Segunda 29 de Abril de 2024

Nacional

Duas tendências da situação política em 2007

11 Dec 2007   |   comentários

A dificuldade para conformar uma base parlamentar sólida, a mesma que esteve na origem do escândalo do mensalão em 2005, paralisou o governo Lula em vários momentos ao longo do ano. A cada votação que o governo propõe, necessita negociar cargos e favorecimentos em separado com cada ala do PMDB, do PT e inclusive da própria oposição. Se nos próximos dias o governo Lula for derrotado na votação da CPMF, os mesmos analistas que diagnosticaram a enorme força de Lula em 2006, com a mesma superficialidade, vão agora diagnosticar sua fragilidade [1].

Ao longo de 2007 vimos, em linhas gerais, duas tendências políticas que certamente vão se aprofundar na medida em que o governo Lula avance com os seus ataques. Assim que Lula conseguiu, não sem contradições, montar um gabinete presidencial que abarcasse os distintos interesses de sua heterogênea base governista, a burguesia tentou aproveitar a relativa força do governo pós eleições para avançar nos seus planos contra os trabalhadores. Nacionalmente, pressionou pela aprovação da chamada “Emenda 3” , que previa uma enorme flexibilização das leis trabalhistas. Nos estados, avançou em uma série de decretos, como os de Serra em São Paulo, para atacar o funcionalismo publico e os serviços prestados a população. Esses ataques foram respondidos com greves e mobilizações em todo o país, com destaque para o movimento estudantil no estado de São Paulo e para o funcionalismo público em especial no nordeste. Até mesmo a CUT e a Força Sindical se viram obrigadas a convocar ações de luta contra a “Emenda 3” , pressionando o Parlamento para que mantivesse o veto de Lula e essa medida. O primeiro semestre mostrou uma tendência inicial à intervenção do movimento de massas na luta contra os ataques dos distintos governos e mostrou que frente a medidas que ataquem também seus próprios privilégios e frente a pressão das bases, a burocracia cutista pode convocar algumas ações de luta para mostrar poder de mobilização e manter seu peso nas mesas de negociação com o governo e a burguesia.

Enquanto se desenvolviam esses processos de luta, mais uma vez as crises na sua base parlamentar levaram o governo Lula à paralisia. O escândalo de que atingiu Renan Calheiros, um importante aliado de Lula na presidência do Senado, obrigou o governo a frear provisoriamente a ofensiva que estava iniciando.

Depois que o governo conseguiu salvar Renan Calheiros e estabilizar ainda que parcialmente e momentaneamente a situação de crises no Congresso; com o desvio dos processos de luta do 1º semestre contando com a ajuda imprescindível da burocracia governista da CUT; e em alguns casos com a imposição de importantes derrotas aos trabalhadores mobilizados, se abriu uma nova dinâmica. A burguesia retomou, em certa medida, a ofensiva e começou a avançar com medidas repressivas contra os trabalhadores e os setores mobilizados. O auge destas medidas foi o ataque ao direito de greve aprovado pelo STF e as ações repressivas contra as ocupações de reitoria. Essa nova dinâmica motorizou o clima de repressão social como resposta a crise de violência urbana e é inclusive o que está na base da grande repercussão do filme “tropa de elite” e de declarações facistizantes como a do governador do Rio (ver manteria no PO n° 34).

A questão fundamental que se coloca é que por hora, nenhuma das duas tendências conseguiu se aprofundar, pois o crescimento da economia e a popularidade de Lula funcionam como um amortecedor em relação às tendências de maior luta de classes e de maior polarização social. Para evitar greves a patronal têm dado migalhas aos setores mais organizados da classe trabalhadora através de reajustes salariais que, pelo menos formalmente, recuperam as perdas provocadas pela inflação e cada ano, o que fortalece o prestígio da burocracia. De um lado as sucessivas crises políticas no parlamento impedem que se conforme uma base governista sólida, que permita ao governo Lula e aos governos estaduais aproveitar as derrotas e os desvios das lutas dos trabalhadores para avançar em derrotas mais profundas ao movimento de massas. De outro lado, a adaptação das forças da esquerda anti-governista a uma dinâmica de pressão sobre o parlamento e sobre o governo e ações midiáticas descoladas da luta de classes e da luta política envolvendo a base dos sindicatos da Conlutas e da Intersindical a partir do local de trabalho, tem impedido que setores do movimento de massas que se colocam à esquerda de Lula e do PT se coloquem mais no centro da situação nacional. É necessário impulsionar um plano de luta que supere estes obstáculos.

[1Em nossa visão, apesar da sua enorme popularidade, o governo Lula enfrenta uma série de contradições que podem desestabilizar o seu governo. Após o resultado da CPMF, que se definirá depois do fechamento desta edição, publicaremos um artigo analisando a situação do governo.

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