três universidades.

Os reitores da USP, Unesp e Unicamp pretendiam encerrar a greve dos funcionários antes do início do mês de julho. Para isso, usaram diversas manobras. Primeiro, na penúltima semana de junho, ameaçaram romper as negociações com a chantagem de exigir uma contraproposta dos grevistas, mesmo depois de ter respondido com seis zeros em seis negociações. Desmascarando sua chantagem, o Cruesp (Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas) rejeitou a contraproposta apresentada e negou qualquer negociação. O reitor da USP, Melfi, lançou uma ofensiva contra a forte greve dos funcionários e utilizou a polícia e a guarda universitária para desmontar o piquete no prédio da reitoria.

O Cruesp ’ como todo patrão que sabe que enfrenta uma guerra contra os trabalhadores ’ avaliou a situação, a greve nas três universidades e nos três segmentos, procurando as brechas para atuar com a estratégia de derrotar a greve sem atender as reivindicações, criando as condições para perseguir os grevistas. Ciente de que a greve na Unicamp sempre foi mais fraca, por política da direção do Sindicato dos Trabalhadores (dirigido pelo PCdoB) e da Adunicamp, que têm colocado todos os freios possíveis para impedir uma forte greve que se ligasse aos movimentos avançados da USP e da Unesp. Esta última vinha sofrendo um desgaste, por ter começado antes e também porque não se firmou uma verdadeira unidade com os funcionários da USP.

A situação política na USP, com a forte greve de funcionários, abriu uma crise em que o reitor Melfi e sua camarilha mostramse cada vez mais distantes e contrários aos interesses de professores, funcionários e estudantes e da defesa da universidade pública e gratuita. Já é comum ouvir um sonoro “Fora Melfi” , demonstrando que a forte greve da USP pode e deve ser a base de sustentação da unidade dos três setores e das três universidades para conquistar as reivindicações salariais e estudantis e aproveitar a greve para derrotar o poder monárquico dos reitores, impondo a democratização da universidade através das eleições diretas, universais e proporcionais para reitor e todos os cargos como condição para a real defesa da universidade pública contra os planos de privatização aplicado pelos reitores a mando do governador Alckmin e em consonância com a proposta de reforma universitária do governo capitalista de LulaAlencar.

Para lutar pela vitória dessa greve e a defesa das universidades públicas e gratuitas, o caminho é se apoiar nas bases mais fortes e sólidas que se encontram na greve dos funcionários da USP, que tem demonstrado claros sinais de avanço político, disposição de luta e capacidade para enfrentar as manobras e ataques do Cruesp e do reitor Melfi.

Funcionários da USP capital dão o exemplo

A greve dos funcionários da USP, desde o primeiro dia, já atingia mais de 70% e 35 unidades, muitas delas mostrando um alto grau de politização, participação e disposição. Mesmo a grande e forte greve de 2000 (57 dias) não tinha mostrado tanta combatividade, tanta vontade e decisão como agora.

Pela primeira vez, os restaurantes foram paralisados sem a necessidade de piquetes, com adesão total. Assim também na Coseas de conjunto ’ creches, promoção social etc. Os funcionários dos restaurantes vêm atuando com firmeza, participando das principais atividades da greve, garantindo a participação efetiva dos funcionários em suas reuniões de unidade, onde debatem e decidem suas posições para apresentar nas assembléias gerais.

Outro ponto alto indicador de que essa é uma greve especial, pode ser visto na politização das decisões dos trabalhadores da prefeitura do campus (PCO). Foi emocionante ouvir um funcionário da prefeitura tomar o microfone para dizer que “decidimos, na prefeitura, que se a guarda universitária ou a polícia fizerem qualquer coisa contra qualquer grevista vamos impedi-los de entrar na prefeitura para trocar de roupa e abastecer as viaturas” . Esses valorosos companheiros votaram, já no primeiro dia de greve, uma resolução digna dos mais combativos movimentos de trabalhadores, assumindo um compromisso de responsabilidade de classe desses funcionários para com todos os grevistas. E essa decisão não foi mera promessa, pois quando a guarda universitária ’ no trancaço do portão principal ’ fez o seu papel de polícia e fotografou os manifestantes, os companheiros da prefeitura fizeram cumprir sua decisão: a partir desse dia a guarda universitária e a polícia não mais entraram na prefeitura. Demonstrando um grande avanço político, esses funcionários da prefeitura aprovaram em sua assembléia de unidade a exigência de “Fora a Polícia do campus” .

A politização, participação e democracia desses funcionários ’ principalmente entre os que ganham os menores salários e têm os trabalhos mais pesados ’ mostra que nesta greve os alicerces são muito mais fortes e sólidos e podem levar à vitória, derrotando as manobras dos reitores e do reitor Melfi, buscando o atendimento das reivindicações económicas e políticas de funcionários, professores e estudantes das três universidades.

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