Sexta 26 de Abril de 2024

Juventude

Rumo ao II Fórum Nacional de Hip Hop

É necessário reorganizar o Fórum da Grande São Paulo

10 Oct 2004   |   comentários

O Hip Hop que nasceu nas ruas dos bairros pobres estadunidenses, herdando o caráter de contestação do movimento Black Power e das lutas contra o racismo, nos últimos dez anos é alvo de uma ofensiva do mercado capitalista. Principalmente nos Estados Unidos, são cada vez mais escassas as rimas que dão continuidade à crítica a esse sistema.

A música que foi criada nas festas de rua, organizadas pelos próprios DJs e MCs - pobres, pretos e latinos, explorados e oprimidos pelo capitalismo ’ está cada vez mais nos palcos de mega-shows financiados por empresários, como é o caso no Brasil de eventos como Hip Skol Rock, Manifesta, etc.

Isso também se expressa nos grafites: estão em lojas de shoppings e agências do Bank Boston. Dançarinos de break recebem convites para os comerciais do MC Donald”™s ou da Coca-Cola.

O que alguns defendem como “integração à sociedade” de uma “cultura marginalizada” significa a adaptação dessa expressão à sociedade dividida em classes. A democracia ’ que é uma democracia burguesa e não dos trabalhadores e dos povos oprimidos ’ “aceita” o Hip Hop exatamente na perspectiva de controlar as manifestações que possam confrontar com os interesses capitalistas. A mesma burguesia que expropria nossa força de trabalho, nos arranca também a liberdade na criação da arte.

Mas mesmo com todos os meios de dominação ideológica que a burguesia possui, a condição concreta da vida e as demandas dos jovens nas periferias permanecem nas letras de rap e nos muros grafitados. Ou seja, uma parte do Hip Hop ainda se contrapõe a essa ofensiva do mercado.

No entanto, para colocar de pé um Hip Hop revolucionário, teremos que romper com as mordaças que prendem nossa criação artística, o que implica no confronto direto ao sistema, sem ilusões de um “capitalismo mais humano” . Para isso, a busca pela criação de uma arte revolucionária e a organização política dos que criam essa arte terão de ser ações combinadas.

As posses

Herança também do Hip Hop estadunidense, as posses são uma destacada forma de organização construída pelos jovens do movimento Hip Hop. Em São Paulo, elas começaram a ser criadas no fim da década de 80, organizando-se por bairro ou região, para a realização de atividades políticas e artísticas.

Hoje, pelo menos em São Paulo, as posses já não têm o mesmo peso dos anos 90 como referência de organização. Por um lado, isso se dá como conseqüência da massificação do Hip Hop como mero produto, ou seja, muitos jovens estão limitados a sonhar que sua música alcance um “espaço na mídia” . Por outro lado, muitas posses se adaptaram aos projetos do reformismo ’ que propõem uma “inclusão social” dentro do capitalismo ’ e algumas inclusive se transformaram em ONGs.

Se a ofensiva do mercado gera manifestações de repúdio, o papel cumprido pelas ONGs ainda é visto com bons olhos por grande parte do movimento Hip Hop. O potencial combativo e anti-capitalista de várias organizações de juventude estão sendo convertidos para projetos que mudam um pouquinho pra não mudar nada.

Transformar o Fórum de Hip Hop num instrumento de luta

No início de 2002, durante o Fórum Social Mundial, foi realizado um encontro nacional de Hip Hop com grupos e posses de mais de dez estados. Deste encontro os grupos saíram com a definição de organizar um Fórum Nacional de Hip Hop, que se constituiria como “um espaço inicialmente de debates e discussão” e se houvesse condições, deliberaria alguns pontos. Como preparação deste fórum nacional, seriam organizados fóruns estaduais. As principais preocupações nessa ocasião eram a necessidade de organização do Hip Hop em nível nacional.

Ao longo de 2002 realizaram-se fóruns de Hip Hop em alguns estados, como Goiás, Ceará, Pará, Rio de Janeiro e São Paulo. Em São Paulo, desde março de 2002, após o Encontro Nacional no FSM, diversas posses passaram a se reunir periodicamente em torno da preparação do Fórum Paulista de Hip Hop. Nesse período foram feitos debates contra a Alca e a participação na campanha contra a guerra imperialista no Iraque. No fim de 2002, o encontro estadual em São Paulo conseguiu reunir várias cidades. Até meados de 2003 o Fórum conseguiu impulsionar importantes discussões e ações.

Em janeiro de 2003 o Fórum Nacional de Hip Hop indicou alguns pontos como a luta contra a Base de Alcântara e a Alca, solidariedade ao povo palestino e africano, combate ao racismo e ao capitalismo. Depois disso, entretanto, pouco se avançou.

Agora está sendo organizado o II Fórum Nacional de Hip Hop, que será realizado em janeiro de 2005, em Porto Alegre durante o Fórum Social Mundial. Este é um momento para reorganizar o Fórum de Hip Hop nas cidades e estados, mas desde já fazendo todas as discussões sobre o papel que o Hip Hop tem que cumprir na atual situação nacional. As posses, crews, organizações precisam impulsionar essas discussões nos bairros em que atuam e que no Fórum se expressem ao máximo as idéias e propostas de ações vindas desse processo.

Hoje, os jovens do Hip Hop que se colocam em confronto com o capitalismo não podemos nos limitar a somente ter uma visão crítica sobre os “show business” como o Manifesta e o Hip Skol Rock. Precisamos nos organizar por um Hip Hop revolucionário, que esteja ao lado das principais lutas dos trabalhadores e dos povos oprimidos. Por um Hip Hop que não admita a conciliação com a burguesia, que se coloque na luta contra os ataques do governo Lula aos trabalhadores e ao povo pobre.

Fazemos um chamado às posses, grupos, crews, MC”™s, DJ”™s, grafiteiros/as, B.Boys e B.Girls a tomar em suas mãos a reorganização do Fórum de Hip Hop na Grande São Paulo. Precisamos reorganizar o Fórum e, ao contrário de um “espaço neutro” de debate como alguns defendem, transformá-lo num instrumento de luta dos explorados e oprimidos.

Precisamos impulsionar discussões por bairros e regiões sobre os rumos do Hip Hop, e a partir daí aglutinar todos/as que estejam dispostos a defender o Hip Hop como arte e movimento independente da burguesia. Defender que a ideologia que expressamos em nossa arte não seja amordaçada pelo capitalismo. Que nossa disposição para a militância esteja voltada às principais lutas atuais dos trabalhadores e da juventude explorada e oprimida ligadas à luta pela derrubada do capitalismo.

Artigos relacionados: Juventude , Questão negra , Cultura









  • Não há comentários para este artigo