Segunda 29 de Abril de 2024

Internacional

Contra as sanções reacionárias da ONU à Coréia do Norte e a hipocrisia do imperialismo

15 Oct 2006   |   comentários

O Conselho de Segurança da ONU - que conta como membros permanentes com os EUA, China, França, Inglaterra e Rússia ’ aprovou unanimemente no último dia 14/10 um pacote de medidas contra a Coréia do Norte. Esta é a resposta reacionária do imperialismo norte-americano aos testes nucleares realizados por este país. Estas sanções foram adotadas no momento em que o imperialismo norte-americano, em aliança com os demais integrantes do Conselho de Segurança da ONU, segue ameaçando o Irã com sanções para que este abandone seu programa de enriquecimento de urânio, parte da política de pressão do imperialismo para impedir que este se alce como potência regional no Oriente Médio.

A resolução 1718 contém uma proibição ao comércio de artigos de luxo com a Coréia do Norte, à importação e exportação de materiais usados para fabricar armas, assim como a venda de qualquer espécie de equipamento militar pesado. Define também a suspensão de ativos a qualquer país que colabore com o programa de desenvolvimento tecnológico com a Coréia do Norte. Além disso, previa a obrigatoriedade de vistoriar qualquer embarcação que circulasse pelo litoral da Coréia do Norte, cláusula polêmica que ganhou uma versão atenuada, já que da maneira como estava formulada inicialmente abria precedentes para que o imperialismo fiscalizasse navios que estivessem indo em direção à China, país chave para a geopolítica da região. Dessa maneira, a China encontra-se numa situação contraditória, já que por um lado se nega a apoiar qualquer tipo de intervenção violenta sobre a Coréia do Norte, sobre a qual exerce uma importante influência, por outro é obrigada a endurecer seu discurso para não se enfrentar com o imperialismo. Trata-se de uma confirmação da política extremamente reacionária dos neoconservadores em âmbito internacional, apesar de não ter se revertido em uma medida baseada no uso da força em grande parte devido ao debilitamento relativo que os EUA vêm tendo no Oriente Médio, mas também pelas contradições que isso traria com a Rússia e especialmente a China. Dessa maneira, as sanções sobre a Coréia do Norte podem fazer saltar no cenário político novas tensões.

O que está envolvido na questão da Coréia do Norte

A inclusão da Coréia do Norte no chamado “eixo do mal” por Bush não se deu por acaso. A política de pressão constante e ameaças desferidas pelos neoconservadores sobre Pyongyang (capital do país) visam atender a seus interesses na estratégica região da à sia. Assim como no Oriente Médio, impõe-se que na à sia os EUA busquem redefinir suas vias de dominação sobre para manter sua localização como potência hegemónica, após o fim da URSS, em nums situação marcada pela crescente importância da China como “montadora mundial” . Dessa maneira, o imperialismo tem atuado ao longo dos últimos anos com políticas económicas que são grandes ataques, como a exclusão deste país do sistema bancário internacional, e que têm debilitado enormemente a economia daquele país, questão que foi aprofundada a partir da ascensão do governo de Bush. Isso é parte de uma política que busca disciplinar não só a própria Coréia do Norte, que apesar de ser dominada por uma burocracia extremamente decadente mantém rusgas reais com o imperialismo, mas disciplinar também a China e controlar suas aspirações de aprofundar sua influência regional. Paralelamente, os EUA tentam também impedir a unificação das Coréias num país capitalista, o que por sua vez poderia levar a que se forjasse um novo competidor na região, questão para a qual suas políticas contam com o apoio do Japão. Por fim, tenta controlar as aspirações também do Japão, que, após praticamente uma década de recessão, tem com a eleição de Shinzo Abe ensaiado movimentos que indicam uma provável tentativa de cumprir um papel mais protagonista na região, aprofundando relações económicas com a China e a própria Coréia do Norte, ao mesmo tempo em que declara que “também deveria desenvolver armamentos nucleares” .

Entretanto, o grande foco das contradições é a China, que mantém um regime de colaboração com Pyongyang e que pela primeira vez fez declarações de represália em relação a este, respondendo às pressões do imperialismo. O mais provável é que a China busque se equilibrar entre o imperialismo como parte de sua “integração” a “comunidade internacional” , sem romper com a Coréia do Norte com quem mantém grandes acordos comerciais. Dessa maneira, apesar da unidade costurada pelo imperialismo para se chegar às sanções no Conselho de Segurança, a implementação das mesmas implica trazer à tona as tensões regionais.

A hipocrisia do imperialismo e sua política de “desarmamento”

Sob o argumento de “defender a paz mundial” o imperialismo norte-americano, aliado aos demais imperialismos europeus e asiáticos, como o Japão, não economizam cinismo ao utilizarem um discurso pacifista para condenar os testes nucleares realizados pela Coréia do Norte. Os EUA e as potências européias desenvolveram ao longo de anos arsenais nucleares com potencialidade para destruir o mundo inteiro, e inclusive desrespeitam cotidianamente os tratados que criam para limitar o desenvolvimento da tecnologia nuclear imposto a todas as outras nações. Isto comprova que esta discussão “pacifista” nada mais é que um discurso pró-imperialista que busca legitimar o “direito” dos imperialismos de oprimir os povos mundo afora.

Isso sem contar o fato de que o imperialismo norte-americano foi o único que detonou bombas atómicas, arrasando as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki ao final da 2º Guerra Mundial quando este país já estava praticamente rendido. Hoje, frente às recentes medidas aprovadas no Senado norte-americano que literalmente legalizam a tortura de qualquer cidadão do mundo, e à sua política belicista de ofensivas militares como no Iraque e no Afeganistão, e o patrocínio do armamento do estado sionista de Israel, tornam cada vez mais claro que este é que representa uma ameaça aos povos do mundo inteiro. Por isso, defendemos o direito soberano da Coréia do Norte, ou de qualquer país semicolonial como o Irã, de desenvolver tecnologia nuclear para os fins que julgarem necessários, inclusive para sua defesa frente ao imperialismo, e denunciamos desde já o caráter reacionário das sanções do CS da ONU.

O que é a Coréia do Norte?

A Coréia do Norte é um estado operário profundamente deformado, onde os meios de produção são propriedade do estado, mas o controle está firmemente nas mãos de uma burocracia privilegiada, ainda que nos últimos anos esteja copiando seu par chinês e tenha começado a introduzir medidas capitalistas, acelerando a decomposição da base social do estado.

Seu regime encabeçado por Kim II-Sung (combatente guerrilheiro na China à ocupação japonesa) surgiu das entranhas da ocupação do Exército Vermelho em fins dos anos 40. Durante os primeiros anos seguiu a estrutura industrial e o domínio de seu vizinho stalinista. Posteriormente foi desenvolvendo uma ideologia autônoma, inicialmente depois do distanciamento de Moscou em 1955 e mais acabadamente a meados dos anos 60 em seu intento de encontrar uma postura independente tanto da ex URSS como de Pequim. A ideologia “Juche” (auto-suficiência) é uma das mostras mais monstruosas e extremas da “construção socialista num só país” que se mesclava sob o reinado de Kim II-Sung como uma adoração a seu líder. Após a sua morte em 1994 foi sucedido por seu filho Kim Jong-II, como Secretário Geral do PCT e Presidente da Comissão Nacional de Defesa, sendo o atual chefe do estado.

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