Quinta 2 de Maio de 2024

Movimento Operário

VENEZUELA

Começa a surgir um novo movimento operário

16 Jun 2009   |   comentários

Recentemente reabriu-se a discussão em torno da política de Chávez de propagandear as “nacionalizações” de empresas como a Oronico Iron, Sivensa e a Sidor anunciadas nas últimas semanas. Em artigos anteriores discutimos o real caráter desta política quando afirmamos: “Rapidamente, Chávez esclareceu que todas as empresas serão devidamente indenizadas, tal como fez com as transnacionais (sócias com 40%) na Faixa do Orinoco, e com o recente pagamento de 1,970 bilhões de dólares pela compra da Sidor. Como podemos observar, o que Chávez está fazendo não é nada além de uma compra direta, o que ele chama de “soberania nacional” , pagando milhões de dólares aos bancos internacionais. Quando os efeitos da crise começam a chegar ao país, o governo diminuiu o orçamento, aumentou o imposto aos produtos básicos, mas decide pagar religiosamente às transnacionais. Este pagamento não faz nada além de aumentar a hemorragia orçamentária, e é por isso que estas empresas deveriam ser expropriadas sem qualquer indenização e passar diretamente ao controle dos trabalhadores (...) ” .

Mas existe ainda outro elemento fundamental colocado na presente situação venezuelana que não tem ganhado nenhuma notoriedade: o importante processo de recomposição operária. A classe operária venezuelana aumentou objetivamente, produto do último ciclo de crescimento. Estima-se que hoje existam 8.085.725 assalariados, que equivalem a 70% da população ocupada. Esta recomposição objetiva tem contribuído para que a Venezuela venha se transformando em palco de uma série de lutas operárias, que trazem imensas lições para a classe trabalhadora de todo o continente, e que devem ser apoiadas ativamente. Sobretudo quando começa a se generalizar o método de assassinato de trabalhadores em luta por parte de bandos armados pela patronal, e pela repressão governamental. Estas lutas apesar de ainda serem de vanguarda, atingem os interesses de setores concentrados do capital internacional, como a Toyota e a Mitsubishi, que se instalaram na Venezuela em busca dos grandes lucros proporcionados pela exploração da mão-de-obra, e se beneficiando da precarização e terceirização. Resgatemos brevemente alguns destes processos que marcam um importante início da recomposição subjetiva da classe trabalhadora venezuelana.

Sanitarios Maracay: prova de que os trabalhadores não precisam de patrão

A luta da fábrica Sanitarios Maracay começou no final de 2006 quando os trabalhadores quando frente à possibilidade de fechamento da empresa, os trabalhadores decidiram apontar outra alternativa: a ocupação de fábrica produzindo sob controle operário. Durante 9 meses a fábrica funcionou nestes moldes, baseada na democracia operária, com conselho de fábrica eleito pelas bases e revogável, enquanto os trabalhadores exigiam sua nacionalização. A importância desta luta foi tão grande, que na província de Aragua este método se generalizou. Entretanto, o favorecimento da patronal pelo governo, e a repressão resultante disso foi responsável pelo retrocesso desta luta que, no entanto semeou importantes bases para a classe trabalhadora ao resgatar os métodos históricos da classe trabalhadora.

Sidor: luta contra o capital transnacional

A luta da Sidor (Siderúrgica do Orinoco) tinha como reivindicações fundamentais o contrato coletivo e o combate à transnacional Techint, que havia tomado o controle da empresa nos anos 90. Com seus métodos históricos de luta, os operários da Sidor conseguiram impor sua mobilização à burocracia sindical, e combateu a política do governo que visava isolar a luta através do favorecimento à empresa. Confiando em suas próprias forças, os operários da Sidor resistiram ao boicote midiático, à repressão regional e da Guarda Nacional e outras manobras, impondo ao governo a “nacionalização” da empresa ’ ainda que com o pagamento de indenização ’ e a expulsão da transnacional.
Mas um dos destaques na luta do Sidor foi o papel cumprido pelos 8 mil terceirizados, que reivindicavam sua incorporação à empresa nas mesmas condições que os efetivos, demanda negada pelo governo chavista tão logo a empresa passou às mãos do governo. Isso mostra que apesar do discurso “socialista do século XXI” , no que depender do governo os setores mais explorados são os que seguem tendo esta condição perpetuada. Apesar da influência do chavismo, as conquistas obtidas por Sidor não foram resultantes da política de Chávez, mas impostas pelas bases.

Mistubishi Motors: grande exemplo de combate pelos terceirizados

A luta da transnacional japonesa Mitsubishi traz imensas lições para os trabalhadores, na medida em que se desatou pela demissão de 130 trabalhadores terceirizados. Em resposta, os trabalhadores efetivos e contratados pararam e ocuparam a empresa em defesa dos terceirizados. Tanto pelo exemplo que significou, sendo um salto na unidade operária já que combatia a divisão das fileiras da classe, como pelo fato de que se desatou no momento em que o governo negociava com o Japão a incorporação da Mitsubishi na exploração dos hidrocarbonetos, esta luta foi duramente reprimida. Dois operários foram mortos pela repressão do governo chavista de Tarek Willian Saab, atendendo aos interesses da patronal japonesa. Mas frente à brutalidade da repressão, a patronal viu-se impedida de despedir massivamente.

Todas estas lutas são importantes, pois podem levar a um avanço da consciência de classe dos trabalhadores, que as iniciam com grandes ilusões de que Chávez virá em seu auxílio, e no calor do processo estes setores começam a avançar na compreensão de que ao contrário disso, tem que apostar suas forças na unidade de classe e em práticas de independência de classe. Portanto, devem ser apoiadas e propagandeadas com toda a centralidade, pelos trabalhadores do continente e suas organizações.

É preciso redobrar a campanha contra o assassinato de operários e pela punição dos culpados

No dia 5 de maio o dirigente sindical Argenis Vásquez, secretário de organização do sindicato da automotriz Toyota em Cumaná foi assassinado por capangas ao sair de sua casa. Este assassinato ocorre justamente após os trabalhadores terem protagonizado uma greve de quase um mês por suas demandas; o trabalhador assassinado liderou o protesto e era centro dos enfrentamentos com a empresa e a gerência. Tudo aponta a que se trata da “resposta” não oficial da empresa, que não póde impor sua vontade na greve.
Entretanto, não passaram mais de três meses desde que em Anzoátegui morreram os operários Pedro Suárez e Javier Marcano em mãos de uma violenta repressão da polícia regional, a cargo do governador Tarek Willian Saab, numa tentativa de desalojamento da também transnacional automotriz japonesa, Mitsubishi Motors. Os trabalhadores ocupavam a fábrica em rechaço às demissões de 135 terceirizados e por suas reivindicações.

Estes fatos se somam ao atroz assassinato de três dos principais dirigentes da União Nacional de Trabalhadores (UNT) do estado de Aragua,também em mãos de capangas que os balearam no dia 27 de novembro do ano passado, na zona de La Encrucijada. Se tratava de Richard Gallardo, presidente da seccional regional da UNT, Luís Hernandez, dirigente sindical da empresa Pepsi-Cola e Carlos Requena, delegado na empresa Produvisa, membros por sua vez da organização política Unidad Socialista de Izquierda (USI). Estes dirigentes operários estavam à frente da central sindical num dos estados de maior conflitos operários no país, e motorizavam a solidariedade de outros trabalhadores com a ocupação da transnacional colombiana Lácteos Alpina ante a ameaça de fechamento da mesma, o que havia implicado em duros choques com a repressão da polícia regional (dirigida então pelo governador Didalco Bolívar).

Somam assim seis operários mortos durante suas lutas em apenas cinco meses. Na maioria dos casos, se trata de uma política que aponta em direção à “colombianização” dos conflitos operário-patronais: o pagamento de capangas para assassinar dirigentes sindicais, amedrontar por esta via à classe trabalhadora e desarticular suas organizações. Não se deve esquecer que os trabalhadores da fábrica Sanitarios Maracay (em Aragua) também foram objeto de diversas ameaças e perseguições seletivas ao longo de sua luta; que os trabalhadores da Mitsubishi Motors denunciaram que um automóvel no qual estavam foi alvo de disparos quando estes se encontravam divulgando ao público a filmagem do assassinato de dois operários; e que em junho de 2008, Gloria Palomino, dirigente operária da empresa de ventiladores FM em Carabobo foi ferida a bala na perna enquanto estava à frente de um piquete nos portões da empresa.
Estes assassinatos (e atentados) aos trabalhadores em luta estão se transformando num método de “resolução” dos conflitos, em meio a uma grande impunidade, já que até hoje nenhum responsável pelos atentados e mortes foi apontado, julgado ou preso. Ao contrário, há um processo de criminalização do protesto dos trabalhadores, ao qual se combinam quase uma centena de trabalhadores e trabalhadoras respondendo a processos ante os tribunais por ter participado de alguma mobilização.

Chamamos a todas as organizações sindicais, de esquerda, da juventude, de direitos humanos, e aos veículos de mídia a se somarem à campanha contra o assassinato de operários em luta e pela imediata apuração e castigo dos culpados, protagonizando atos e outras ações em defesa desta demanda. Ao PSTU que impulsiona o ELAC, chamamos a protagonizar estas ações em comum, bem como às correntes do PSOL, com destaque para a CST, cuja organização internacional, UIT é a mesma de um dos dirigentes operários assassinados.

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