Terça 30 de Abril de 2024

Movimento Operário

DISCUSSÃO COM OS COMPANHEIROS DO PSTU

É preciso uma estratégia para vencer

23 Jan 2009   |   comentários

Com o inicio da crise no Brasil, as organizações operárias, partidos e sindicatos, começaram a delinear seus programas políticos e métodos de ação. Também já começaram as primeiras medidas de luta e resistência por parte dos trabalhadores, pontuais ainda, mas que podem adquirir uma dinâmica mais generalizada ao longo do ano de 2009. Essa situação de crise capitalista aberta vai colocar à prova todas as organizações, seus programas, suas políticas e suas direções.

Ao longo dos últimos anos de crescimento económico, a maioria das lutas que ocorreram não ultrapassaram os marcos impostos pela estrutura sindical varguista, de lutas coorporativas de pressão sobre a patronal para conquistar pequenos aumentos salariais acima da inflação. Na maioria das vezes, inclusive, tudo foi resolvido nas mesas de negociação.

Essa tradição que veio sendo forjada precisa urgentemente ser superada, pois os trabalhadores precisam se preparar para duríssimos enfrentamentos de classe, nos quais qualquer vitória, ainda pequena, não poderá ser conquistada sem um grande tensionamento de todas as forças do movimento operário. As lutas isoladas, que não conseguirem unificar temporários, terceirizados e efetivos, que não conseguirem se coordenar com os demais setores em luta e que não conseguirem o apoio de amplas camadas da população, dificilmente vencerão.

Desde o ponto de vista mais estratégico, nesse momento de crise e de decadência capitalista, voltam a ser atuais as palavras escritas há mais de 70 anos do Programa de Transição da IV Internacional, de que as lutas mais imediatas devem ser travadas em conexão com a tarefa estratégica de derrubada da ordem capitalista.

É diante deste quadro que queremos abrir um debate fraterno com toda a esquerda que se reivindica revolucionária no Brasil, em especial com os companheiros do PSTU, pelo seu papel de direção na Conlutas.

A diferença entre a propaganda e a prática

No seu programa de televisão, o PSTU levanta um programa em geral correto, classista, de resposta à crise, como a redução da jornada sem redução salarial, a estatização das empresas que demitirem sobre controle dos trabalhadores, estatização do sistema financeiro, plano de obras públicas e o não pagamento das dividas interna e externa.
Isso é importante neste momento em que a CUT centra suas demandas no programa defendido pela patronal, de redução dos juros e corte de impostos para a industria, e que a Força Sindical negocia com a Fiesp rebaixamento salarial.

Porém, para organizar uma luta efetiva por essas demandas, precisaremos de uma ampla mobilização nacional, de uma luta verdadeiramente decidida e intransigente, de todos os setores da classe, mobilização essa que o PSTU não prepara conseqüentemente.

Exigências á Lula: uma tática que se transforma em estratégia

Seria dar mostras de sectarismo estéril rechaçar qualquer tipo de exigência ao governo Lula, sabendo da confiança que nele depositam os trabalhadores, inclusive aqueles filiados aos sindicatos da Conlutas. Por isso, não nos opomos às exigências que a Conlutas faz à Lula, como a medida provisória pela estabilidade no emprego, estatização da Vale e de outras empresas que demitirem em massa, por exemplo.

O que sim ressaltamos, é que essas exigências devem servir como uma tática, uma alavanca, para colocar em movimento as dezenas de milhões de trabalhadores que apóiam o governo e acelerar sua experiência com este, para desmascarar seu caráter capitalista. O que não se pode fazer, e esse é um erro no qual o PSTU cai recorrentemente, é criar a expectativas de que essas medidas poderiam ser conquistadas por fora de uma ampla e duríssima batalha a nível nacional, com greves, ocupações de fábrica e outras medidas radicais e massivas.

Em seu balanço da reunião com o governo, o PSTU afirma que: “Segundo os dirigentes da Conlutas, as afirmações dos ministros durante a reunião não necessariamente implicam em sua efetivação. ”˜Por esta razão é fundamental a continuidade e o fortalecimento das mobilizações que já estão em curso, da pressão sobre as empresas e sobre o governo, pois esta é a única garantia de que, de fato, sejam tomadas medidas concretas para impedir as demissões e defender os salários e direitos dos trabalhadores”™, destacou Luis Carlos Prates, o Mancha.” Com esse discurso, de tática para alavancar as mobilizações, as concretização das exigências se transformam no objetivo das lutas. O correto seria dizer que Lula não vai tomar essas medidas, pois governa para os patrões, pois os trabalhadores só podem confiar em suas próprias forças, impulsionando mobilizações de forma independente, para derrotar a política do governo Lula e de seus aliados na Fiesp e na Febraban.

Algumas propostas para organizar uma luta decidida

É sabido que por mais que o PSTU tenha conquistado alguma incidência na vanguarda a partir da Conlutas, continua sendo, mesmo contando toda a Conlutas, uma fração muito minoritária do movimento operário. Por isso, é correto que (ainda que tarde) o PSTU esteja levantando a exigência às demais centrais de impulsionar as mobilizações em defesa dos trabalhadores. No entanto, não têm feito mais do que emitir cartas às direções das centrais a partir da Conlutas, sem realizar um trabalho efetivo na base dessas centrais.

É necessário agitar na base das categorias um programa classista e colocar a necessidade emergencial de um Congresso nacional de trabalhadores eleitos na base, começando a organizá-lo a partir de sua influência na Conlutas, convocando a Intersindical e os setores que se colocam no campo da luta contra o governo para impor uma frente única operária às demais centrais.

Junto com isso, as lutas dirigidas pela Conlutas podem e devem ser transformadas em grandes referências, nacionalizando a demanda da reestatização sob controle operário da Vale do Rio Doce e demais empresas privatizadas e de todas as fábricas que fechem ou demitam. Por que o PSTU não coloca nessa política para o conflito o mesmo esforço militante que dedicou ao “Plebiscito da Vale” impulsionado junto com a Cut e a Igreja em 2006? Isso seria lutar pela hegemonia proletária, que o PSTU abre mão. Seria em função na frente com os setores burgueses ou em função de uma estratégia sindicalista e coorporativa na luta de classes?

Na GM, além de recrudescer as medidas de lutas ’ não pode ser que entre a assembléia e o ato os trabalhadores não tenham nenhuma orientação para intensificar a mobilização além das negociações com a empresa e a prefeitura ’ é preciso reivindicar não só a recontratação dos temporários demitidos, mas também a sua completa efetivação. É preciso uma campanha de casa em casa na região de São José dos Campos para ganhar o apoio da população. É preciso começar a organizar imediatamente um fundo de greve e preparar os trabalhadores para uma luta dura e longa. E é necessário ir até o ABC e outras regiões do país onde estão as montadoras e propor um plano concreto de mobilização unificada, contra as demissões, contra a redução de salários, e pela efetivação de todos os temporários e terceirizados. Um plano concreto de mobilização, que contemple a formação de um fundo de greve unificado e a perspectiva de uma greve geral do setor para impor todas as demandas dos operários das montadoras.

Para todas estas tarefas, uma vez a mais insistimos na proposta feita pelo Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP) de se apoiar na importância que o conflito da GM e da Vale têm ganhado nacionalmente para impulsionar um encontro regional e nacional de todos aqueles que se disponham a enfrentar os ataques da patronal para fortalecer a organização dos setores combativos, frente a burocracia das centrais sindicais.

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