Sexta 3 de Maio de 2024

Movimento Operário

Uma proposta aos trabalhadores da Conlutas

É preciso abrir entre os trabalhadores a discussão sobre a necessidade de um novo partido operário

07 Jun 2007   |   comentários

Contra a reforma da previdência de Lula, em 2003, o funcionalismo se levantou numa grande greve nacional, que foi derrotada graças à política do governo, aplicada pelo PT e pela CUT, de separar os trabalhadores estatais do conjunto da classe. A luta contra a reforma da previdência deu origem ao PSOL, que nasceu a partir da recusa de alguns parlamentares petistas a acompanhar o giro neoliberal da direção do PT. No entanto, as organizações e parlamentares que vieram da esquerda petista, se recusaram a adotar uma política capaz de responder a necessidade de iniciar a construção de um novo partido operário, a partir da experiência dos primeiros setores de trabalhadores com o governo petista. Ao contrário disso, do ponto de vista programático o PSOL manteve o conteúdo desenvolvimentista burguês do PT anterior à subida ao poder, e nas eleições se absteve completamente de levantar qualquer programa que respondesse minimamente aos interesses dos trabalhadores, como a elementar reivindicação de um salário mínimo do Dieese (R$ 1.600,00). Levantou nas eleições o programa de um salario mínimo que chegasse a R$700,00 em quatro anos, além de ter aprovado o Supersimpes, que precariza o trabalho, para não se enfrentar com os setores não monopólicos da burguesía. Diante dos novos escândalos de corrupção atua como um partido do regime, para reformar o congresso corrupto e “revitalizar” as instituições da democracia burguesa. Do ponto de vista da composição social, se configurou num partido pequeno-burguês, que se apóia nos cargos de alguns parlamentares e intelectuais, mas que não tem nenhuma relação orgânica com a classe trabalhadora. Com a formação da Intersindical, o PSOL mantém a tradicional separação petista entre política e sindicato. Os operários arriscam seus empregos e até as suas vidas nas greves e a luta política fica restrita aos parlamentares e dirigentes sindicais da cúpula.

A Conlutas, impulsionada pelo PSTU, foi o primeiro processo de reorganização sindical que surgiu a partir dessa primeira experiência que setores da classe trabalhadora realizaram com o governo Lula. No seu primeiro Congresso foi capaz de reunir milhares de trabalhadores que viam a necessidade de combater os ataques do governo Lula e da patronal, e se opunham ao papel que a CUT cumpre no movimento operário. No entanto, não bastava romper com a CUT e proclamar a luta pela independência de classe, para superar na prática a política com que o PT e a CUT educaram os trabalhadores nos últimos vinte anos. Pela política do PSTU, o Conat foi incapaz de apresentar uma política capaz de armar a vanguarda dos trabalhadores e deixou um grave problema pendente (ver nosso balanço do Conat no site www.ler-qi.org). O problema da reorganização política do movimento operário não foi discutido. Os trabalhadores reunidos em Sumaré não foram sequer chamados a colocar sua posição sobre o programa e a política da frente eleitoral que estava se formando entre PSTU e PSOL.

Mais uma vez se coloca a possibilidade de dar uma resposta política à desilusão de amplos setores com o PT e do espaço que está deixando o PCdoB que também faz parte do governo. A Conlutas deveria se pronunciar pela necessidade de um partido da classe operária e aproveitar a situação política do país para agitar essa necessidade. Deveria, a partir dos seus sindicatos, como o dos metalúrgicos de São José dos Campos, que representa 36 mil operários, se dirigir à Intersindical e à base da CUT com essa proposta para a construção de um partido operário, que dessa vez seja capaz de levar a classe trabalhadora ao poder. Lembremos que a proposta de construção do PT, na época, foi impulsionada pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André, que levou ao Congresso dos Metalúrgicos essa votação.

A primeira discussão que deveríamos abrir entre os trabalhadores organizados na Conlutas é sobre qual o programa e a estratégia que deveria ter um novo partido operário. Nessa discussão, todas as tendências do movimento operário que se colocam contra o governo Lula deveriam ser chamadas a colocar sua posição programática e estratégica. Um processo assim permitiria abrir entre todos os trabalhadores uma discussão sobre o que levou o PT a passar para o lado dos patrões e de como o programa defendido pelo PSOL vai levar os trabalhadores a repetirem a tragédia do PT.

Nós da LER-QI, ao surgir um partido deste tipo, lutaríamos no seu interior pela necesidade de partir da experiência acumulada do movimento operário brasileiro para que este partido, ao contrário do PT, combata todas as variantes da política burguesa, seja neoliberal ou neo-desenvolvimentista, seja democrática ou ditatorial. Que acabe com a separação entre luta política e luta sindical presente no petismo. Que levante um programa classista ’ que defenda o fim do desemprego atraves da divisão das horas de trabalho entre todos sem redução de salário, não pagamento das dívidas interna e externa e a expropriação dos grandes latifúndios e das empresas estratégicas para o país ’ para elevá-las ao plano político e que unifique o conjunto dos explorados e o povo oprimido, assumindo suas demandas.

Que coloque desde o princípio a necessidade de organizar a auto-defesa do movimento de massas num país onde os trabalhadores se enfretam cotidianamente contra a violência dos lafundiários e da polícia. Ou seja, um partido revolucionário, que se prepare para tomar o poder e impor um governo dos trabalhadores, camponeses e do povo pobre, que exproprie os expropriadores, eliminando a propriedade privada e instituindo uma democracia de massas e uma economia a serviço dos interesses da maioria ’ trabalhadores e povo pobre.

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