Sexta 26 de Abril de 2024

Internacional

Balanço e perspectivas do Ensaio Geral Revolucionário

Editorial

14 Nov 2003   |   comentários

O levante operário, camponês e popular de outubro representa uma valiosa contratendência à situação reacionária aberta com o triunfo imperialista na guerra do Iraque e se inscreve como expressão mais elevada da luta de classes mundial, junto com a resistência palestina e a luta do povo do Iraque. O levante de outubro é a expressão mais elevada da onda de lutas que tem sacudido nosso continente nos últimos anos, desde os levantes equatorianos que terminaram com o governo Bucaram, primeiro, e Mahuad, depois, passando pelas jornadas revolucionárias da Argentina em 2001 que levou à fuga de De La Rúa; também as sucessivas convulsões que assolaram o Peru desde a queda de Fujimori.

O levante de outubro, se por um lado é a continuidade deste ascenso do movimento de massas continental, marca também um ponto de inflexão com respeito aos anteriores processos de luta. Dois são os elementos distintivos. O primeiro é a intervenção da classe operária com os mineiros de Huanuni como sujeito diferenciado e o método da greve geral; o segundo, a radicalidade nos métodos de luta com o surgimento de barricadas, organização de base para a luta e o surgimento de embriões de duplo poder em nível local e nacional.

Durante o levante de outubro a crise geral do Estado e da sociedade se revelou politicamente como crise revolucionária levantando abertamente a questão do poder e abrindo, apesar do seu momentâneo desvio, uma situação revolucionária. O regime da “democracia pactuada” está mortalmente ferido e o parlamento, como âmbito de negociação e transação entre as classes, está esgotado. Outubro pós em evidência que a resolução dos grandes problemas nacionais nos próximos meses e anos terá como cenário central as ruas.

O imperialismo e a burguesia local compreenderam isso bem e começam a se preparar alentando manobras que lhes permitam ganhar tempo, mediante alguma Assembléia Constituinte arranjada, enquanto buscam uma saída de caráter frentepopulista para amarrar a classe operária, o movimento camponês e os pobres urbanos atrás de alguma saída burguesa. O MAS, o MIP e diversos advogados e militares supostamente patriotas estariam dispostos a cumprir este papel. Mas se estes são os primeiros movimentos da classe dominante, a preparação de saídas de força, ainda que golpeadas pelos acontecimentos de outubro, podem ser novamente sustentadas, seja alentando setores militares a impor uma saída contra-revolucionária ou arrastando o país à guerra civil.

Todos estes elementos estiveram presentes de forma embrionária durante a crise de outubro e vão se desenvolver e fortalecer daqui para a frente.

Isto coloca novos problemas políticos ao movimento operário e de massas. Corremos contra o relógio para forjar uma alternativa independente que permita que os operários e camponeses possam tomar os destinos do Estado e do país em suas próprias mãos. A classe operária deve recuperar seu “espírito estatal” , deve recuperar sua centralidade nas lutas de todo o povo e deve ser capaz de dotar-se de formas de organização amplas que permitam formalizar a aliança operária, camponesa e popular. A luta para colocar de pé uma Assembléia Popular, que sobre a base de delegados revogáveis e com mandatos de todos os centros de trabalho discuta e atue sobre todos os grandes problemas nacionais, avançando em converter-se num verdadeiro conselho ou parlamento operário, é de vital urgência para avançar por este caminho.

Mas isto não é suficiente. Como já evidenciou a revolução de 1952, a Assembléia Popular de 1971 ou a grande mobilização de 1982-1985, a classe operária necessita colocar de pé um verdadeiro estado-maior da revolução socialista, isto é, um grande Partido de Trabalhadores Revolucionário que possa enfrentar com êxito as manobras frentepopulistas e a guerra civil. Os operários de Huanuni, os combatentes de El Alto e todos aqueles que queiram aprender com os erros da esquerda fracassada, e compreendam a urgência desta tarefa, estão chamados a erguer este partido.

Nossos companheiros da LOR-CI (Liga Obrera Revolucionaria ’ Cuarta Internacional), na Bolívia, colocam-se a serviço destes objetivos, ajudando e aprendendo junto com esta nova geração de combatentes nascidos da nova situação política.

A Liga Obrera Revolucionaria por la Cuarta Internacional (LOR-CI), é a organização irmã da LER-QI na Bolívia, e também faz parte da Fração Trotskista - Quarta Internacional

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