Sexta 26 de Abril de 2024

Internacional

Outro aliado de Washington em problemas, um autogolpe militar com cumplicidade dos EUA

Estado de Emergência no Paquistão

09 Nov 2007   |   comentários

O general Pervez Musharraf, um aliado chave dos EUA em sua suposta “guerra contra o terrorismo” decretou no dia 03/11 o estado de emergência. Este general que subiu ao poder após um golpe de Estado em 1999 suspendeu indefinidamente a constituição o direito de liberdade de expressão, de reunião, e associação e livre movimento, retirando a autoridade das cortes constitucionais de ditar ordens contra ele mesmo como presidente, o primeiro-ministro e todo aquele que fale em seu nome; impós uma rigorosa censura à imprensa, e introduziu duras penas contra o “crime” de “ridicularizar” o presidente, as forças armadas ou qualquer outro órgão executivo, legislativo ou judiciário.
Musharraf também destituiu o chefe da Corte Suprema, Muhammad Chaudhry, que deveria deliberar (provavelmente em forma negativa) sobre a legalidade da reeleição presidencial de Musharraf de 6 de outubro. O general-presidente obteve esta reeleição por sufrágio indireto, em um momento em que sua popularidade está em plena decadência.

A cumplicidade dos EUA

Este segundo golpe de Musharraf tem sido avalizado pela administração Bush, pelo governo trabalhista britânico, e outros poderes ocidentais. A secretária de estado, Condoleezza Rice, enquanto descrevia a declaração do estado de emergência como “altamente lamentável” , reafirmava que Washington seguiria cooperando com o regime militar paquistanês. A reação do Pentágono foi ainda mais moderada, com seu porta-voz declarando que o estado de emergência “...não impacta em nosso apoio militar aos esforços do Paquistão na guerra contra o terror” .

Estas plácidas reações contrastam com a vigorosa denúncia contra a junta militar birmane (um aliado da China) e sua violenta supressão das manifestações contra o aumento dos preços da gasolina e a falta de liberdades democráticas no mês passado. O que explica isso é que o regime do Paquistão é um aliado chave de Washington em sua política na à sia Central e Oriente Médio. Musharraf deu apoio logístico às invasões e ocupações do Afeganistão e Iraque, além de ter provido as agências de inteligência norte-americanas com centros para a prática de torturas. Além disso, conta com armas nucleares que poderia cair nas mãos dos grupos islamitas, um dos maiores pesadelos do Ocidente.
Assim, os EUA e seus aliados não retirarão seu apoio a Musharraf. Ao contrário, o aumentarão ’ como parecem ter feito com êxito ainda que haja declarações contraditórias dos porta-vozes do regime ’ até que comece a reconstruir uma fachada de constitucionalismo.

Uma situação extremamente convulsiva

O estado de emergência é um ato desesperado de um regime que está perdendo o controle da situação. Este regime militar manteve um equilíbrio difícil: enquanto se representava como um dos baluartes da “guerra contra o terrorismo” de Bush, lançava limitados ataques contra os fundamentalistas islâmicos em seu território. Neste sentido, o massacre da Mesquita Vermelha marca um ponto de inflexão na relação dos militares com o islamismo político. Dois fatores se combinaram para este giro. Em primeiro lugar, a suspensão do chefe do Tribunal Supremo, Chaudry, abriu espaço para um vasto movimento de massas contra o governo. Este movimento revigorou os partidos políticos burgueses, os quais incorporando-se às mobilizações encabeçadas pelos magistrados e advogados, chegaram inclusive a chamar greves de massas após os ataques armados dos partidários semifascistas de Musharraf. Este movimento fez o governo recuar, reinstalando o chefe de justiça suspenso. O segundo elemento foi a pressão dos EUA contra a continuidade do uso das fronteiras do norte do Paquistão como base de operações das forças que lutam contra a ocupação da OTAN no Afeganistão. Frente a esta crescente oposição interna e às dúvidas em Washington sobre sua capacidade ou vontade de conduzir a “guerra contra o terrorismo” em seu próprio território, é que o regime se viu obrigado a um confronto com os fundamentalistas islâmicos.

Com estas ações, Musharraf tratava de ganhar a simpatia norte-americana, uma vez que se abriria ao Partido Popular do Paquistão de Benzair Bhuto, ex-presidente do país e a favorita dos EUA e da UE para desviar a ação das massas a uma “contra-revolução democrática” . Entretanto, o custo deste giro foi uma maior desestabilização que ameaça estender a guerra civil ao conjunto do país, como demonstra a série de atentados suicidas, expressão da crescente oposição ao regime da maioria da elite religiosa. Com as recentes medidas de emergência, Musharraf isolou as classes médias e profissionais educadas, apostando no apoio dos militares e na sua coesão interna como única via para conservar o poder.

Para Washington o estado de exceção imposto pelo presidente paquistanês ameaça se voltar contra ele, avivando o descontentamento da população contra o Exército ’ o principal sustentador do Estado paquistanês dado seu caráter fragmentado como nação ’ e o conjunto da burguesia pasquitanesa, além de multiplicar os atentados extremistas próximos à Al Qaeda. Era isso o que havia tratado de prevenir promovendo o acordo com o partido populista de Bhuto, a qual já em duas ocasiões salvou os militares do ódio da população preservando a autoridade bueguesa, quando as ditaduras sustentadas pelos EUA colapsaram. O fracasso desta saída complica os planos dos EUA na região, vendo outro de seus aliados iniciar um jogo contra seus desígnios, como é o caso da Turquia em relação à guerra do Iraque.

Artigos relacionados: Internacional









  • Não há comentários para este artigo