Domingo 5 de Maio de 2024

Juventude

USP

Era uma vez um V Congresso da USP...

14 May 2008   |   comentários

Já se foram 4 congressos da USP (1980, 1984, 1987 e 2000) e a USP continua a mesma. O regime universitário é uma verdadeira ditadura docente. O acesso é cada vez mais para uma elite com um vestibular cada vez mais difícil. O ensino e a pesquisa são cada vez mais direcionados para o capital. Os trabalhadores e negros seguem ameaçados de extinção e só podem entrar na USP como funcionários, que por sua vez são cada vez mais terceirizados e precarizados.

A luta de 2007 parecia abrir uma nova perspectiva, com os estudantes rompendo as amarras da paródia de “movimento estudantil” até então existente. Foi devido à aliança com os funcionários da USP que os estudantes reivindicaram e conquistaram um Congresso que teria um caráter estatuinte. A Adusp e o atual DCE, ao contrário, foram durante toda a ocupação e a greve não mais que um grande obstáculo a obter essa e qualquer outra conquista. Mas o pior é que os burocratas da Adusp e do DCE conseguiram controlar burocraticamente todo o processo de construção do V Congresso, expropriando a conquista dos estudantes e funcionários. O resultado é que temos um V Congresso que longe de poder se transformar numa trincheira de luta contra a reitoria, se transformou num acontecimento completamente funcional à ela que, “democraticamente” , está cedendo toda a estrutura para realizar mais um Congresso (o V!) inofensivo.

Reitoria, aristocracia docente e burocracia estudantil

A reitoria da USP precisou se movimentar pouco para que tudo desse certo, pois contou com seus agentes dentro do movimento: Adusp e DCE (a nobreza e o clero). Vejamos algumas das suas posições mais absurdas.

Absurdo nº 1: A falácia da “paridade” ’ o Sintusp foi o único a defender durante todo o processo a proporcionalidade, ou seja, que o voto de cada estudante, funcionário ou professores tivesse o mesmo peso. É compreensível que a burocracia acadêmica, para manter seus privilégios, imponha um regime universitário que seja mais atrasado do que a Revolução Francesa estabeleceu há mais de 200 anos. Porém, é um atraso lastimável que dentro do movimento sigam essas diferenciações, impedindo a democracia mais elementar. Além disso, esta é a via para que a maioria de estudantes e funcionários da USP tenham uma representação digna do papel destacado que cumpriram (diferentemente da Adusp) em todas as mobilizações em defesa da universidade.

Absurdo nº 2: Os trabalhadores.... que trabalhem! ’A reitoria não quer liberar os funcionários na semana do Congresso. Até aí, normal. Mas a diretoria da Adusp também votou contra! Isso mesmo: um boicote claro à categoria historicamente mais radicalizada da USP. A aristocracia necessita de seus escravos, que não podem opinar politicamente, para que limpem o chão de sua sala, seu banheiro, que organizem seus documentos, que cortem sua grama..... Caiu a máscara da “paridade” da Adusp e DCE.

Absurdo nº 3: nada de estatuinte ’ um congresso que deveria servir para questionar a ditadura docente controlada pelas garras do governador do estado abandonou completamente essa perspectiva. Não haverá mais do que discussão sobre “diretrizes” e nenhuma discussão séria sobre um plano de ação por nossas demandas que só podem ser impostos pela força da mobilização, única maneira de transformar essa universidade elitista e racista. Ou seja, será um congresso academicista e burocrático que vai ser mais um a entrar para os arquivos da inofensiva história dos congressos da USP.

Vamos parar por aqui, mas poderíamos falar de outros absurdos: a completa ausência de qualquer iniciativa contra a repressão por parte da Adusp e do DCE, que chegaram a defender que o Congresso fosse fechado aos delegados e queria impedir o direito a voz (!) dos ouvintes; a falta de discussão na base em toda a preparação, ao ponto de na assembléia estudantil que definiu tudo sobre o Congresso ter sido vetada a voz (!) para a oposição; a FFLCH, que foi o principal centro da greve, terá pouco mais que 15 (!) delegados......

Por isso dizemos que querem um Congresso totalmente burocrático, massacrando as posições combativas do Sintusp que foi derrotado como minoria durante todo o processo e agora ainda tem que aceitar que os mandem trabalhar. A reitoria pode ficar tranqüila porque conta com as dóceis mãos burocráticas e anti-operárias da ADUSP e do DCE. A reacionária aristocracia trabalha para a reitoria, em tanto a burocracia estudantil lustra suas botas.

Unidade operária estudantil, para enfrentar à aristocracia docente e burocracia estudantil

Chamamos todos os estudantes combativos (e a parcela minoritária combativa da casta docente) a travar um combate unificado contra a burocracia docente e estudantil e a se aliar aos funcionários da USP, que é a categoria que travou uma luta para que fosse um congresso estatuinte de luta e independente da burocracia acadêmica.

Em primeiro lugar, chamamos todos a repudiarem veementemente a possibilidade de não liberação dos funcionários e de veto à voz dos ouvintes nas plenárias, que já seria para competir com o Conselho Universitário da USP em patamar de burocratismo. Caso a Adusp e o DCE não retrocedam nesses pontos, chamamos a boicotar ativamente esse “congresso” . Caso concedam a “carta de alforria” , ainda assim chamamos a não ter nenhuma ilusão nesse congresso e a não compactuar com a política da burocracia que só serve à reitoria.

Nos juntemos num pólo que represente o rechaço a essa política, que possa ser representado por uma chapa de protesto, anti-burocrática e aliada aos trabalhadores. Chamamos os companheiros do PSTU a romper com sua política de adaptação ao DCE e por essa via a este Congresso, e a somar-se à barricada dos setores combativos junto aos trabalhadores. Chamamos também os independentes combativos a formar esse pólo, que se expresse numa tese conjunta, que denuncie toda a burocracia da Adusp e do DCE. Atuemos na perspectiva de impedir toda essa operação burocrática que pretende expropriar o que conquistamos na greve do ano passado, preparando a luta por um real Congresso estatuinte verdadeiramente democrático, de luta e independente da nobreza e o clero.

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