Sexta 3 de Maio de 2024

Juventude

Surge um novo movimento estudantil

É necessária uma coordenação nacional democrática e combativa que responda aos problemas reais dos estudantes

08 Aug 2007   |   comentários

Após anos de paralisia a greve das estaduais paulistas marcou o surgimento de um novo movimento estudantil, com assembléias massivas, métodos radicalizados e rechaço às direções burocráticas tradicionais. Nossas ocupações e greve despertaram uma vanguarda em todo o país ao colocar nacionalmente o debate sobre a política da burguesia e seus governos para a universidade pública. Não poderia ser diferente em se tratando de uma das principais lutas do movimento estudantil brasileiro desde ”™68.

Porém, se mostrou mais uma vez a debilidade da inexistência de uma coordenação nacional democrática e combativa, que unificasse todos os que querem dar uma saída progressiva à crise do sistema universitário elitista e racista brasileiro, organizada de baixo para cima, superando as direções burocráticas tradicionais, e colocando em xeque os planos de Lula, e dos governos estaduais como o de Serra.

Nós da LER-QI, junto a companheiros independentes no Movimento A Plenos Pulmões, sempre atuamos na Conlute (Coordenação Nacional de Lutas dos Estudantes) e, posteriormente, na Frente de Luta contra a Reforma Universitária[1], lutando por essa perspectiva como uma fração minoritária. Fazemos isso porque é fundamental a unidade dos setores anti-governistas, que incluem o PSOL e o PSTU, apesar de todas as diferenças que temos e nunca ocultamos, para enfrentar a burocracia da UNE e os ataques.

Frente ao surgimento desse novo movimento estudantil, todos os setores buscam se re-localizar, do PCdoB ao PSTU. Queremos com esse artigo abrir um debate com os companheiros independentes do Movimento A Plenos Pulmões e os estudantes em todo o país sobre que alternativa propomos.

A UNE como alternativa... burocrática e governista

Há tempos rechaçada pela vanguarda e desacreditada ou desconhecida devido a seu imobilismo pela maioria dos estudantes, na greve das estaduais paulista a UNE foi praticamente proibida de participar dos fóruns reais do movimento após colocar-se ao lado da reitoria contra a ocupação da USP. Confirma-se novamente a dicotomia entre UNE e lutadores.

A burocracia e as fraudes dos stalinistas da UJS/PcdoB e aliados (PT, PMDB e Cia) já são tão absurdas que chegam ao ponto da mídia saber do resultado da “nova” diretoria antes da votação do ultra-burocrático CONUNE (Congresso da UNE)[2]. Pior ainda, cada dia que passa a UNE aprofunda sua relação promíscua com o Estado burguês e o governo Lula. A recompensa pelo seu servilismo é significativa: mais de R$5,3 milhões. Impossível qualquer sombra de independência desta entidade.

Com o surgimento desse novo movimento estudantil, a UNE vem tentando se re-localizar aprovando uma “jornada de lutas” , como em meio à ocupação da Reitoria da USP, enquanto a UNE chamava “ocupações em todo o país” previamente acordadas com o governo, em São Paulo lançava notas pela desocupação[3] e em Alagoas (UFAL) era expulsa pelos estudantes. Não contente, em seu CONUNE diz que apóia as ocupações! Mais uma manobra que merece o rechaço dos estudantes de todo o país e deve ser desmascarada.

Infelizmente, a burocracia da UNE póde tentar se re-localizar em seu congresso sem que o movimento estudantil combativo conseguisse fazer frente a essa manobra com uma política ativa, como poderia ser um Encontro paralelo. Aqui cabe grande responsabilidade ao PSTU como organização nacional, já que o PSOL segue preferindo manter sua “unidade” na UNE com a burocracia do PCdoB.

A Conlute e a Frente de Luta contra a Reforma Universitária: é necessário mudar o rumo

A Conlute surge com o objetivo declarado de coordenar nacionalmente a luta dos estudantes, como uma iniciativa do PSTU. Já se foram alguns anos e não se fez nenhum balanço sério dessa política, em especial por parte do PSTU que é amplamente majoritário. Não vamos aqui aprofundar nisso, mas apenas remarcar alguns elementos fundamentais para o debate atual.

A Conlute ficou praticamente restrita ao que é o PSTU que, por sua política, limitou seu desenvolvimento como alternativa real. Até a realização do Encontro Nacional dos Estudantes (ENE), ano passado, que aconteceu junto ao CONAT (Congresso Nacional de Trabalhadores), o PSTU ainda acreditava que era possível que o PSOL e todos os setores combativos o seguissem na construção da Conlute e, numa luta de aparatos contra o PSOL, se negava sistematicamente a lutar por um pólo anti-governista e anti-burocrático. Nossa batalha sempre foi contra essa perspectiva de colocar o organizativo (estar na Conlute ou não), na frente do político (a necessidade de um programa correto e a unificação dos anti-governistas a partir das bases). Esta política para a Conlute estava de acordo com a política nacional do PSTU “pré-CONAT” , que tentava se localizar “à esquerda” com seu “Fora Todos” e a auto-proclamação do PSTU, da Conlutas e da Conlute.
No movimento estudantil, essa política teve o ENE como último marco à esquerda. No ENE votamos resoluções importantes (muitas contra a vontade do PSTU) que se fossem levadas seriamente poderiam ser um avanço na construção de uma coordenação de lutas, buscando a aliança operário-estudantil, uma organização democrática da CONLUTE, a construção de um Congresso com delegados eleitos nas bases e uma nova orientação para a CONLUTE unificar os antigovernistas. Mas, até hoje estas resoluções não foram sequer publicadas, quanto mais levadas adiante.

O PSTU passou burocraticamente por cima das resoluções do ENE e agora sua política sectária mostrou sua contra-cara. De uma política de disputa acirrada com o PSOL, giraram 180 graus para o lançamento da campanha de Heloísa Helena, se dissolvendo atrás da política do PSOL. “Pós-CONAT” , temos um PSTU que é cada vez mais... PSOL. De uma posição de construir a CONLUTE como única alternativa, agora colocam-se dispostos a rifar a CONLUTE para construir um novo aparato a partir da Frente de Luta Contra a Reforma Universitária. Muda a política, mas não muda a lógica. Agora, lança junto a setores do PSOL um chamado à construção de uma nova entidade, também sem nenhuma discussão na Conlute.

Não somente somos favoráveis a um pólo unitário para combater o governo, como sempre lutamos por isso, inclusive contra a linha do PSTU para a Conlute. Por isso, também travaremos uma batalha nessa Frente para que não seja mais um aparato que não arme a luta dos estudantes nacionalmente, que deveria partir de impulsionar uma campanha nacional contra a repressão que vem sendo descarregada sobre os lutadores no movimento estudantil, operário e social. Basta de “coordenações” nacionais descoladas dos problemas da vida real dos estudantes e dos trabalhadores. Mas não é isso que vem se dando.

Em primeiro lugar, essa nova Frente surgiu com os velhos métodos. Todos os seus fóruns encaminham por “consenso” , isto é, com direito de veto do PSOL que sempre rebaixa a política. A construção de uma alternativa deve romper com os vícios herdados da UNE e de seus congressos em que primam os acordos de correntes por fora da discussão real com os estudantes. O “consenso” acaba funcionando como um mecanismo para garantir que se encaminhem somente os acordos entre o PSTU e o PSOL, enquanto a divergência sequer se discute, como ocorreu no Encontro Nacional no dia 26 de Março, onde demos uma importante batalha política junto a vários setores. Precisamos de uma coordenação com democracia real, em que haja total liberdade de crítica e de decisão, em que soberanamente a maioria possa decidir os rumos a se tomar, sem nenhum impeditivo.

Mas não se trata somente de um problema democrático. Sem um programa que parta de responder aos problemas mais candentes da realidade, em primeiro lugar a repressão, como parte de uma política que responda à crise do sistema universitário nacional, desmascarando a política do governo Lula que é de pequenas concessões e muita demagogia, para passar grandes ataques, como se expressa no PROUNI e no REUNI, não poderemos avançar para nenhuma luta séria.

Por uma coordenação nacional democrática e combativa

Para potencializar esse novo movimento estudantil que começa a surgir, única forma de derrotarmos os ataques e passar à ofensiva, é fundamental forjar uma nova tradição democrática e combativa. Aqui, mais uma vez não se trata de um problema organizativo, mas político. Por isso, seguiremos lutando na Conlute, na Frente ou em uma nova organização nacional por uma verdadeira coordenação nacional de lutas.

É necessário um movimento estudantil que se organize de “baixo pra cima” , que seja massivo e ligado aos estudantes nas salas de aula. Para organizar estudantes democraticamente em todo o país, garantindo que se expressem amplos setores e todas as posições, é necessário que nos Encontros Nacionais consigamos expressar as discussões que acontecem na base, para isto devem se compor por delegados com mandatos eleitos em assembléias por unidade de ensino. De que adiantam esses encontros parlamentares, em que tudo já foi decidido previamente, onde só participam as correntes e alguns independentes que não representam a posição real da massa dos estudantes? Não vamos fazer coro com o PSOL e o PSTU que sempre dizem que todos esses encontros são “vitoriosos” só pelo fato de acontecerem, votarem um calendário previamente acordado e, às vezes, votar mil “bandeiras” que são papel molhado.

Necessitamos nos coordenar nacionalmente para enfrentar a repressão e lutar seriamente contra os ataques do governo, coordenando as lutas. Basta de encontros para discursos descolados dos processos reais de luta, enquanto os ataques e a repressão seguem passando. Somente respondendo aos problemas mais candentes, poderemos passar à ofensiva por uma saída efetiva à crise do sistema universitário nacional, ligando os estudantes das universidades públicas e privadas, à classe trabalhadora e à juventude secundarista para lutar pelo fim do vestibular, pela estatização das universidades particulares sob controle da comunidade e por uma universidade a serviço dos trabalhadores.

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