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Internacional

Argentina

As batalhas do PTS no Sindicato Ceramista, ontem e hoje

02 Oct 2012   |   comentários

Ao final da década de 90, como parte de um processo de resistência à patronal de Zanon, ao calor dos “Cutralcazos” e as paralisações gerais que convocava a burocracia de Moyano, emergiu, lutou, e se consolidou a Marrom. Eramos um grupo de companheiros das linhas, dos fornos, da estamparia, da seleção: 8 delegados, companheiros independentes e eu do PTS. Desde o início, desde o PTS buscamos compartilhar com os companheiros da Marrom um programa básico, (...)

Publicado em La Verdad Obrera 495. Jornal do PTS, organização irmã da LER-QI na Argentina.

As origens e as bases da Marrom

Ao final da década de 90, como parte de um processo de resistência à patronal de Zanon, ao
calor dos “Cutralcazos” e as paralisações gerais que convocava a burocracia de Moyano, emergiu,
lutou, e se consolidou a Marrom. Eramos um grupo de companheiros das linhas, dos fornos, da
estamparia, da seleção: 8 delegados, companheiros independentes e eu do PTS.

Desde o início, desde o PTS buscamos compartilhar com os companheiros da Marrom um
programa básico, mas de bases muito sólidas: 1) A independência de classe, que começou com a
independência de todas as patronais, os governos e as burocracias sindicais, juntamente com a
defesa de um programa operário e os métodos da luta de classes, a solidariedade e a coordenação
com outros setores da classe trabalhadora (começando pelos desempregados) e do povo pobre e
oprimido. Colocamos de pé a Coordenadoria Regional do Alto Valle e avançamos até o
estabelecimento programático da necessidade de um partido de trabalhadores sem patrões. E não foi
só no papel: a Marrom defendeu este ponto programático, desde o jornal Nuestra Lucha, que
impulsionamos a nível nacional; em 2011 convocamos dois plenários ceramistas de mais de cem
companheiros das quatro fábricas para debater e resolver participar da FIT, aportando de maneira
fundamental para ganhar uma bancada operária e socialista em Neuquén, que hoje ocupa Alejandro
Lopez e ao fim do ano me toca assumir. 2) O método de assembleias: a democracia direta foi outra
das bases fundacionais de nossa luta, e este método foi proposto, batalhado e defendido em cada
fábrica. É o método de Zanon, Stefani, Del Sur e da Neuquén. E junto a isto, defendemos também a
liberdade de tendências. Foi a Marrom e o PTS quem propuseram, batalharam e defenderam a
liberdade de ingresso das tendências políticas em nossa gestão operária. Oferecemos mais de 10
lugares para cada organização de desempregados, que nesse momento eram independentes dos
governos; aos militantes do PO, do MST (hoje IS), ao MTD Neuquén e Bairros de Pie (a CCC
apoiava, junto com D’Elia, ao governo). Também ali batalhamos contra o “senso comum” de muitas
tendências ou companheiros que nos diziam que “isto será uma carnificina”. Para o PTS foi
totalmente acertado haver impulsionado o ingresso de distintas tendências de esquerda dentro de
uma fábrica e um sindicato aonde éramos anteriormente a única corrente política de esquerda, já
que permitiu politizar ainda mais o conjunto da base e o ativismo. E reivindicamos esta medida hoje
também, quando algumas dessas correntes, como a Izquiderda Socialista e o PCR (que entrou
depois em Zanon) organizaram a oposição de direita ao classismo nas eleições.

Estes princípios foram os que permitiram que um verdadeiro trabalho de equipe entre os
trotskistas do PTS e os companheiros independentes da Marrom amadurecesse (não sem discussões
entre nós) não só como direção do sindicato ao longo destes anos, senão gerando uma “fábrica de
militantes operários classistas”, constituindo uma experiência inédita na esquerda argentina. Por
isso fracassou a campanha macartista de querer fazer da Marrom “a chapa do PTS”, e o
oportunismo de correntes de esquerda que apelaram ao apoio dos setores mais conservadores. A
votação massiva, que liquidou prontamente a campanha de “sindicato esvaziado”, confirmou a nova
geração de dirigentes ceramistas classistas: hoje nossos companheiros Natalio “Chicho” Navarrete,
Luis Calfueque e Víctor Ortiz, todos eles trabalhadores que ingressaram no PTS no calor dessa luta,
compõe a nova Comissão Diretora com os companheiros independentes, encabeçados por Marcelo
Morales.

Marcos da luta operária

Depois da recuperação da Comissão Interna de Zanon, do Sindicato e das greves contra as
demissões que implementava a patronal de Zanon (“a greve dos 9 dias” em 2000 e a “batalha dos 34 dias” em 2001), a ocupação e gestão operária, pondo em marcha a fábrica há 11 anos, assim
como na Cerámica Del Sur e Stefani, foram marcos gigantes.

Desde o PTS junto com nossos companheiros da Marrom, não nos detivemos ante
a “legalidade patronal”, que mata de fome milhões. Cruzamos todas as barreiras: a de suas
legalidades, seus preconceitos, seu senso comum. Assim foi que, frente às demissões massivas,
ocupamos a fábrica e a colocamos para produzir sem patrões. Como sempre digo, isto não foi uma
invenção nem dos ceramistas nem do PTS. Nos bastou continuarmos a tradição revolucionária da
classe operária e o “Programa de Transição” de Leon Trotsky.

Tampouco aceitamos a “miséria do possível” que ofereciam os governos às fábricas
ocupadas: subordinar-se politicamente em cooperativas “normais” à troco de dádivas do Estado.
Mantivemos nossa independência política e nossos princípios baseados na tradição da luta de
classes. Assim conseguimos que se ponha em votação uma lei de expropriação e há poucos dias
completamos 11 anos de produção sob controle operário.

Ali está a importância de nossos aportes: grãos de areia para a reconstrução de uma
subjetividade operária superior. A unidade das fileiras operárias começa dentro da fábrica, mas se
amplia a todos os nossos irmãos de classe na região, à nível nacional, e também internacional, como
diz a frase “Os trabalhadores não temos fronteiras”. Aportamos sobre isso e colocamos em prática o
internacionalismo operário militante. Nesta tarefa a nossa corrente internacional (FT-CI) cumpriu
um papel muito importante.

Todos estes marcos, não os deixamos no ar: os plasmamos no estatuto classista,
anticapitalista e democrático do SOECN. Este não caiu do céu. Não sucedeu de
maneira “espontânea” nem tampouco veio “de fora”. Desde o PTS soubemos confluir em um
momento de agudização da luta de classes como em 2001 com um setor da classe operária que era
iniciante no combate, ensinando mas também aprendendo juntos, levando a experiência histórica e
a tradição revolucionária e fusionando-a com esta experiência nova de reorganização de um setor
do proletariado industrial. Esta foi a combinação “explosiva” que deu origem à Zanon e ao SOECN,
e que muitas correntes de esquerda nunca compreenderam e por isso resultaram alheios a este
processo (como o PO) ou decidiram enfrentá-lo abertamente (como a Izquierda Socialista).

Um novo marco: o aprofundamento da liberdade de tendências

Acabamos de pôr em prática outro aspecto revolucionário de nosso programa, a liberdade de
tendências com representação de minorias em forma proporcional. Isto lamentavelmente não tem
em nenhum outro sindicato do país. Algumas correntes de esquerda (partidária ou independente)
passaram pela direção de seções, sindicatos e inclusive centros estudantis e federações
universitárias, mas nunca tocaram “no fundamental”.

A liberdade de tendências e de partidos que defendem a gestão operária e a luta por um
programa de demandas da classe trabalhadora, reflete as ideias de Trotsky sobre a necessidade
do “pluripartidarismo soviético” que defende na sua obra Revolução Traída e no Programa de
Transição. Não basta o rechaço ao sistema de “partido único”, é preciso colocá-lo em prática em
cada organização que recuperemos para libertar toda a energia e aportes programáticos, fomentando
o debate político.

Este novo passo em Zanon e no SOECN, fortaleceu de maneira contundente a militância
Marrón. Outras correntes e organizações apostaram no cansaço, no ceticismo, na dúvida: tiveram
sua expressão. É natural depois de 14 anos de luta intensa. Mas uma vez mais no Sindicato
Ceramista brilhou a Marrón, que está carregada de futuro, que aporta humildemente com um grão de areia e de confiança para os trabalhadores, estudantes e para o povo que luta por sua
emancipação.

O classismo na ofensiva

Em nosso Sindicato e na Marrom, também tivemos abandonos, deserções, companheiros
que buscaram outros rumos, e até traições abertas, como no caso emblemático de Néstor San
Martín, fundador da Marrom, que se vendeu para a patronal e para a burocracia há muitos anos.
Mas o que não puderam quebrar foi o núcleo sólido da Marrom: militantes do PTS e independentes
que fomos batalhando e fazendo experiências em comum, e, aparados pelo método da democracia
direta, do debate frontal, e de um programa classista, não só resistimos, como aportamos para a
construção de uma corrente operária político-sindical a nível nacional com o Nuestra Lucha.

Hoje apresentamos a nossos amigos e amigas, aos nossos companheiros, mas também aos
nossos adversários e inimigos, uma nova conquista: o apoio de mais de 71% da base operária a esta
política, havendo votado 90% dos afiliados ao sindicato, o que potencializa nossa luta. Desde o
PTS, enfrentamos mais uma batalha, em um lugar onde temos responsabilidade de direção. O
trotskismo em Zanon voltou à “apertar mais a porca”, à diferença das correntes de esquerda que
ocuparam o espaço das alianças com setores de direita e pró-patronais.

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