Sábado 4 de Maio de 2024

Nacional

TRANSPORTE PÚBLICO

Caos e revolta nos serviços de transporte

23 May 2008   |   comentários

Mais uma vez o transporte público em São Paulo volta a ser motivo de inconformismo e revolta. Na ultima quarta-feira (21/05) uma composição da Linha 11 da CPTM teve problemas operacionais na região do Tatuapé, pouco antes das 7h da manhã, e afetou cerca de 60 mil trabalhadores. Depois de mais de 30 minutos esperando a normalização do serviço, as pessoas dentro dos vagões sem janela e com o ar condicionado desligado não agüentavam mais. Muitos passavam mal e desmaiavam.

Em um ato espontâneo e sincronizado, os trabalhadores enfurecidos acionaram o sistema de emergência dos trens e ocuparam os trilhos. Essa atitude afetou outras quatro linhas e os passageiros fizeram o mesmo. Mais de 4.000 pessoas passaram três horas nos trilhos, protestando. Os mais radicalizados lançavam pedras nos trens, denunciando as péssimas condições do transporte público urbano. Recentemente os trabalhadores da zona sul tiveram a mesma atitude. Inconformados com a falta e demora dos ónibus, fizeram piquetes e barricadas no terminal Guarapiranga e só foram contidos depois de forte repressão policial.

O pior é que essa situação se agrava a cada ano. Todos os dias os trabalhadores enfrentam a mesma rotina: demoram até quatro horas em trânsito para chegarem aos seus serviços e muitas vezes são obrigados a voltar para casa pela intolerância dos chefes com o atraso. Somos transportados como se fóssemos animais, cada vez mais entulhados dentro de trens e ónibus. Se não bastasse isso, as panes também fazem parte do dia a dia dos milhares de trabalhadores que dependem dos serviços de transporte. De janeiro a abril desse ano já ocorreram 44 panes. Em 2007 foram 127 - uma a cada três dias - e em 2006, 190 ’ mais de um caso a cada 2 dias [1].

A demagogia dos políticos burgueses

Enquanto a maioria da população padece com os péssimos serviços públicos, cada vez mais sucateados e privatizados, os políticos fazem a festa com nosso dinheiro e em cima do nosso sofrimento. Lula, Serra, Kassab e Marta se encontraram essa semana, exaltando a parceria nas obras de infra-estrutura que o PAC tem realizado, sem dar a mínima para os problemas concretos por que passa a maioria da população. Discutem até a construção de um “supertrem” que ligaria Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro em pouquíssimo tempo, obviamente através de parcerias que enriquecerão ainda mais as grandes empreiteiras, com preços que somente seus apadrinhados e os mais privilegiados poderão pagar. Propõem obras faraónicas, trens bala a preços inacessíveis, mas que gerariam lucros exorbitantes, quando o povo pobre e os trabalhadores necessitam de mais trens, mais ónibus, mais metrós, em condições dignas e preços baixos. Isso seria possível com um plano operário e popular que atendesse os interesses dos trabalhadores de transportes e dos usuários, contra os lucros patronais e as negociatas entre as empresas e os políticos burgueses.

Aos mais exaltados, que não se conformam com tanta opressão e miséria e se manifestaram parando os trens, ameaçam com processos e prisões como é o caso de seis trabalhadores que foram detidos pelo suposto crime de “desastre ferroviário” . Ou seja, os verdadeiros criminosos seguem livres e impunes e os trabalhadores e o povo pagam pelo caos gerado pela burguesia e seus políticos.

Os sindicatos devem garantir a liberdade dos trabalhadores presos

Frente a mais esse descalabro ocasionado pela miséria capitalista, os sindicatos e centrais sindicais, em especial a Conlutas e a Intersindical, não podem cruzar os braços. Devem fazer um chamado unificado aos sindicatos dos ferroviários e dos metroviários, em primeiro lugar, para que se posicionem frente a isso, e colocar todo seu aparato jurídico a serviço da defesa e da liberdade desses trabalhadores injustamente punidos. Não podemos admitir que esses trabalhadores, que foram encaminhados a um CDP (Centro de Detenção Provisória), sejam tratados como bandidos e vândalos e respondam por um crime inafiançável que pode se prorrogar por anos. Essas prisões têm um óbvio caráter político e, se necessário, os sindicatos devem organizar manifestações de rua e paralisações para garantir a imediata libertação desses trabalhadores.

Esse novo episódio é mais uma demonstração de que a burguesia, Lula e o PT não podem responder as demandas reais dos trabalhadores e do povo pobre. Quanto mais aumenta a precarização e terceirização dos postos de trabalho e a privatização dos serviços essenciais, mais aumenta a agonia dos trabalhadores. Somente unificando as fileiras da classe trabalhadora poderemos derrotar os ataques desferidos pela burguesia e pela patronal e impor um plano operário e popular que lute por serviços públicos estatais de qualidade, com preços baixos, controlados pelos trabalhadores e por comitês de usuários.

[1Folha de São Paulo, 22/05/2008

Artigos relacionados: Nacional









  • Não há comentários para este artigo