Sábado 4 de Maio de 2024

Nacional

É necessário fazer um balanço da Frente de Esquerda para superar a conciliação de classes e impulsionar uma política que fortaleça o classismo e os revolucionários

10 Dec 2006   |   comentários

Do ponto de vista eleitoral pode-se dizer que a Frente de Esquerda, em especial o PSOL, foi bem. Ainda considerando que a expectativa criada era maior, Heloisa Helena obteve mais de 6 milhões de votos, o PSOL elegeu três deputados federais e alguns deputados estaduais. No entanto um balanço sério deve ser feito analisando em que a Frente de Esquerda ajudou a fortalecer o movimento operário, o avanço de sua consciência de classe e as posições políticas daqueles que se reivindicam revolucionários na vanguarda e no movimento de massas.

Deste ponto de vista a Frente de Esquerda foi um enorme fracasso. A campanha de Heloísa Helena foi toda pautada numa política e num programa de conciliação de classes, cuja uma das grandes bandeiras popularizadas foi a da necessidade de redução da taxa de juros, demanda compartilhada até pela Fiesp. Durante a greve da Volks Heloísa Helena defendeu que o BNDES continuasse a financiar essa patronal que estava demitindo em massa. Heloísa Helena abandonou a perspectiva de uma reforma agrária “na lei ou na marra” , defendendo a repartição de terras nos restritos marcos da atual constituição. Andou para trás em relação a revolução francesa ao abandonar a perspectiva de uma candidatura laica, ao se postular como cristã. Abandonou o movimento feminista e a defesa do direito ao aborto. Sequer defendeu o não pagamento da divida pública e sim sua renegociação. Sua campanha dificilmente poderia ter sido pior. E é claro, fez isso passando por cima da base do seu próprio partido.

Se diluindo atrás de uma candidatura tão conservadora, toda a esquerda que se reivindica revolucionária fez uma eleição muito ruim. Dentro do PSOL quem se fortaleceu foram os setores abertamente reformistas como Plínio de Arruda Sampaio, em São Paulo, ou a APS, corrente do deputado federal reeleito, Ivan Valente. O PSTU viu sua influência eleitoral diminuir em relação a 2002, tanto no número de votos como em relação às suas principais figuras públicas que foram abandonadas, como Zé Maria. Se diluindo numa Frente que defendeu a conciliação de classes o PSTU condenou a Conlutas ao ostracismo durante a campanha eleitoral, apesar da disposição de luta dos metalúrgicos neste mesmo momento e da histórica greve da Volks.

Não podemos fazer um balanço positivo da Frente de Esquerda, com o critério de que esta teria “garantido a unidade” . Não podemos fechar os olhos e deixar de ver que essa unidade fortaleceu Heloísa Helena e os setores reformistas do PSOL e enfraqueceu aqueles que se reivindicam revolucionários como o PSTU e a CST/PSOL. Que essa unidade fortaleceu os setores mais oportunistas da vanguarda em detrimento dos trabalhadores combativos da Conlutas. Não podemos comemorar uma unidade que ajudou a afastar ainda mais a perspectiva da revolução perante o movimento de massas ao apresentar o socialismo somente como “uma declaração de amor a humanidade” e não como uma estratégia e um programa para a revolução social.

A crise que se abriu no PSOL, em especial no MES e na CST, não cai do céu, ainda que sua origem não seja um acordo com essas posições que defendemos aqui. Podemos esperar mais crises no PSOL, pois um partido que busca apagar as diferenças entre os reformistas e os que se reivindicam revolucionários só pode fortalecer os reformistas e gerar crises naqueles que defendem uma perspectiva revolucionária.

Chamamos o PSTU e os companheiros do PSOL que ainda defendem a perspectiva da revolução social a fazer um balanço profundo do seu curso de adaptação ao reformismo para corrigir a tempo os erros que levaram à inexistência de uma alternativa classista nessas eleições. Fazemos esse chamado, pois frente à possibilidade de enfrentamentos mais agudos da luta de classes no segundo mandato de Lula a inexistência de um pólo classista que se coloque abertamente perante o movimento de massas vai custar ainda mais caro. A partir do balanço da experiência negativa que significou a Frente de Esquerda, e considerando os enormes desafios que estão colocados para o movimento de massas no próximo período, é necessário avançar para uma unidade que avance em resgatar uma política classista no movimento operário e que possa fortalecer as posições revolucionárias entre as massas, combatendo as estratégias de conciliação de classes e de defesa da democracia burguesa. Esse é o único caminho que pode evitar que os trabalhadores sejam levados, de pés e mãos atados, a novas derrotas históricas nos próximos quatro anos.

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