Sábado 27 de Abril de 2024

Movimento Operário

Boicote ao PDV! Nenhuma assinatura! Nenhuma demissão!

10 Sep 2006   |   comentários

O que os patrões querem e o porquê das demissões

As demissões em massa que vêm ocorrendo em grandes empresas do país, especialmente nas montadoras, são resultado de um processo mundial. As empresas buscam aumentar os seus lucros aumentando a exploração. Há alguns anos esses patrões vêm mudando suas fábricas de país, transferindo a produção para regiões onde os salários são menores e as jornadas maiores. Em alguns casos, fazem essa mudança no seu próprio país. Na Alemanha, por exemplo, a Volks abriu uma fábrica chamada Auto 5000 e contratou apenas trabalhadores que estavam desempregados há mais de 2 anos, pagando salários 20% menores, com jornadas variáveis de acordo com o interesse da fábrica. Nessa fábrica, “se os objetivos não são cumpridos, eles têm que trabalhar mais ’ sem compensação salarial” . Qualquer semelhança com a ”˜proposta”™ da Volks do ABC de punir os trabalhadores com horas extras quando houver re-trabalho não é mera coincidência.

A busca por aumentar a exploração e, portanto, os lucros, é repetida aqui. Quando a Ford se mudou para a Bahia anos atrás, fez isso para pagar salários muito mais baixos e exigir uma produtividade maior. Foi assim também com a fábrica da Volks no Paraná. Onde não puderam fazer isso, pretendem agora demitir os trabalhadores que, com suas greves e lutas, conquistaram melhores salários e melhores condições de trabalho e em seu lugar contratar outros com salários menores e com condições de ultra-exploração. Para os que não são demitidos, tentam impor mais exploração, aumentando os bancos de horas e reduzindo benefícios.

A reação dos trabalhadores e a estratégia da burocracia

O que os patrões não esperavam era a resistência a esses ataques. Achavam que o período eleitoral e a impotência das direções sindicais seriam suficientes para impedir que houvesse greves e manifestações. Foram vários processos iniciais que mostraram uma mudança no ânimo como a greve do metró de São Paulo contra a privatização, que parou a cidade e que teve amplo apoio popular, e as manifestações dos demitidos da Varig. Na Bahia os operários da Ford fizeram uma greve e conquistaram redução da jornada e aumento de salários. Em setembro as atenções se voltaram para a greve da Volks contra as demissões, onde há anos não se via uma greve.

Esses longos anos sem greve são resultado de uma política de conciliação de classes em que ao invés de enfrentar os patrões com seus ataques, as direções sindicais pelegas diziam que era preciso negociar e fazer pactos. Durante toda a década de 90, esse foi o modo de fazer as campanhas salariais e de “combater” as demissões, e foi com a política conciliadora que nos acostumamos a ver os famosos PDV”™s (Programa Voluntário de Demissões) que colocaram milhares de trabalhadores no desemprego, diminuindo fortemente os postos de trabalho.

Na assembléia da Volks que aprovou o acordo que abria o PDV, José Lopez Feijó, o presidente do sindicato dos metalúrgicos do ABC, tentou aterrorizar dizendo que os trabalhadores teriam de "arcar com as conseqüências" se rejeitassem a proposta . Quando a empresa informou que iria fazer novos investimentos depois da aprovação do PDV, declarou que “essa medida vai dar nova vida à fábrica, garantir a produção e os empregos” . Garantir empregos depois de 3600 demissões?

O que parece é que Feijó quer é garantir as demissões. “Tem muita gente querendo sair. Eu sei. Podem me cobrar depois. Não conto com a possibilidade de a fábrica não receber adesões suficientes ao PDV” . Os patrões podem dormir tranqüilos. Se não houver demissões suficientes, podem cobrar o Feijó, ele garante. Mas se tem tanta gente querendo ficar desempregada, porquê tiveram tanto trabalho pra aprovar o PDV? Porquê os trabalhadores vaiaram os pelegos que fecharam esse acordo? Porquê quase a metade dos trabalhadores, mesmo sob ameaça da empresa e terrorismo da diretoria do sindicato, votou contra o PDV? Parece que os pelegos terão problemas pra provar que os metalúrgicos da Volks são tão submissos assim.

A luta contra as demissões continua: BOICOTAR O PDV!

Os companheiros da Ford na Bahia mostraram que é possível vencer. Na Volks no Paraná, agora se organizam para lutar por mais contratações, invertendo o PDV. Na GM, depois da derrota parcial também com PDV, se organizam pela campanha salarial e já fazem novas paralisações. Na Volks do ABC os trabalhadores mostraram que não querem ser derrotados facilmente, enfrentaram os ataques com a greve e desafiaram as ameaças, com 45% dos votos contra o acordo.

É preciso lançar uma ampla campanha pública, em todo o país, pelo boicote aos PDV”™s, para fortalecer os companheiros dentro das fábricas que devem estar preparados não só para recusar-se a assinar, como para convencer seus companheiros e combater as pressões e ameaças que certamente acontecerão. A CUT dirige a enorme maioria dos sindicatos do país, tem uma força material gigantesca, mas tem preferido defender os interesses da burguesia. O primeiro interesse do trabalhador é o seu emprego. É preciso exigir que os sindicatos da CUT lancem uma campanha nacional contra as demissões e pelo boicote ao PDV, colocando a estrutura da central em função disso. Lutar contra o PDV não uma luta qualquer. É uma necessidade da burguesia internacional tornar sua produção mais barata e só poderão fazer isso demitindo e precarizando, outros ataques virão e defender o emprego é prioridade número um.

A Conlutas até aqui não atuou concretamente para levar até as últimas conseqüências a luta contra as demissões. A oposição existe e tem até membros na diretoria. Agora não podemos esperar a próxima eleição sindical para fazer alguma coisa. A Conlutas já aprovou a campanha do boicote ao PDV e tem que se materializar publicamente, junto com todos os sindicatos combativos, as oposições, chamando a Intersindical e toda a vanguarda para levantar essa bandeira para todos que enfrentam PDV”™s no país.

É preciso fortalecer a oposição na Volks para que faça a campanha internamente contra o PDV que começa dia 25. É assim que a vanguarda combativa vai poder mostrar aos trabalhadores um modo diferente de lutar contra os patrões, desmascarando a impotência e o atrelamento da burocracia aos interesses da patronal.

Nenhuma demissão! Nenhuma assinatura! Nenhuma adesão! BOICOTAR O PDV!

Se os dirigentes do sindicato dizem que o PDV é um bom acordo, que o trabalhador deve assinar. Se dizem que é preciso responsabilidade para ”˜preservar”™ a empresa e os postos de trabalho. Respondemos: porquê o primeiro a assinar não é o ministro do trabalho, Luiz Marinho, funcionário da Volks? Porquê os dirigentes sindicais que têm tanto desejo de ajudar a empresa não assinam o PDV? Assim também preservarão o emprego de mais alguns companheiros na fábrica. Sempre pedem sacrifícios aos trabalhadores, mas não largam mão de suas vantagens. Os metalúrgicos não podem terminar essa luta demitidos e enfraquecidos enquanto a empresa lucra bilhões.

Não vamos cair nessa conversa. PDV é demissão. Lutar pelo emprego é garantir as vagas que já existem. Nenhuma adesão, nenhuma demissão. Boicote ao PDV.

Se ameaçam fechar a empresa: estatizar sob controle dos trabalhadores

O discurso da empresa diz que a Volks está com problemas, que há crise porque o dólar desvalorizou. A mesma coisa dizem as outras montadoras que também abrem PDV”™s por aí. Foi assim na GM, é assim na Mercedez. Seu problema é que apesar de estarem lucrando tubos, precisam nos explorarar sempre mais para fazer frente a concorrência. Por isso aceitar o PDV hoje não garante nem o futuro dos que ficam.

Nenhuma concessão a patronal pode garantir os postos de trabalho no futuro. Eles dizem: “se não se deixarem explorar mais, exploraremos seus irmãos em outro país” . Ameaçam levar a empresa embora para outros países, onde os salários são mais baixos e a exploração maior. Para aumentar seu lucro a Volks pode sim chegar a fechar a fábrica e não vai ser nos ajoelhando agora que vamos evitar isso. Os trabalhadores são os únicos interessados em manter a fábrica no Brasil, mas queremos fazer isso para manter todos os postos de trabalho e não para darmos mais lucro pro imperialismo alemão.

A fábrica que aqui está foi construída e lucrou com o nosso trabalho e aqui vai ficar. Lutaremos para estatizar, sob o controle dos trabalhadores, toda fábrica que ameace fechar. Estatizando a fábrica sob controle dos trabalhadores poderemos não só manter os postos de trabalho, mas contratar mais operários com o dinheiro que antes ficava como lucro para o patrão.

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