Quinta 2 de Maio de 2024

Nacional

A ESQUERDA BRASILEIRA

É preciso uma política para que os trabalhadores se expressem na luta de classes e nas eleições

09 Nov 2009   |   comentários

A força do governo Lula está no fato de que ele consegue abarcar num mesmo bloco político de apoio ao seu governo os principais capitalistas brasileiros, os representantes dos capitais imperialistas, as organizações operárias e os movimentos sociais. Lula consegue o apoio interno da burguesia por continuar sob as novas condições da economia e da política mundiais o projeto estratégico que começou a ser aplicado sob o governo FHC, com a vantagem de manter sob controle o movimento de massas, e garantir a liderança da burguesia brasileira na América do Sul. Para isso, se apóia no seu prestígio e controle sobre as organizações de massas, principalmente a CUT, e nas condições favoráveis baseadas exportação de commodities para a China que permitiu a expansão dos programas sociais e, não menos importante, na retórica nacionalista de maior intervenção estatal, o que se intensificou na política económica em resposta a crise capitalista.

Essa força centrípeta do lulismo rouba da oposição tucana parte do seu apoio em setores burgueses e reduz seu espaço político e eleitoral. Em última instância, essa é a base da crise interna no tucanato, da divisão entre Serra e Aécio ’ que representa uma alternativa à hegemonia paulista, pois é uma figura mais ligada às bases burguesas do lulismo. Se faltasse alguma dúvida, o lance mais recente desta crise foram as declarações de Rodrigo Maia, presidente do DEM (ex-PFL), de que Aécio seria o candidato mais “agregador” , por não representar um “confronto aberto, direto com o presidente Lula.”

Apesar dessa força do lulismo, uma retomada da crise económica pode fazer a dinâmica de polarização entre PSDB e PT voltar com toda a força. Mesmo por fora deste cenário, a sucessão presidencial de 2010, ainda no caso de que Dilma se eleja, projeta a tendência de uma aguda crise no regime político, pois, afinal, não existe lulismo sem Lula. Isto é, Dilma nem de longe terá o mesmo controle das organizações de massa que tem Lula. Lula fala em nome dos trabalhadores e do povo pobre, porém eles estão ausentes, não têm nenhuma representatividade na cena política nacional, nem tem até agora nenhuma alternativa eleitoral de independência de classe.

Os elementos pós-neoliberais de Lula eclipsam o PSOL

As medidas de Lula de corte pós-neoliberal, na onda da crise económica, como a isenção do IPI, maior intervenção estatal em algumas grandes empresas e no pré-sal, a limitação da posse de terras de estrangeiros na região amazónica, o aumento dos empréstimos dos bancos públicos e a pressão pela redução dos juros bancários, o apoio à restituição de Zelaya e mais recentemente o imposto sobre a entrada de capitais estrangeiros, golpeiam diretamente o ponto fundamental do projeto partidário do PSOL.
Ao aumentar as medidas de intervenção estatal, incluindo medidas de apoio a setores industriais, ampliado os programas sociais e aumentado o salário mínimo, Lula ampliou ainda mais sua base de apoio. Conseguiu também ampliar sua influência nos setores de centro-esquerda, base sobre a qual o PSOL busca garantir seu espaço político. Pensando o cenário eleitoral, Dilma Roussef, Marina da Silva (que veio do governo) e Ciro Gomes, ocupam parte importante desse espaço eleitoral do PSOL, daí a crise que percorre este partido e suas indefinições.

A crise de projeto do PSOL

A base deste projeto partidário é unificar várias tendências sem nenhuma definição de classe, sejam aquelas que se reivindicam revolucionárias, sejam as que se reivindiquem reformistas em torno de uma plataforma comum antineoliberal, que na prática se daria em aliança com setores burgueses “produtivos” ou “antineoliberais” , com um programa que, no que tem de concreto, não vai além de uma maior intervenção estatal na economia e de um discurso democrático moderado. Esse projeto se concretizou a partir das eleições de 2006, quando o PSOL, através da candidatura de Heloísa Helena, se cristalizou como um partido socialmente pequeno burguês e antioperário, apresentando um programa antineoliberal mais moderado até que a política aplicada por Chavéz e Evo Morales. Heloísa Helena se colocou a favor do financiamento estatal do BNDES à Volks, no momento em que essa multinacional imperialista demitia milhares de trabalhadores, que os operários entravam em greve, e que o próprio Lula ameaçava cortar o financiamento do BNDES. Logo depois veio o apoio dos parlamentares deste partido ao “supersimples” , um projeto de incentivo às pequenas e médias empresas e um enorme ataque às condições de trabalho nestes estabelecimentos, que representam cerca de 50% de todos os trabalhadores. O último fato que mostrou claramente o caráter de conciliação de classes e pró-burguês deste partido foi o financiamento da candidatura de Luciana Genro pela Gerdau e as alianças com partidos burgueses em Porto Alegre e outras cidades de menor importância nacional. Até a bandeira da ética ficou questionada com as denúncias de que parlamentares do PSOL se utilizaram das passagens aéreas no Congresso.
Essa situação está na base de uma crise profunda que veio a tona no Congresso do PSOL. Uma crise de projetos, que colocou em questão o grande elemento unificador deste partido, que foi justamente o peso eleitoral da Heloísa Helena e a possibilidade de eleger parlamentares. Essa crise se expressa na indefinição do seu projeto eleitoral, na posição de Heloísa Helena em se lançar para o Senado e não à presidência, na sua aproximação de Marina da Silva, no surgimento de vários pré-candidatos à presidência, na derrota da chapa de Heloísa Helena e Lucina Genro (MES, MTL e deputados cariocas) para a executiva nacional para a chapa APS-Enlace-Csol. Como resposta à crise de projeto do PSOL surgem duas alternativas. Esse setor, que depois do congresso se tornou majoritário na executiva nacional, representado principalmente por Plínio de Arruda Sampaio, defende uma política reformista mais clássica, com eixo na reforma agrária, auditoria da dívida externa e uma política desenvolvimentista que busca retomar aspetos do estado getulista, como seu principal expoente já disse várias vezes. Esse projeto tenta resistir ao giro pragmático mais centro esquerdista de Heloísa Helena e Luciana Genro no sentido do que poderíamos chamar de um “udenismo de esquerda” , centrando sua política na luta contra a corrupção e se aproximando de setores “éticos” e “nacionalistas” das polícias federal e militar. Setor esse que agora se propõe abandonar a candidatura própria para apoiar Marina da Silva, o que colocaria o PSOL diante da possibilidade de rupturas. São dois projetos de conciliação de classes, sem relação orgânica com setores operários, que devem ser combatidos pelos revolucionários.

Um chamado ao PSTU

Para os revolucionários, a política de unidade e de frente única com outros setores e partidos parte de uma caracterização precisa do programa, da política e da base social de classe dos possíveis aliados. Nesse sentido, cabe perguntar à direção ao PSTU se está de acordo com a caracterização que nós fazemos do PSOL, de que é um partido pequeno-burguês e antioperário, que levanta um programa de corte antineoliberal e pró-burguês. Ou seja, um partido de centro-esquerda que busca espaços para ter seu sol no regime burguês.
Repetir em 2010 o erro de 2006 e de 2008, de colocar o PSOL como o eixo de uma Frente de Esquerda que se pretende ser uma alternativa para os trabalhadores seria ainda mais grave. Estes fatos não bastam para convencer a direção do PSTU de que é necessário por em pé uma alternativa de independência diante dos patrões na luta de classes e nas eleições?
Essa política, no plano eleitoral, poderia se expressar no lançamento de uma candidatura própria por parte do PSTU, projetando as principais referências que surgiram nas lutas operárias e no movimento estudantil no último período, aproveitando a nova localização conquistada pela Conlutas como uma alternativa à CUT e levantando um programa de independência de classe que seja capaz de desmascarar a demagogia lulista e lutar para que os trabalhadores não paguem os custos da crise. A constituição de uma política como esta permitiria aos trabalhadores começarem a ter uma voz na situação política, desde já, preparando-se para intervir na luta de classes, defendendo os ativistas que são perseguidos, assassinados e demitidos como os do MST e do Sintusp, denunciar a violência policial no Rio de Janeiro e em todo o país, bem como expor que a atual “retomada do crescimento” tem sido feita em base ao aumento da exploração dos trabalhadores.

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