Sexta 26 de Abril de 2024

Nacional

NOVOS ASSASSINATOS NO CAMPO

Em 10 anos de PT, segue o histórico massacre aos sem-terra

10 Feb 2013   |   comentários

Mais uma militante do MST foi brutalmente assassinada, também em Campos (RJ). Desta vez foi Regina dos Santos Pinho, 56, encontrada na quarta-feira, 6/02 (ela estava desaparecida desde o dia 03). É o segundo dirigente do MST assassinado em menos de 15 dias na cidade de Campos. No último dia 26/01, foi assassinado Cícero Guedes dos Santos, 48, ambos do assentamento Zumbi dos Palmares.

No caso de Regina há ainda indícios claros, para além das motivações dos conflitos rurais na região, de abuso sexual, pois foi encontrada com um lenço vermelho no pescoço e seminua. É preciso denunciar não só o latifúndio, mas a opressão às mulheres que os latifundiários mantém desde a época colonial, quando tinham diretamente as negras como propriedade privada, e, portanto, eram donos diretos dos seus corpos, e seguem matando e estuprando inclusive os lutadores.

O massacre aos trabalhadores sem terras é, na realidade, um dos pilares históricos da formação burguesa no Brasil. O agronegócio é a continuidade e filho direto do latifúndio, do massacre indígena, do trafico negreiro e da repressão ao povo negro praticados pela elite colonial brasileira [1]. Espremida pela Coroa portuguesa (e suas companhias de comércios monopólicas) e pela força da maior população negra fora da África, escravizada, a elite brasileira mantinha uma dupla política, serviçal da elite portuguesa e repressora aos negros que se insurgiam contra a condição de escravos, deste modo mantendo seu poder ligado à terra e conquistando espaço político que lhe permitiria mais tarde se transformar em burguesia da semicolonia brasileira [2].

Com as mãos ensanguentadas do passado - lembrando das heroicas resistências do Quilombo dos Palmares, da revolução praieira, da revolta dos canudos, entre outras importantes lutas negras ao longo da história do Brasil, que terminaram em banho de sangue -, o agronegócio que surfou e surfa na onda dos autos preços das commodities no mercado mundial, não pode seguir existindo senão em base à crescente concentração de terras e ao massacre aos indígenas e aos trabalhadores rurais e também de seu imaginário. Foi esse o caso que virou escândalo nacional com a Carta dos Guarani-Kaiowá no final do ano passado, espremidos em pequenas tiras de terras onde não se pode plantar para sobreviver, que trouxe a tona o suicídio de mais de 900 índios desde 2000 (sendo uma década do governo do PT, Lula e Dilma), ou agora na ocupação indígena Aldeia Maracanã em que o governador Sérgio Cabral queria entregar a área para as empresas privadas lucrarem com a Copa e as Olimpíadas. E segue ainda a mesma lógica os assassinatos de trabalhadores sem terras e militantes do MST.

Em uma década de governo do PT não só o latifúndio cresceu em poder econômico por conta das commodities (que levaram a uma relativa reprimarização da economia durante o lulismo) e em representação política (com bancada rural expressiva), como continuou a repressão e o assassinato aos trabalhadores rurais, como o assassinato da missionária Dorothy Stang em 2005, a repressão na fazenda Southal em 2009 ou ainda como no bárbaro caso da reintegração de posse no Sítio Boa Vista em 2009 em Americana [3].

Por pouco não houve um massacre no último mês no assentamento Milton Santos, entre Americana e Cosmópolis no interior de São Paulo, cuja reintegração de posse foi suspensa pela justiça após muita luta e uma importante repercussão nacional que o caso ganhou com a ocupação do Incra em São Paulo e depois do Instituto Lula na mesma cidade [4].

Seja pelas forças do Estado, a polícia, ou por milícias privadas armadas, ou capangas dos grandes latifundiários, o massacre no campo está a serviço da manutenção da estrutura latifundiária brasileira e dos lucros dos grandes capitalistas do agronegócio e das commodities. Mesmo o governo do PT, desde qual partido surgiu o MST na década de 80 (e ao qual a maior parte de sua direção ainda segue ligado), manteve intacta a estrutura agrária brasileira que tem por base as sesmarias coloniais e a Lei de Terras de 1850 e que por outras vias vieram se mantendo como sustentáculo do capitalismo semicolonial brasileiro.

É preciso que os trabalhadores do campo e da cidade travem uma luta de morte contra o latifúndio e os interesses capitalistas que herdam a estrutura de terras brasileiras. Essa luta só pode ser travada seriamente expropriando o latifúndio, as empresas agrícolas, devolvendo as terras aos indígenas, aos quilombolas, garantindo terra para quem nela quer trabalhar e criando uma nova organização entre campo e cidade no Brasil. Pelo fim do massacre aos trabalhadores sem terra!

[1Ver “A questão negra e a Revolução Brasileira – apontamentos iniciais” em http://cephs.blogspot.com.br/2013/02/a-questao-negra-e-revolucao-brasileira.html

[2Ver Apontamentos historiográficos e militantes inicias sobre o Rio e questão negra nessa mesma edição

[3Ver “Cícero Guedes dos Santos, mais um trabalhador rural assassinado a serviço do agronegócio” em http://www.ler-qi.org/spip.php?article3737.

[4Ver “Toda solidariedade ao Assentamento Milton Santons” em http://www.ler-qi.org/spip.php?article3725

Artigos relacionados: Nacional , Direitos Humanos









  • Não há comentários para este artigo