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Movimento Operário

Lear: Novos Avanços na Luta

18 Aug 2014   |   comentários

A luta de Lear já atravessa sua sétima semana. Nestes dias pudemos ver como a aliança entre a patronal, o governo e o SMATA lançaram uma dura campanha de mentiras e de machartismo. Mesmo assim, assim que iniciada a quinta jornada nacional, a popularidade e simpatia por estes

A luta de Lear já atravessa sua sétima semana. Nestes dias pudemos ver como a aliança entre a patronal, o governo e o SMATA lançaram uma dura campanha de mentiras e de machartismo [1]. Mesmo assim, logo que foi iniciada a quinta jornada nacional de luta, a popularidade e simpatia por estes trabalhadores e suas famílias só tem aumentado, sua luta virou uma referência de como enfrentar demissões. Com mais força, continua a luta para que todos sejam readmitidos.

A quinta jornada nacional de luta

Na sexta-feira dia 08, durante o lockout [fechamento patronal da fábrica] orquestrado pela empresa com a Verde [2] de Piganelli, voltaram a se encontrar nos portões da empresa os demitidos, sua Comissão Interna legítima e centenas de trabalhadores, professores e estudantes do PTS e outras organizações solidárias. Com uma grande cobertura midiática, um lema marcou a jornada: “Lear território norte-americano, não é regida pela legislação argentina”. O ato exigiu que se cumprisse as sentenças que ordenavam o ingresso dos delegados da Comissão Interna. Novamente uma caravana surpresa interrompia a Panamericana e a Polícia Federal apanhada de surpresa montava uma nova provocação, freando os automóveis e simulando um acidente.

Numa operação escandalosa que recebeu o repúdio dos próprios jornalistas agredidos pelos soldados de Berni, foram detidos Victoria Moyano (neta restituída, filha de trabalhadores assassinados pela ditadura militar), Patricio del Corro (deputado portenho eleito pela FIT), Ghuillermo Pistonesi (presidente do Centro de Profissionais dos Direitos Humanos, CeProDH) e Maria Chaves (professora da UBA e dirigente do Pão e Rosas), todos eles militantes do PTS.

Neste mesmo dia Capitanich usava sua coletiva de imprensa para defender a empresa, Scioli felicitava o acionamento da Polícia Federal e Tomada criticava aqueles com quem se confrontava, ocultando, no entanto, o fato de que mais de 60 famílias ainda estão na rua. Mas junto a Mirta Baravalle (Mãe da Praça de Maio – Linha Fundadora) centenas de pronunciamentos nacionais e internacionais contra a repressão e pela liberação dos detidos, incluindo setores como o CELS ou figuras como Pablo Ferreyra. O dia acabou com os companheiros sendo liberados.

Simultaneamente, ocorria um piquete na fábrica de autopeças Johnson Controls em Garín para exigir a reincorporação de Ignacio Ríos, referência operária independente da burocracia do SMATA, demitido por lutar por melhores condições de trabalho, que paralisava a produção da Ford. Em Lear começava a reinstalação do primeiro delegado, Gustavo Troccaioli. A jornada estendeu-se nacionalmente com o corte da ponte Neuquén-Cipolleti, da rodovia Rosário-Buenos Aires, na ponte Lucas Córdoba em Tucumán, em frente ao prédio do Governo em Mendoza, e no trajeto inter-fabril em Córdoba. Em Neuquén realizava-se um escracho na sede da Polícia Federal.

Durante o fim de semana dezenas de famílias ocuparam o acampamento no festival do dia das crianças. Também foram realizados festivais em La Plata, Capital, Campana, San Miguel e na Faculdade de Ciências Sociais da UBA, para fortalecer o fundo de greve. Já está chegando a meio milhão de pesos, a enorme maioria deste tendo sido juntados por companheiras e companheiros do PTS.

Entram os delegados, fica evidente a extorsão patronal

Na terça-feira, novamente nos concentrávamos para acompanhar este importante passo adiante: o ingresso de todos os delegados, enquanto segue a luta para que entrem todos os demitidos. O Ministério estava presente para que se fossem cumpridos os 12 mandados que ordenavam a reinstalação dos delegados Ruben Matu, Silvio Fanti e Gustavo Farias. A empresa fechou suas portas para impedir a entrada, mas se lavrou um documento dentro da fábrica na qual restabelecia os delegados ao seu posto sindical comprometendo o ministério a voltar quando acabasse o lockout para fazer cumprir a ação. O ministério começou a fazer serem cumpridas as sentenças judiciais alcançadas com a luta e com ajuda dos advogados do CeProDH (Centro de Profisionais de Direitos Humanos). Um problema não só para a patronal, mas também para a Verde de Pignarelli, que no dia anterior havia lançado um anúncio com ameaças, contra os “ex delegados”, “que se atribuem uma representatividade que não lhes corresponde”. Este fato constitui um reconhecimento não só da legitimidade dos representantes votados por 70% dos trabalhadores, além de reconhecer que o lockout empreendido por Lear é uma medida extorsiva para frear o ingresso destes representantes. Enquanto isso, o próprio Berni, que atua como gerente da patronal, reconhece que vão contratar mais gente. As justificativas da empresa que quer deixar o país perdem a credibilidade.

Os novos ataques da SMATA e as mentiras do governo

Nesta semana o SMATA publicou anúncios milionários nos quais não é dita uma palavra sobre as demissões e suspensões na indústria automotiva, somente se limita a atacar os delegados de Lear e, ao melhor estilo Pedraza, anuncia que se não atuarem a Justiça ou o governo, o sindicato atuará contra quem lutar por sua re-incorporação.
Berni e Capitanich são parte desta campanha do SMATA e da patronal para desprestigiar uma luta que conta com grande popularidade. Berni chegou ao extremo de mentir publicamente quando disse que o conflito teria começado porque a atividade da comissão interna “sabotou a produção”. A realidade é que a patronal não havia registrado nenhuma acusação até depois das demissões. E quando o fez, foi rechaçada pela justiça de imediato. O ataque à Interna começou quando esta se negou a fechar acordos por baixo como haviam planejado a patronal e o SMATA.

No meio deste cenário, a burocracia de Pignarelli vinha preparando uma nova fraude e um novo ataque contra os trabalhadores. Os mandados judiciais são contundentes em relação à legitimidade da Comissão Interna, e até que sejam cumpridos os mandados, não se pode “inovar” sobre a condição dos delegados sindicais. Além disso, a Verde recebeu um duro golpe judicial que invalidou a assembléia manipulada que pretendia revogar os mandatos dos delegados. Agora acusa o golpe e está organizando uma nova “assembléia” para que os trabalhadores de Lear “votem” contra seus delegados. Já no anúncio se refere aos cinco membros da Comissão Interna como “ex-delegados”, mostrando que se predispõem a fraudar novamente contra o que estabeleciam diversos mandados judiciais contra a ação do próprio Ministério do Trabalho que enviou inspetores para reinstalar os delegados.

Se a assembleia anterior havia sido convocada sob ameaça de demissões e mediante o sequestro dos trabalhadores (levados ao sindicato rodeados de bate-paus), a assembleia que vão convocar a semana que vem será nada menos que depois do lockout da patronal. Ou seja, chamam uma assembléia sob o medo e a coerção, semanas depois que os delegados são impedidos ilegalmente de ter contato com seus próprios companheiros e inclusive dizendo como consta em diversos áudios que se não votam contra os delegados a fábrica fechará. Inclusive, o sindicato chegaria ao extremo de deixar de fora desta assembléia os demitidos que lutam pelo seu reingresso, no meio de um conflito aberto que já conseguiu reincorporar 61 trabalhadores. Os que poderão votar, pelo mandato do SMATA, são os setores hierárquicos da empresa.

Por tudo isto, os trabalhadores de Lear e a Comissão Interna, começaram a denunciar esta nova extorsão e a manobra ilegal.

Novas forças para enfrentá-los

A luta dos demitidos de Lear segue firme, aparecendo na mídia e gozando de uma enorme simpatia popular. Nesta semana se uniu com a luta dos operários de Donnelley, que ocuparam a fábrica assim que foi anunciado seu fechamento, para garantir os postos de trabalho de todos. Hoje as bandeiras de “famílias nas ruas nunca mais” unem os trabalhadores em luta, como demonstraram as assembléias de Lear e Donneley que votaram a convocatória a um Encontro de Trabalhadores em Luta para este sábado nas portas de Donnelley.

De lá sairão novas forças para unir as lutas em curso, realizar próximas ações e fincar uma bandeira contra os ataques das patronais e da burocracia.

[1Referência à política de perseguição aos comunistas nos EUA nos anos 1950. (NdoT)

[2Cor que representa a direção burocrática do SMATA (Sindicato Metalúrgico da Argentina, ligado ao governo de Cristina Kirchner). (NdoT).

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