Sexta 26 de Abril de 2024

Nacional

Ainda há tempo para barrar as demissões na VW e na GM

05 Jul 2006   |   comentários

Este período eleitoral tem servido para desviar a atenção dos verdadeiros problemas, enquanto os patrões, os governantes, os políticos e os sindicalistas vendidos se aproveitam da “paz eleitoral” para aplicar seus planos de guerra contra a classe trabalhadora.

No dia 18 de julho os sindicalistas do sindicato dos metalúrgicos de Taubaté (CUT), assinaram um acordo com a direção da Volkswagen que causará a demissão imediata de 160 metalúrgicos da unidade até o final deste mês, com mais 140 demissões até o final do ano e outros 400 entre 2007 e 2008, totalizando 700 demitidos. E o vice-presidente do sindicato, Isaac do Carmo, no jornal Agora (18 de julho), teve a cara de pau de dizer que "é possível fazer um bom negócio para os dois lados". Foi um ótimo negócio para a Volkswagen e para os sindicalistas vendidos mas não para os trabalhadores.

Em São Bernardo do Campo, os outros pelegos da CUT impedem conscientemente a luta contra as 6.000 demissões que a VW prepara e seguem com sua estratégia de negociar e pressionar para obter algum acordo ("bom negócio" para eles). Para eles trata-se apenas de um “gol contra” da empresa, e não escondem seu cinismo ao afirmar que a empresa “não se interessa pelos funcionários” . A VW declarou uma guerra contra os trabalhadores que, como esses sindicalistas vendidos não podem esconder: a empresa quer fazer um novo plano de carreira com redução salarial de 35%, exigindo que um trabalhador “pague” oito horas extras de graça por erro na produção, pretende aumentar o plano de saúde e reajustar os salários em apenas 85% da inflação. Um roubo descarado dos salários e dos direitos dos trabalhadores.

É possível organizar uma luta séria contra esses planos patronais

Os sindicatos, principalmente os da CUT e da Força Sindical, são milionários. É uma vergonha que não exista uma campanha massiva contra as demissões, com inserções na televisão, no rádio, nos jornais; com milhões de boletins nas portas de fábrica, nos bairros operários; milhares de cartazes e centenas de outdoors; denunciando os planos dos patrões destas empresas, mostrando seus fabulosos lucros e incentivos governamentais subtraídos da superexploração dos trabalhadores e da elevação contínua da produção e das vendas.

As massivas assembléias, paralisações e passeatas dos metalúrgicos da VW e da GM, no mês de junho, tanto no ABC quanto em São José dos Campos mostraram que entre os trabalhadores existe disposição para lutar contra as demissões, em defesa do salário e do emprego. Todas estas importantes atividades que ocorreram perderam sua eficácia porque não eram parte de um plano de guerra dos trabalhadores e dos sindicatos para enfrentar a patronal.

As condições existiam para uma grande campanha contra as demissões que preparasse as forças operárias para ações mais ofensivas com um plano de paralisações de 24 ou 72 horas que esquentasse os motores para, caso a patronal se mantivesse intransigente, impor uma greve que parasse a produção nas unidades da GM e da VW, trabalhando para que os trabalhadores das demais fábricas da cadeia produtiva ’ que produz para as montadoras ’ aderissem com ações efetivas.

Assim, os trabalhadores colocariam os patrões contra a parede, começando a reverter a relação de forças, fazendo com que a patronal tivesse que sair ao campo de batalha, se desmascarar, cometer erros, mostrar seus pontos fracos. Para quebrar a intransigência patronal os sindicatos e os trabalhadores têm que deixar claro que se preparam para uma guerra. Para que os patrões dêem os anéis é preciso ameaçar cortar-lhes os dedos.

A Conlutas e a esquerda precisam colocar esta luta no centro

Atualmente, apesar de tudo, a Conlutas e a esquerda que rompeu com o PT e com os sindicalistas vendidos reúnem a camada mais ativa da vanguarda dos trabalhadores em condições de se colocar à frente das lutas operárias e populares. Daqui pode surgir uma força que estimule os trabalhadores dos sindicatos da CUT e da Força Sindical a se enfrentar com seus dirigentes traidores que vendem os empregos e direitos.

A Conlutas pode, de acordo com suas condições, iniciar esta campanha massiva e um plano de luta contra as demissões, fazendo um Fundo de Greve a partir dos seus sindicatos e da juventude da Conlute; exigindo que a coordenação da Frente de Esquerda reserve horários na televisão para que os sindicalistas, trabalhadores e ativistas de esquerda façam chegar a luta contra as demissões aos milhões de trabalhadores. Por exemplo, o candidato a senador Mancha (PSTU) é operário e dirigente sindical da GM de São José dos Campos, e deveria ter tempo suficiente na TV e no rádio para difundir esta campanha.

Os ativistas da Conlutas e os defensores das candidaturas da Frente deveriam dedicar o máximo de tempo, esforço e material para estar na VW e na GM e nas demais fábricas para ganhar a solidariedade, arrecadar fundos e conquistar a confiança do maior número possível de trabalhadores.

Para isso, é preciso reverter a estratégia atual

Infelizmente na última reunião estadual da Conlutas em São Paulo (no início de julho), não se discutiu a luta contra as demissões na VW e na GM, e os diversos sindicatos e ativistas seguem sua rotina como se nada tivessem a ver com essas demissões. O que se vê é apenas o sindicato dos metalúrgicos de São José dos Campos atuando isolado.

Mas as ações se resumem aos trabalhadores da GM; as demais metalúrgicas não estão envolvidas, como numa luta corporativa, apenas dos operários da GM. Nada é feito para exigir o apoio ativo do PSOL e da Frente de Esquerda (que ainda nem se pronunciou sobre a questão) e as fichas estão colocadas nas negociações com a patronal, como declara o diretor do sindicato dos metalúrgicos de São José dos Campos, Vivaldo Moreira: “as negociações com a empresa estão num momento decisivo e agora é o momento de aumentar a mobilização” . Ora, sem mobilização efetiva, este momento decisivo só pode ser favorável à patronal e o resultado só pode ser um acordo que aceite as demissões e outras perdas. A direção do sindicato não deposita sua confiança e disposição nos métodos de luta dos trabalhadores, chegando ao absurdo de propor medidas “aceitáveis” para os patrões, como a licença remunerada ou a adesão dos trabalhadores ao PDV na GM.

Além disso, semeia ilusões de que pressionando os deputados “mensaleiros” em audiências, sem greves e lutas sérias seria possível preservar empregos e direitos. É o que deixa claro o mesmo sindicalista em audiência no último dia 13 de julho na Câmara dos Deputados: “[...] conseguimos espaço e apresentamos o problema da ameaça de demissões e da necessidade do poder público intervir a favor dos trabalhadores para preservar os empregos. Agora vamos aguardar, para saber se o Congresso vai tomar alguma providência” . Alguém tem dúvidas da “providência” que esses deputados corruptos irão tomar, sem a força das greves, sem luta de classes?

Mantendo essa estratégia, apostando tudo nas negociações, sem um plano de guerra para enfrentar a patronal e sem recorrer aos sindicatos e ativistas da Conlutas e da Frente de Esquerda, os patrões da GM, em São José dos Campos, vão tentar arrancar tudo o que puder. E depois não adianta a direção do PSTU (que dirige a Conlutas e os metalúrgicos de São José dos Campos) tentar justificar a assinatura de um acordo que aceite demissões com o desgastado argumento de que os pelegos da CUT impediram a unidade e traíram. Afinal, eles são pelegos, e ninguém pode ter qualquer ilusão neles.

Trata-se de fazer a nossa parte e assumir as responsabilidades como dirigentes de esquerda. “Deus ajuda quem se ajuda.”

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