Segunda 29 de Abril de 2024

Juventude

ELEIÇÕES ESTUDANTIS

Entre o velho e o novo movimento estudantil

09 Nov 2009   |   comentários

Por: Tati

Desde 2007 as lutas estudantis mobilizaram milhares de estudantes, re-inauguraram o método da ocupação, se enfrentaram com a burocracia estudantil, as autoridades universitárias e os governos. A maioria das lutas não tiveram vitórias, mas deixaram importantes lições. O que menos mudou em todo este processo foi a atuação da esquerda nas entidades estudantis e, em decorrência disso, a manutenção do afastamento destas em relação ao conjunto dos estudantes. Apesar de que este é um discurso propagado por toda e qualquer chapa em eleições estudantis, não se transforma em uma nova prática política capaz de atrair os estudantes e forjar um novo movimento estudantil.
A grande maioria do PSOL atua no movimento estudantil como uma nova burocracia, ocupando o velho espaço do PT e PCdoB. O PSTU, ainda que se proponha construir um novo movimento estudantil e tenha iniciativas progressivas como a ANEL a partir das federais, não consegue ser uma alternativa para as lutas concretas serem vitoriosas. De formas distintas, ambos acabam reproduzindo o modo petista de militar. Há uma tentativa de negação a isso, impulsionada por setores independentes, em grande parte autonomistas, que crêem que o problema são “os partidos” e já demonstraram sua impotência ao não conseguirem estabelecer uma nova tradição em nenhum lugar nem dirigir um processo de luta vitorioso. Há ainda, na USP, a corrente Negação da Negação, que na estratégia para a universidade e concepção de movimento estudantil não ultrapassa o autonomismo, não tem programa para a universidade e não aportou decisivamente em nenhuma luta ou deu exemplo em alguma entidade.
Assim, do movimento estudantil segue participando uma pequena minoria, particularmente nas entidades. Nem mesmo quando os estudantes saem à luta, muitas vezes tendo que passar por cima do imobilismo dessas direções, as entidades cumprem um papel decisivo, pois não adotam a auto-organização, que é o que pode construir um movimento estudantil massivo, democrático e combativo, como já se demonstrou nas grandes lutas históricas. Assim, toda mobilização real rapidamente sofre de uma enorme separação entre os poucos ativos e a maioria passiva, que muitas vezes deixam de ser ativos porque se desanimam com a miséria do movimento. Quando não há luta, as entidades se tornam atores “ativos” na construção da passividade, com pouca ou nenhuma iniciativa de realizar atividades ideológicas, políticas, apoio às lutas dos trabalhadores, atividades culturais, etc. As entidades se transformam em organizadoras de festas, trâmites burocráticos e num nome para falar sem que isso expresse nenhum debate na base. A super-atividade das eleições é inversamente proporcional ao restante do ano.
O movimento estudantil vive uma crise que é o choque entre, por um lado, as novas condições criadas com o ressurgimento das lutas desde 2007 para responder aos ataques à universidade e ao movimento, aos fenómenos da realidade nacional e internacional, e por outro, a inércia política das correntes. É isso que, na medida de nossas modestas forças, tentamos fazer como corrente, não somente analisando os processos, pensando programa, mas buscando colocá-lo em prática nas lutas em cada local e em toda tentativa de conformação de uma coordenação nacional, como fazemos na Assembléia Nacional dos Estudantes ’ Livre, entidade nacional recém fundada como alternativa a UNE e já é uma referência nas universidades federais. Apesar de que viemos dando alguns exemplos de luta, como no movimento estudantil da Unesp-Marília e Rio Claro, onde junto a independentes, viemos tendo importantes conquistas como não conhecemos outro lugar no país [1], o que é parte do papel que cumprimos na Unesp de conjunto onde somos parte do DCE, no próprio CACH (Unicamp) que vem se tornando uma das entidades mais ativas de São Paulo e organizando lutas exemplares, além de diversos debates políticos e ideológicos, na PUC-SP, na USP como aliado central do Sintusp, etc, queremos aportar mais profundamente para o movimento estudantil abrir uma nova fase, fortalecendo essa perspectiva numa ofensiva nas eleições estudantis desse fim de ano.

Entidade para quê?

Queremos estar nas entidades para transformá-las em pólos de atividades ideológicas, políticas, culturais e sociais, que sejam referência para amplos setores, sempre buscando o máximo de frente única com os setores que se colocam no campo combativo para impulsionar o movimento mais amplamente, nos constituindo com uma ala deste que adote uma perspectiva consequentemente anti-burocrática e que lute por uma aliança com os trabalhadores dentro e fora da universidade.
Nossa perspectiva é impulsionar não somente as lutas por cada demanda mínima dos estudantes que seja progressiva, mas fazer isso na perspectiva de enfrentamento com os regimes universitários oligárquicos, mas também contra os governos. Queremos um movimento estudantil se ligue aos estudantes das universidades particulares e aos secundaristas na luta pelo fim do vestibular e do ensino pago, para que todos possam estudar gratuitamente. Que questione o caráter do conhecimento produzido nas universidades, voltado para os interesses dos capitalistas, e por reformas curriculares para que o conhecimento esteja a serviço da maioria da população, os trabalhadores e o povo pobre. Que lute por coordenações estaduais e nacional, que para nós deve se dar hoje a partir da ANEL, construindo uma ala combativa e pró-operária em alternativa à direção majoritária do PSTU. Precisamos de um movimento estudantil que se alie aos trabalhadores em suas lutas, se colocando ativamente em cada greve ou contra a repressão, como vem sofrendo o Sintusp, o MST e a Federação Anarquista Gaúcha. Que se coloque ao lado do povo pobre contra a repressão policial brutal que vem sofrendo nas periferias. Que impulsione ações em solidariedade às lutas que se dão em todo o mundo, como atualmente contra o golpe em Honduras ou a ocupação no Haiti protagonizada pelo governo Lula.
É nessa perspectiva que vamos buscar unir o máximo de setores combativos dos estudantes e da esquerda nas eleições que vamos participar na Unesp Marília, Franca, Araraquara, no IFCH ’ Unicamp, no Serviço Social da PUC-SP e na Sociais e Letras da USP. Chamamos os estudantes a lutarem conosco por essa perspectiva e todos aqueles que estão discutindo conosco em cada frente a atuarmos como um só corpo na construção de uma corrente estadual de centenas de estudantes que possa se transformar numa referência nacional a partir de uma luta na ANEL.

[1] Em Marília, desde 2005 se realizaram 4 ocupações e greves em todos os anos exceto 2008, onde conquistou-se o restaurante universitário com funcionários efetivos, a ampliação do pólo computacional e um centro de línguas, e barramos o fim das bolsas sócio-econômicas, a entrada da PM do campus para ronda e uma reforma curricular reacionária. Em Rio Claro foi ampliado o pólo computacional, o Restaurante Universitário, cria-se salas de aulas para quase todos os cursos, aumenta-se o número de bolsas e conquista-se reformas e construções de novos blocos na moradia estudantil. Além disso, mais de conjunto os campus da Unesp onde estamos foram parte ativa de todos os processos de luta das estaduais paulistas.

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