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Nacional

A necessidade da construção do partido revolucionário

04 Aug 2003   |   comentários

A nova situação aberta com a eleição de Lula, marcada pela possibilidade real de uma experiência ampla das massas trabalhadoras com suas principais direções históricas, coloca modificações essenciais no cenário em que as organizações de esquerda atuam, e lança nova luz sobre as divergências estratégicas, em especial a luta pela construção do partido revolucionário, com as distintas táticas impostas por essa tarefa. A necessidade da construção de um partido revolucionário se transforma numa tarefa imperiosa hoje mais do que nunca, para preparar e organizar os trabalhadores frente aos novos acontecimentos que começam a se desenvolver.

Frente a esta situação, coloca-se na esquerda um debate sobre a construção de um "novo partido", acelerando-se estes chamados em função das ameaças de expulsão de diversos deputados nacionais petistas por terem votado contra a política a emenda da reforma constitucional da previdência social e pela continuidade das políticas antipopulares do governo Lula junto com o descontentamento de importantes setores de trabalhadores. Entre correntes que levantam este debate está a direção do PSTU, que tem lançado seu "movimento por um novo partido"; enquanto isso se desenvolvem discussões entre outras correntes como a CST e o MES e outras menores, ameaçadas de expulsão do PT, além de dirigentes dos movimentos sociais.

A construção do partido revolucionário atualmente

No seio da vanguarda que começa a despertar politicamente e efetuar a incontornável ruptura com o PT, as discussões estratégicas respondem também à necessidade de reafirmar a centralidade operária, num país em que o principal ascenso do operariado não alcançou, em que pese haver estremecido as bases estruturais do regime militar, demonstrar a centralidade da classe operária e levantar um programa para o conjunto das massas, incluindo aí as classes médias descontentes com a ditadura.

Os trabalhadores brasileiros necessitam, urgentemente, de uma direção revolucionária para que a frustração com o governo do PT não dê lugar a uma maior prostração e sentimento de derrota, e sim a uma recomposição de uma vanguarda efetivamente revolucionária. Não há outra maneira de avançar nesse sentido do que impulsionando esta discussão entre os setores mais avançados da classe trabalhadora, e entre todos os setores que saírem a lutar contra o agravamento de suas condições de vida sob o sistema capitalista e o governo Lula.

Para poder triunfar, para evitar os novos enganos, armadilhas e ataques que a burguesia lançará, além de construir organismos democráticos das massas em luta, é indispensável um estado-maior do exército dos explorados: um partido de trabalhadores revolucionário e internacionalista, que recolha o melhor da experiência leninista e dos marxistas revolucionários que a continuaram.

Mas vejamos como se desenvolve este debate. A direção do PSTU, dirigindo-se aos radicais do PT insiste em que: "Nós, do PSTU, fazemos um chamado a toda esquerda petista: ...Rompam com o PT, e venham junto conosco construir um novo partido de esquerda, democrático em seu funcionamento interno, claramente contra a Alca e as reformas do FMI. Um partido voltado para a ação direta , para as lutas dos trabalhadores e não somente para eleições" [1]. Mas o que parece ser um correto chamado, esconde uma armadilha, já que setores ainda que não tão majoritários se inclinam à construção de um novo partido.

A questão central é que o chamado do PSTU é dirigido a correntes que tendem a romper com os aparatos, se negando a acompanhar a virada à direita da direção majoritária do PT, hoje no governo, claramente antipopular. Mas, não basta simplesmente romper com a política atual de Lula e do PT - que já seria demais continuar apoiando - é necessário romper com toda a política histórica do PT que durante décadas cumpriu o papel de amortecedor das tensões sociais e administrador dos negócios capitalistas em toda prefeitura e estado que governava, ajudando assim a fortalecer esta podre democracia dos ricos.

Não se trata simplesmente de "romper com o PT" e unir a "esquerda socialista", já que dentro do que o PT e suas correntes internas são hoje existe um leque de concepções de todo tipo, desde castristas a setores que a igreja católica influencia, passando por nacionalistas de esquerda até correntes burocráticas sindicais diversas, etc, além das que se reivindicam trotskistas.

Ao grande e único eixo para a conformação do novo partido de "rompam com PT", se incorpora uma série de afirmações gerais ao estilo de ser "contra a Alca e contra as reformas do FMI", o que permite obviamente juntar aos descontentes das mais diversas tendências, mas sem uma clara estratégia revolucionária. As diversas correntes que hoje rompem, concordam com toda a política histórica desse aparato, negando-se simplesmente a acompanhar os brutais giros à direita dos que hoje estão no governo. Desta maneira, ao não existir uma ruptura política, não só organizativa, sem romper com todo o frentepopulismo que encarnou durante décadas, o único que se faz é amoldar as velhas tradições orgânico-políticas do velho petismo à nova situação do presente. Ou seja, continua a velha disciplina ideológica do petismo, na medida em que todos reivindicam o que ficou chamado como "velho PT" quando se referem ao PT antes de chegar ao governo.

Além do que, e disto a direção do PSTU não fala, as táticas para a construção de um partido revolucionário estão ligadas à luta pelo desenvolvimento de organismos de duplo poder do movimento operário e das massas. Mas a direção do PSTU, que diz que a realidade brasileira se insere em um quadro de crescente polarização e radicalização social e política, não tem a mais mínima política de impulsionar a construção de organismos de duplo poder, muito pelo contrário renega esta política, como temos abordado em diversas matérias deste jornal.

Isso estaria totalmente contraposto ao método pelo qual algumas correntes tentam avançar hoje, através de acordos de cúpula que não envolvem os trabalhadores nas decisões que afetarão sua vida política. O caminho para a construção do partido revolucionário no Brasil envolverá frentes únicas, experiências comuns e, fundamentalmente, um amplo debate estratégico, ao mesmo tempo em que não pode ser visto por fora de grandes ações de massas e da radicalização política de amplos setores de vanguarda da classe operária.

Qualquer outra maneira de tentar avançar às cegas nessa tarefa não poderá fazer mais do que engendrar novos obstáculos centristas para o avanço político dos trabalhadores em direção à superação revolucionária desta sociedade dividida em classes. O perigo dos partidos deste tipo é que os giros para posições abertamente reformistas se dão nos momentos decisivos, e se eles têm peso, podem trair o processo revolucionário.

[1Eduardo Almeida Neto, dirigente nacional do partido. Opinião Socialista nº 154.

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