Sábado 4 de Maio de 2024

Nacional

Transporte público e inteiramente gratuito, integrado sob controle dos trabalhadores e usuários

Abaixo os aumentos: abaixo as tarifas!

10 Dec 2006   |   comentários

Seis horas da matina e lá vai um peão pegar o ónibus, mas não consegue entrar no primeiro pois está lotado. Entra no segundo, dependurado na escada de entrada e vê um estudante conversando com outro rapaz (provavelmente outro trabalhador): "Cê viu que a passagem vai aumentar de novo?" - diz o primeiro. "É foda: vamos ter que pagar R$2,30 pra andar espremidos, e o pior é que o metró e o trem sempre sobem junto!" - constata o outro.

È isso mesmo: os eleitos representantes da burguesia paulista dos transportes privatizam o sistema de ónibus , estruturados com o nosso dinheiro, e os trabalhadores e o povo pobre ainda têm que pagar a conta pra garantir o seu lucro! Para se ter uma idéia mais concreta, no mês de setembro (segundo Relatório das receitas e despesas - Sistema de Transporte Coletivo do sítio da SPTrans ), para aproximadamente R$117 milhões vendidos nas catracas de ónibus e lotações, a SPTrans adicionou mais de R$162 milhões (!) pelos subsídios para as empresas.

O aumento da cobrança por uma necessidade básica significa o avanço dos capitalistas sobre todos os trabalhadores e o povo pobre. Com o aumento da precarização do trabalho, a maior parte dos trabalhadores tem que pagar parcial ou integralmente a sua condução: isso significa uma pressão concreta sobre toda a classe. É o que ouvimos todos os dias do patrão, quando diz: “tem gente lá fora que faria o que você faz por menos!” .

A burguesia e seus aliados (o Estado burguês e a burocracia sindical): sempre juntos para nos atacar

O Estado, com o dinheiro dos impostos (que são pagos com o dinheiro do trabalho roubado e do nosso suor), implementou o sistema de transportes para que os trabalhadores (que tivemos que morar nas periferias, porque eles encareceram as moradias no centro), pudessem chegar aos locais de trabalho. Hoje esse mesmo Estado burguês atua conscientemente para a precarização dos transportes que permanecem em suas mãos (como parte da CPTM, do Metró e da EMTU) e subsidiando os privatizados. Faz isso para privatizar o restante e passar da administração indireta para a administração direta da burguesia (garantindo assim um lucro maior a esta).

A burguesia e seus administradores sabem que o povo está cansado de ser transportado feito gado e ter que pagar por isso mais dinheiro do que usam para comer. Mas para garantir que essa indignação não se transforme em revolta se utilizam de seus maiores aliados: as burocracias sindicais. São estas que garantem, pela via de negociatas de migalhas com os empresários, que essa indignação dos passageiros não se transforme numa revolta em aliança com os trabalhadores dos transportes. O sindicato dos motoristas e trabalhadores em transporte rodoviário de SP (Força ’ ou Farsa ’ Sindical), por exemplo, apresenta a paralisação do grupo Sambaíba (em SP), do começo do ano, como “disposição de luta de nossa categoria para o ano de 2006 ” ; entretanto, essa “paralisação” foi, na verdade, um lock-out (paralisação patronal) para que o grupo garantisse receber o mesmo subsidio que as demais empresas, o que não vinha ocorrendo: agem como lobbystas dos patrões perante a prefeitura. Outros exemplos, são o Sindicato do Metró (CUT) que, por pressão da categoria, “deixou que ocorresse” uma “greve” de um dia, para “protestar” contra a privatização e dizer à categoria como foi combativo ao “lutar vitoriosamente” contra a privatização. Um dos três (!!!) sindicatos dos ferroviários (CGT) em SP, anunciou uma greve pelo reajuste do salário da categoria... só anunciou, mas fez a categoria engolir a migalha de pouco mais de 3% que negociaram com a patronal. Esses são somente alguns exemplos de como age a burocracia contra os trabalhadores.

A integração dos transportes no capitalismo, por se basear na sua “integração pela via do mercado” , não passa de uma grande empresa, na qual participam de mãos dadas, as máfias do Estado burguês, do empresariado e das burocracias sindicais.

Unidade dos trabalhadores com o povo explorado e a juventude combativa para garantir o transporte verdadeiramente público

Nos últimos anos vimos ocorrerem diversas revoltas contra o aumento das passagens, protagonizadas principalmente por estudantes secundaristas e universitários: assim foi, por exemplo, em Salvador, em Florianópolis, em Recife, em Uberlândia, em Brasília e em diversas outras cidades do país. Essas revoltas se deram com a radicalização de manifestações de frente única, geralmente dirigidas pelos comitês locais pelo passe-livre, tendo erguido um forte sentimento anti-burocrático pelas bases e o repúdio às direções da UNE e da UBES (que em todas as vezes buscavam atuar como freio do movimento), ganhando amplo dos trabalhadores e do povo pobre onde ocorreram.

Esses movimentos foram muitíssimo progressivos por haverem posto à tona o absurdo que significa a apropriação de um direito fundamental por uma classe e seu uso como mercadoria. Entretanto, não levaram até o final a luta pela redução das tarifas como parte da luta por um transporte verdadeiramente público, integrado e sob controle dos trabalhadores e usuários. O programa estratégico destes movimentos permanece sendo, fundamentalmente, o de passe-livre para estudantes. Essa debilidade programática, não leva até o fim a compreensão de que os transportes são integrados uns aos outros, e como, muito além dos estudantes, para garantir um transporte verdadeiramente público, deve-se unir a radicalidade destes estudantes, àqueles que fazem com que os transportes funcionem (os trabalhadores desse setor) e a todos os trabalhadores e explorados que utilizam os transportes “públicos” como parte integrante de sua vida. Essa luta terá de travar um confronto mais agudo contra as burocracias sindicais e estudantis, propondo o único programa estratégico capaz de efetivar o verdadeiro transporte público e inteiramente gratuito: re-estatização de todos os meios privatizados e sua integração, sob controle de trabalhadores e usuários, com financiamento por impostos fortemente progressivos sobre as grandes fortunas e empresas.

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