Quarta 8 de Maio de 2024

Teoria

Estratégia Internacional Brasil 4: Leia e Difunda!

24 Jun 2009   |   comentários

Este número da revista Estratégia Internacional Brasil 4 se reveste de especial importância pelo momento em que vem a público, marcado pela crise capitalista internacional. As elaborações ali apresentadas são a síntese viva das principais reflexões que a Fração Trotskista ’ Quarta Internacional vem realizando, no esforço para resgatar as melhores tradições do marxismo revolucionário e colocá-los a prova na realidade. Assim, como se coloca na definição presente no artigo elaborado por Juan Chingo dedicado a analisar o desenvolvimento da crise capitalista em curso, O Capitalismo Mundial numa Crise Histórica, dizer que a presente crise económica é histórica não é um recurso literário, mas a constatação materialista do fim do padrão de crescimento económico sobre o qual o capitalismo se sustentou nos países centrais durante todo o último ciclo. A presente crise económica é histórica por que combina uma profunda crise financeira que arrasta o conjunto do sistema mundial, levando a quebras bancárias e à tendência de contágio nunca antes vista, com um golpe à chamada “economia real” , que já está custando aos trabalhadores e às massas de diversos países, sobretudo no centro do capitalismo internacional, mais penúrias e sofrimentos. É histórica por que ataca o coração do sistema capitalista, não mais se restrigindo à sua periferia. É histórica porque fecha o “momento unipolar” de dominação dos EUA sobre o mundo após a derrocada da URSS aprofundando as contradições do capitalismo como sistema; porque é mais uma faceta da decadência do imperialismo norte-americano, e do impasse estratégico que isso gera em âmbito internacional, de um momento marcado pela “não mais” dominação indiscutida dos EUA, e pelo “ainda não” surgimento de um novo equilíbrio de forças internacional.

É histórica, sobretudo, porque traz à tona as contradições mais profundas, estruturais, do modo capitalista de produção, e de esgotamento do capitalismo como sistema social capaz de fazer progredir as forças produtivas da humanidade ’ crise esta que foi apenas momentaneamente “superada” durante o boom económico do pós-guerra (possível graças à destruição prévia, em escala inédita) e que após a grande crise dos anos 1970 foi “empurrada para frente” através dos ataques sistemáticos à classe trabalhadora e pela invenção de mecanismos aparentemente infinitos de especulação financeira. Porque mostra, enfim, que a era da globalização não póde escapar do avanço da contradição entre a produção crescentemente social e a existência de fronteiras nacionais, condição sine qua non para a garantia da apropriação privada da riqueza produzida pelos trabalhadores ao redor do mundo.

Portanto, torna-se mais claro que a burguesia está levando o mundo à bancarrota. Resta que se evidencie com a mesma força que é a classe trabalhadora a que pode dar uma saída de fundo para esta situação, e evitar que novamente a burguesia arraste a humanidade para sofrimentos inauditos em nome de manter sua dominação. Para tal é preciso que avancemos na compreensão profunda da realidade que hoje se desenvolve diante de nossos olhos, mas não apenas com interesse intelectual, senão que unindo este interesse, decerto vital, com a energia necessária para ajudar aquele que deve ser sujeito a tomar este papel: a classe trabalhadora.

Entretanto, sabemos que para que esta perspectiva se efetive é preciso que todos os que colocam suas forças na construção de organizações que se localizam no âmbito do combate marxista revolucionário se elevem a um novo marco estratégico. Está na ordem do dia resgatar e preencher de significado à luz dos novos desafios colocados pela realidade as discussões fundamentais sobre tática, programa e partido. Precisamos tirar as lições das experiências passadas e atualizá-las de modo a restituir o programa em linhas gerais elaborados por Leon Trotsky em 1938 no Programa de Transição como orientador vivo, e não dogmático, a ser incorporado pelos trabalhadores em seu combate cotidiano. Esta perspectiva se concretiza, decerto, na luta, hoje mais necessária do que nunca, pela reconstrução da IV Internacional, como organização mundial da revolução. Esta luta deve começar pela consciência plena de que tal tarefa se tomada com seriedade supera o desenvolvimento evolutivo de qualquer organizaçÃo existente. Tampouco alcançaremos o objetivo da emancipação da classe trabalhadora, sem uma análise crítica de todas as práticas marcadas pela estratégia de desgaste, que não ultrapassa os limites da ação meramente sindicalista combinada com a orientação eleitoreira ainda que acompanhada de verborragia socialista. É preciso abrir uma reflexão séria sobre como responder à crise de subjetividade da classe operária, que faz com que ainda hoje esta responda num nível muito inferior ao grau de ataques que já começam a ser desferidos pela burguesia, e como recompor a estratégia revolucionária à luz da realidade que se abre. Como FT-QI apresentamos no artigo elaborado por Emílio Albamonte Apontamentos sobre a crise capitalista em curso, e a reconstrução da IV Internacional, uma discussão orientada às demais organizações que se reivindicam como parte do marxismo revolucionário, que aponta neste sentido.

Estes desafios se complementam pela necessidade de uma compreensão profunda sobre os temas nacionais, sobretudo sobre as vias para aportar à recomposição subjetiva e política do movimento operário. Num esforço para responder aos desafios abertos frente a situação de crise capitalista, em no entanto, que prima uma alta popularidade de Lula, publicamos uma entrevista com Claudionor Brandão, dirigente trotskista da LER-QI e do SINTUSP, que busca apontar os elementos para um programa efetivo em fazer com que a classe trabalhadora obrigue que sejam os patrões os que paguem com seus lucros por esta crise,e que vem encabeçando uma grande campanha democrática contra a perseguição política realizada pela reitoria na USP, que chegou ao ponto de demiti-lo ilegalmente no final do ano passado.

Trazemos também uma elaboração de Gilson Dantas, intelectual trotskista simpatizante da LER-QI e da FT-QI, que colabora com este número com o artigo Estatística da miséria, e miséria da estatística. E, complementando os artigos dedicados à discussão sobre o Brasil, publicamos artigo de Thiago Flame que desmascara as visões ufanistas de ampla gama de analistas brasileiros que defendem uma visão de que o Brasil estaria profundamente amparado pela sua condição económica para atravessar a crise atual, propaganda hoje renovada por conta da melhora de alguns índices económicos em meio à crise. Demonstrando como a composição das principais empresas nacionais é profundamente dependente do capital estrangeiro, O Brasil frente à crise económica aborda em quais condições reais o país chega à crise. Além disso, trazemos elaborações sobre a situação européia e latino-americana.
Mais que uma publicação analítica, esperamos que esta edição da revista Estratégia Internacional Brasil 4, seja um pequeno aporte no sentido de elucidar os desafios teóricos, programáticos e estratégicos em nome da emancipação da classe trabalhadora e dos povos oprimidos.

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