Quinta 2 de Maio de 2024

Nacional

PSTU LANÇA A PRÉ-CANDIDATURA DE ZÉ MARIA

Faz falta uma frente classista e socialista para lutar

26 Nov 2009   |   comentários

A débil e parcial recuperação da economia mundial no último período deu lugar a um discurso por parte do governo Lula e do PT de que o pior ficou para trás e de que o Brasil estaria retomando o rumo do crescimento. Isso não é verdade. Nenhuma das profundas contradições que levaram à crise foram superadas, e até mesmo essa débil recuperação está se dando em base a demissões massivas e aumento da exploração dos trabalhadores em todo o mundo, inclusive no Brasil. A única resposta que o capitalismo tem para sua crise são ataques cada vez mais profundos aos trabalhadores e aos povos oprimidos, como mostrou o golpe em Honduras e o fechamento da empresa estatal de energia no México. Nesse marco, são ainda iniciais as respostas que o movimento de massas começa dar, como a resistência massiva ao golpe em Honduras que foi derrotada pela traição de Zelaya, a também massiva resistência dos operários mexicanos que seguem em pé de guerra contra o governo Calderón, ou a histórica greve da Kraft na Argentina, que fez o movimento operário aparecer como sujeito na política nacional daquele país.

No Brasil a crise ainda não se manifestou em toda a sua profundidade e o governo Lula se apóia nos planos assistencialistas e no atrelamento das organizações de massas ao seu governo para evitar uma resposta às demissões em massa do inicio do ano e final de 2008 ou ao aumento da exploração. Mesmo assim, as greves salariais deste segundo semestre, a revolta anti-burocrática dos trabalhadores dos correios e o exemplo da Conlutas rompendo o teto salarial que a CUT negociava com a patronal, mostram que é possível se dirigir à base das organizações de massas em defesa de uma política combativa contra as demissões e o aumento da exploração. As medidas repressivas de Serra contra o movimento sindical em São Paulo (contra o Sintusp e agora contra a oposição na Sabesp) e a ofensiva nacional contra o MST, são também movimentações iniciais da burguesia, que Lula deixa correr para disciplinar setores combativos dos trabalhadores e do povo pobre.

Nesse quadro, é indispensável começar a articular uma frente classista e socialista. Uma frente que se construa desde já levantando um programa para intervir nos processos de luta, influir sobre a base da CUT e das demais centrais, lutar para barrar as demissões retomando com tudo a bandeira pela recontratação dos demitidos da Embraer, defender o MST e todos os setores que estão sendo atacados e denunciando o verdadeiro caráter capitalista e pró-imperialista do governo Lula. E também para intervir nas eleições de 2010 e ajudar os trabalhadores a se preparar para uma situação política muito mais instável no “pós-Lula”, em que nem Dilma, nem Serra, nem quem quer que seja eleito terá as mesmas condições de Lula para disciplinar as organizações de massas e conter a luta de classes

Na atual situação das correntes que se reivindicam classistas e revolucionárias no Brasil, o PSTU seria hoje a única organização em situação capaz de impulsionar a frente classista de que necessitam os trabalhadores, aglutinando organizações e sindicatos combativos capazes de representar uma alternativa de independência de classe ao governo Lula e a oposição burguesa e também a projetos centro-esquerdistas como o de Marina da Silva e o PSOL. Uma frente que seja uma alternativa à política de centro-esquerda que encabeça o PSOL, que coloque no centro a independência política da classe operária e lute contra esse projeto de conciliação de classes expressado de múltiplas maneiras: receber grana dos capitalistas, ter programa desenvolvimentista que inclui a demanda da FIESP de redução dos juros, ter apoiado o super simples contra os trabalhadores, ter feito alianças eleitorais com partidos burgueses como o PV e o PDT. A classe operária necessita uma frente que expresse seus interesses de classe. O lançamento da pré-candidatura de Zé Maria poderia expressar tudo isso, no entanto, não vai nesse sentido. Ao lançar Zé Maria como pré-candidato, mantendo o chamado a que o PSOL e HH encabecem uma “frente de esquerda”, o PSTU mostra que não está seguindo o rumo da construção de uma frente classista, e sim lançando mão de uma espécie de último recurso para pressionar o PSOL pela reedição da Frente de Esquerda, melhor dizendo, de centro-esquerda, e negociar em melhores condições sua participação e a possível vaga de vice.

Heloisa Helena e o PSOL não são alternativa para os trabalhadores

Em nossa opinião, nenhuma candidatura encabeçada por HH ou por qualquer figura do PSOL pode ser favorável aos trabalhadores. Ao manter o chamado ao PSOL, o PSTU separa as táticas da estratégia, abandona a independência de classe e acaba concebendo a unidade com o PSOL como numa questão de estratégia, que vai contra a mais elementar posição classista. Para nós, as táticas de como influir sobre setores da base do PSOL, principalmente num momento em que se abriram vários debates, devem estar determinadas pela estratégia da independência de classe para enfrentar o governo Lula, a oposição burguesa e a patronal e avançar na reorganização do movimento operário.

O PSOL, como apontamos desde a sua fundação, já nasceu para a conciliação de classes. Sua evolução política no último período aprofundou essa definição. O PSOL avançou ainda mais num curso centro-esquerdista e de completa integração ao regime burguês, dando mostras de um eleitoralismo despudorado, ao fazer de tudo para conseguir o seu espaço eleitoral em setores das classes médias que se opõe ao governo Lula e manter seus cargos parlamentares nas próximas eleições. Esse partido chegou ao cúmulo de apresentar um delegado da Polícia Federal (que agora se filiou ao PCdoB) como o grande paladino da ética. Heloísa Helena, como o próprio PSTU denuncia, está apoiando abertamente Marina da Silva, que tem como aliados capitalistas “verdes” como o presidente da Natura, o que não é nenhum escândalo para quem aceitou ser financiado pela Gerdau. Como se não bastasse, até no escândalo da farra das passagens aéreas Heloísa Helena e os parlamentares do PSOL estiveram envolvidos. O caminho que o PT levou mais de uma década para percorrer, o PSOL trilhou em poucos anos. É possível apresentar uma frente com esse tipo de partido como alternativa, seja socialista ou seja de esquerda, aos trabalhadores? Obviamente que não, e não há nenhuma consideração tática que possa apagar essa questão fundamental, pois independência de classe não é apenas uma questão de alianças eleitorais, mas de programas e políticas concretas. Mesmo que a direção do PSOL resolva retroceder do apoio aberto ao PV, isso não muda o rumo deste partido, de total integração à democracia dos ricos no Brasil. Os trabalhadores necessitam uma frente de trabalhadores pela independência de classe e não uma frente de centro-esquerda pela conciliação de classes, essa é a discussão.

Um erro comum dos dirigentes do PSTU é comparar a frente única que a III Internacional chamava fazer com os partidos reformistas da II Internacional, com a política de unidade com o PSOL. Na Inglaterra, para retomar o exemplo de tática eleitoral que Lenin propunha no seu já clássico “Esquerdismo, doença infantil do comunismo”, tratava-se de uma frente com um partido que dirigia a grande maioria dos operários ingleses e os principais sindicatos do país eram diretamente filiados ao Partido Laborista e o sustentava financeiramente. Nessas condições Lenin levantava uma política para esse partido de base operária, chamando a unidade das fileiras operárias contra todos os partidos da burguesia, numa situação de ascenso revolucionário em nível internacional. Uma tática que se bem aplicada tornaria impossível para a direção traidora isolar os revolucionários da base operária do partido trabalhista num momento de ascenso. Qual comparação pode ser feita entre essa política e a de unidade com o PSOL?

Construir uma frente classista e socialista na luta dos trabalhadores

A única política que consideramos correta e que permitiria influir sobre setores de esquerda da base do PSOL a partir de posições de independência de classe, seria lançar já, nesse momento, um chamado à construção de uma frente classista e socialista, colocando os revolucionários na ofensiva para construí-la entre os setores de trabalhadores que se colocam em luta. Apresentando massivamente nas fábricas, universidades e locais de trabalho um programa classista e reunindo como parte desta frente setores combativos, sindicatos, organizações de luta, ativistas. Essa frente deveria ser construída como instrumento de combate, para unificar e coordenar as lutas e não apenas como uma frente eleitoral. Seria possível armar um amplo setor de trabalhadores com um programa que seja uma alternativa operária diante da crise capitalista, defendendo a repartição das horas de trabalho sem redução salarial para unificar empregados e desempregados, retomando a luta pela readmissão dos demitidos na Embraer, defendendo a unidade das fileiras operárias entre efetivos, temporários e terceirizados, não como pontos de propaganda mas como medidas concretas a serem incorporadas nas lutas e campanhas salariais, ajudando os trabalhadores a se elevarem da luta salarial à luta política.

Seria possível, se a direção do PSTU corrigisse seu rumo, construir uma frente classista composta por esse partido e pelos sindicatos combativos de todo o país e a partir daí chamar as correntes internas do PSOL críticas à política da sua direção a se posicionarem e apoiarem. Para construir uma frente classista e socialista nesses moldes, encabeçada por Zé Maria, colocaríamos, humildemente, toda a força de nossa pequena liga de propaganda e ação.

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