Sábado 27 de Abril de 2024

Nacional

Nem o PSTU e nem o PCO lutam consequentemente

Apoiar as lutas em curso e se preparar

10 Sep 2006   |   comentários

Não existe um muro que separa a luta sindical da luta política. Por isso nossa batalha no processo eleitoral foi para que a vanguarda de trabalhadores que travou importantes lutas ao longo do governo Lula, que em sua maioria está organizada na Conlutas, se expressasse politicamente nas eleições.

Defendemos que o Conat (Congresso Nacional dos Trabalhadores), convocado pela Conlutas que contou com mais de três mil delegados deveria se posicionar a favor de uma Frente Classista, e que deveria se dirigir à Heloísa Helena com propostas claras para a conformação desta. O papel de uma Frente Classista teria sido de fundamental importância. Essa Frente deveria desmascarar Lula perante os trabalhadores, utilizar a projeção nacional de Heloísa Helena para impulsionar as lutas em curso contra as demissões na Varig, na GM e na Volks, contra a privatização das novas linhas do metró de SP, contra o super-simples e em defesa das campanhas salariais e dessa forma preparar os trabalhadores para um segundo mandato de Lula muito mais instável que o primeiro. Caso Heloísa Helena se recusasse, ficaria claro para toda a vanguarda de trabalhadores do país que ela não aceita uma Frente Classista para não se indispor com setores burgueses. Ainda teríamos tempo para lançar candidaturas classistas pela legenda do PSTU, propagar as posições votadas no Conat e organizar a luta dos trabalhadores em todo o país.

No entanto o PSTU se negou a seguir por este caminho, se negando inclusive a conformar uma verdadeira ala classista. Preferiu se adaptar a Heloísa Helena para “dialogar” ’ ou melhor, se dissolver ’ num eleitorado heterogêneo e que expressa, somente de maneira muito distorcida, o processo de rupturas do movimento operário com Lula e o PT, processo no qual Heloísa Helena representa sua ala direita e uma barreira para que este avance numa perspectiva revolucionária. Assim, a Conlutas foi condenada a ficar em um segundo plano durante todo o processo eleitoral apesar de greves históricas, como a da Volks, terem chamado a atenção de todo o país.

Lamentavelmente, o PSTU não tirou as lições necessárias depois de anos em que ajudaram a apresentar Lula como “alternativa” . Depois de terem sido até contra o direito democrático do PSOL se legalizar, para tentar desesperadamente eleger um ou dois deputados e um lugar na foto ao lado de Heloísa Helena, dão um giro de 180º e apresentam uma pequeno-burguesa eleitoralista como a grande “alternativa para os trabalhadores” ! Longe de cumprir um papel educativo na vanguarda e nas massas, o PSTU que antes vociferava o “Fora Todos” agora alimenta ilusões em Heloísa Helena e no PSOL! A realidade não permite tantas oscilações sem que se pague um alto custo político...

A adaptação do PSTU à Heloísa Helena e ao PSOL, lançou enormes confusões sobre o programa, a estratégia e a tática dos partidos que se reivindicam marxistas e revolucionários e impediu que a vanguarda operária organizada na Conlutas aparecesse como uma alternativa para os trabalhadores. A contrapartida dessa política de adaptação nas eleições é a impotência para organizar os trabalhadores na difícil luta contra as demissões. Na GM de São José dos Campos, dirigida pelo PSTU, os trabalhadores foram obrigados a aceitar os 450 PDVs além de transferências e afastamentos temporários sem que sequer houvesse uma greve ou uma campanha forte dentro e fora da fábrica, sendo que a luta por aumento salarial está provando que existia disposição de luta por parte dos trabalhadores. Uma luta decidida contra as demissões na GM teria sido um enorme exemplo para os trabalhadores da Volks no momento em que a CUT levantou a greve e aceitou a demissão de 3600 operários através de PDVs.

Por sua vez, o PCO preferiu se manter distante de todo esse processo. Negou-se a participar do Conat e influir sobre a vanguarda ali organizada. Negou-se a ter qualquer política para o PSTU, o PSOL e para o processo de reorganização dos trabalhadores e da esquerda afirmando que a Frente de Esquerda é uma continuação da oposição burguesa (PSDB e PFL). Sua política de se auto-proclamar como o partido revolucionário, deixa o caminho livre para que caudilhos como Heloísa Helena ampliem sua influência sobre os trabalhadores. Na sua cegueira sectária, o PCO chegou a afirmar que sua candidatura foi impugnada, pois era única que poderia ameaçar Lula e levar as eleições ao segundo turno. Justamente porque, segundo os seus devaneios, existe um acordo entre todos os partidos, inclusive Heloísa Helena, para que Lula ganhe no primeiro turno. Onde existirem candidatos do PCO e do PSTU disputando os mesmos cargos, chamamos a apoiar o PSTU, pois este expressa muito mais que o PCO, apesar do seu oportunismo e da sua capitulação a Heloísa Helena, os processos mais progressivos de reorganização do movimento operário. Para a desgraça do movimento operário brasileiro, o que mais se expressou nestas eleições é a falta que faz um verdadeiro partido de classe, combativo e revolucionário, para denunciar a demagogia lulista e levar nossas lutas à vitória.

Apoiamos as candidaturas operárias da Frente de Esquerda e do PCO, mas fazemos um chamado claro aos militantes destas organizações, especialmente aos do PSTU. Chamamos os companheiros a refletir profundamente sobre a linha política que a direção do PSTU aplicou e sobre os motivos de seus constantes erros e zigue-zagues. Foi nessa campanha realizada que votou a maioria do PSTU? Era necessário adaptar-se tanto em busca de se colar na Heloísa Helena e de uma possível cadeira de deputado? Não seria essa política uma outra face do eleitoralismo que os companheiros tanto denunciavam no PSOL? Depois de anos se adaptando ao PT, agora a direção do PSTU pretende fazer o mesmo com o PSOL? Esperamos que os companheiros possam fazer um balanço que tire lições profundas dessa tática profundamente equivocada, que como qualquer outra, está ligada a uma estratégia política.

O PSTU ao longo do processo não se apoiou em seu peso relativo na vanguarda sindical para tentar impor um caráter classista à Frente nas negociações com o PSOL. Agora Heloísa Helena retira do seu discurso e do seu programa até o não pagamento das dividas interna e externa, sendo que esse era o único ponto em que o PSTU se agarrava para justificar todas as suas capitulações. Mesmo que o PSTU rompesse por esse motivo com Heloísa Helena, sem fazer um balanço de toda sua política ao longo do processo, isso em nada anularia seus erros anteriores. Mas a última coisa que o PSTU cogita é romper com a Frente, prefere engolir mais essa. Quando Heloísa Helena disse “os incomodados que se retirem” , a direção do PSTU preferiu se ancorar no “Manifesto da Frente de Esquerda” que ninguém viu, “alertou” a todos que não há nenhum racha e que as diferenças entre o PSOL, o PCB e o PSTU são “saudáveis” .

Um partido revolucionário colocaria em primeiro plano na sua política o apoio às lutas em curso, e a Conlutas como forma de unificar os setores mobilizados e combater a burocracia. Denunciaria que o programa de Heloísa Helena nada tem a ver com um programa socialista, não deixando que se fortalecesse como “representante da esquerda que não se vendeu” . E colocaria em debate a necessidade de que nessas eleições se expressasse a independência de classe, a luta de classes, a denúncia do regime para darmos passos concretos na construção de um verdadeiro partido operário de massas, um partido classista e revolucionário.

Artigos relacionados: Nacional , Debates









  • Não há comentários para este artigo