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Internacional

Declaração do PTS sobre os resultados das eleições presidenciais na Argentina

03 Nov 2007   |   comentários

Com a vitória de Cristina Fernández de Kirchner, com quase 45% dos votos, se votou pela continuidade da política do governo de Kirchner.
Enquanto os trabalhadores e grandes setores do povo pobre votaram com a ilusão de manter certa estabilidade económica após a recuperação posterior à enorme crise capitalista de 2001, amplos setores das classes médias das principais cidades do país votaram em Carrió, e em menor medidade em Lavagna, dando menos importância à recuperação económica (que inclusive os beneficiaram mais que aos trabalhadores), criticando os aspectos mais “autoritários” da gestão kirchnerista e buscando uma maior “normalidade institucional” .
Neste marco foi ruim aos candidatos da direita que fizeram alarde da mão dura e da repressão (Sobisch, Patti, Blumberg), pese que ’ com uma notória diferença em relação à esquerda ’ contaram com uma enorme presença em jornais, rádio e TV. O mesmo aconteceu com o repudiado ex-ministro da economia de De La Rua , Ricardo López Murphy, que não conseguiu sequer ser eleito deputado pela província de Buenos Aires.

O que esta eleição deixa claro é que, baseado em um ciclo excepcional de crescimento económico (ainda que pouco provável que seja duradouro) da economia internacional, a classe dominante de conjunto tem conseguido superar o enorme trauma que ela mesma tinha provocado com a maior alta do desemprego na história nacional e a confiscação das poupanças das classes médias. Os analistas burgueses se entusiasmam pensando que está voltando a se reconstruir um certo bipartidarismo onde Kirchner disputaria pelo PJ e Carrió representaria a tradicional mescla de setores “progressistas” e "gorilas” que historicamente representou a UCR.

Tanto Cristina Fernández como Carrió têm a ilusão de que o crescimento argentino será de longo prazo e do que se trata é de suavizar melhor as medidas que tomam contra o povo trabalhador. Entretanto, qualquer um que observe com alguma atenção o cenário internacional verá, como hoje mesmo publicam vários meios de comunicação, que existem grandes nuvens sobre a economia norte-americana e sobre o conjunto da economia internacional, as quais a Argentina não poderá escapar. Como dissemos durante a campanha eleitoral, se a recuperação económica de K, com quatro anos e meio de crescimento recorde, não consegui incorporar 43% da classe trabalhadora que está em péssimas condições e recebe salários de fome, o panorama que se avizinha será muito pior. A dívida externa, apesar do discurso oficial, continua sendo uma enorme drenagem de recursos para a economia nacional: no pressuposto de 2008 se estabelecem para o pagamento de juros mais fundos do que para a educação e saúde juntos. Nas próximas horas começarão a discutir a implementação de ajustes nas tarifas do gás e da eletricidade domiciliares, enquanto que a inflação segue carcomendo os bolsos do povo trabalhador. O matrimónio K é totalmente consciente de que no mandato de Cristina Kirchner esta situação provocará uma tendência ao aumento das reivindicações dos trabalhadores e por isso sua proposta central é fazer um Pacto Social com os empresários, que dia-a-dia desnacionalizam empresas e depositam dinheiro no exterior, e com todas as alas da podre burocracia sindical, para impedir a emergência do movimento operário, o que os oficialista e opositores temem enormemente.

Desde de 2004 temos visto uma grande quantidade de conflitos impulsionados por delegados de base e comissões internas combativas que tentam superar as direções burocráticas, as pautas salariais do governo e as enormes travas à organização sindica nos locais de trabalho. É na perspectiva do desenvolvimento destes processos, que por hora em sua maioria não se transformaram em conflitos políticos contra o governo, que devemos analisar o futuro e os desafios da esquerda.

Nas eleições, onde toda a “discussão” política se rege pelo monopólio absoluto dos grandes meios de difusão capitalistas que deixam de fora todas as opiniões daqueles que se opõem ao sistema (e inclusive neste caso, o aparato do PJ e o governo se organizaram para que não haja cédulas de todos os partidos), a esquera obteve um resultado enxuto. A Frente de Esquerda e os Trabalhadores pelo Socialismo (FITS), da qual o PTS faz parte, obteve mais de 95.000 votos em todo o país. O PO, quase 115.000 (baixando sensivelmente seus resultados anteriores). Lamentavelmente, a negativa do PO a se integrar neste importante reagrupamento da esquerda classista impediu constituir um pólo que tivesse partido de 200.000 votos, não somente aos partidos burgueses, mas também frente às falsas variantes de esquerda como Pino Solanas (que obteve 290.000 votos), quem foi fundador do FrePaSo e que, por seu caráter de classe e sua polítca, não pode ser nenhuma alternativa para os trabalhadores.

Também nesse marco, pode se comprovar a desastrosa política do MST de Vilma Ripoll, que dialogou com Solanas e acabou apresentando uma candidatura com um programa e uma política ambíguas que lhe provou uma enorme perca em sua prévia de votos, ainda quando teve uma notória aparição midiática superior ao do resto das forças de esquerda.

Ainda dentro destes estreito marcos, nesta campanha eleitoral nossa maior conquista foi difundir a idéia da necessidade da independência política dos trabalhadores para levantar um programa operário anti-capitalista. Agora, do que se trata é de participar nas lutas operárias, estudantis e do conjunto do povo, impulsionando o reagrupamento da esquerda que se reivindica classista com a clara perspectiva política de sentar as bases da construção de um grande partido da classe trabalhadora. Ainda que hoje, todo o enorme aparato midiático tenta nos convencer de que as variantes burguesas são fortíssimas e inatingíveis, devemos nos esforçar para explicar para os trabalhadores conscientes e aos estudantes de esquerda, aos lutadores combativos contra a impunidade dos genocidas e pelos direitos da mulher, de que toda sua atividade será favorecida pela desilusão que provocaram nas grandes massas as políticas empresariais de Cristina K e que deveremos nos preparar para maiores convulsões quando a crise capitalista internacional inicial complique o clima relativamente tranqüilo que tem tido as classes dominantes nos últimos anos na Argentina. Essa é a nossa aposta e, agradecendo os quase 100.000 companheiros e companheiras que votaram na FITS, os convocamos a participar ativamente com esta política e esta perspectiva.

Traduzido por Clarissa Lemos

O Partido de los Trabajadores Socialistas (PTS) é a organização irmã da LER-QI na Argentina, e também faz parte da Fração Trotskista - Quarta Internacional

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