Quinta 16 de Maio de 2024

Nacional

A Conlutas deve lutar para se constituir como uma direção classista e combativa

25 Aug 2005   |   comentários

O desenvolvimento da Conlutas vem sendo bastante contraditório. Ao mesmo tempo em que no seu início reuniu importantes setores do movimento operário que já tinham algum grau de experiência de luta contra a política pró-imperialista do governo Lula, em especial o funcionalismo público federal que vinha do embate contra a reforma da previdência, conseguiu reunir também vários sindicatos e oposições sindicais que questionam a política da direção da CUT.

Porém, a construção da Conlutas como pólo dirigente das massas em oposição à direção da CUT, está sendo bloqueada pela política sectária de sua fração dirigente, o PSTU, que com sua estratégia de ruptura com a CUT e a construção de uma nova central sindical vem isolando e limitando o crescimento da Conlutas, ao mesmo tempo em que facilita a política da burocracia de frear as lutas das massas contra o governo Lula, pois faz com que a Conlutas apareça como divisionista e um mero “aparato do PSTU” .

Os falsos argumentos esgrimidos pelo PSTU de que a CUT “morreu” não se sustentam diante de qualquer análise. A burocracia dirigente da CUT controla milhares de sindicatos, como metalúrgicos, químicos, petroleiros, bancários, metroviários, só para citar alguns dos segmentos mais importantes.

A política do PSTU tem sido a de abandonar as massas sob a influência da burocracia, ao se negar a combater de forma frontal esta burocracia, formando frações classistas e revolucionárias no interior dos sindicatos da CUT. Sob esta política oportunista da direção do PSTU a Conlutas limita o seu próprio crescimento, além de desarmar a classe operária que segue sem uma direção e um programa classista que ganhe a confiança dos milhões de trabalhadores que se organizam nos sindicatos cutistas.

A Conlutas chamou uma manifestação para o próximo dia 17 de agosto em Brasília. Nós a apoiamos desde o início, como forma de centralizar e unificar a ação dos setores classistas, além de chamarmos os setores da esquerda petista e do PSOL, que estavam vacilantes em participar e se incorporar ao ato. Contudo, as contradições do posicionamento da Conlutas, produto da política a direção do PSTU, seguem se aprofundando. Por um lado, o PSTU segue a sua política de ruptura com a CUT e a construção de uma nova central, e tentará fazer com que a Conlutas acate seu chamamento pelo “Fora Lula” . Por outro lado, a direção do PSTU participou no Rio de Janeiro de um ato com partidos burgueses (PPS e PDT) e assinou uma nota com tímidas criticas à política económica do governo, além de “conclamar” estes partidos para participar da manifestação do dia 17 em Brasília. Esta é uma prova de que quando a direção do PSTU fala em “pólo classista” na verdade esconde sua verdadeira estratégia frentepopulista ’ aliança com setores burgueses “opositores” .

Mesmo sob as críticas dos setores classistas [1]tudo indica (vide site do PSTU) que se desenha uma proposta de que a Conlutas assuma uma “frente” com estes partidos em ações contra a corrupção e as reformas neoliberais nos estados e regiões.

A Conlutas realizará o seu encontro nacional em Brasília no próximo dia 18 de agosto. Entendemos que as principais resoluções devem ser no sentido de que a Conlutas reveja a sua política de ruptura com a CUT e impulsione a formação de um verdadeiro pólo classista, antiburocrático e antigovernista, que construa frações [oposições unitárias] classistas e revolucionárias em todos os sindicatos cutistas e lute para retomá-los da burocracia e colocá-los a serviço da luta dos trabalhadores. Por último, é importante que o encontro da Conlutas aprove a participação na Assembléia Popular a ser realizada em São Paulo no próximo 24/25 de setembro, onde os setores que estão na Conlutas poderão ser um contrapeso aos setores vacilantes e reformistas presentes na Assembléia Popular que ainda submetem a unidade dos trabalhadores a uma política ditada pelos rumos das correntes da esquerda do PT, em busca de acordos que na prática atrasam e emperram a inadiável luta independente e combativa em defesa das reivindicações dos trabalhadores e do povo contra o governo Lula e a patronal.

No plano político, entendemos que as palavras de ordem de “Fora Lula” , “Impeachment de Lula” ou “Antecipação das Eleições” não correspondem a uma saída operária e independente à crise do regime político de conjunto, ao focar a questão apenas na substituição de Lula, que levaria a um governo de José Alencar ou a novas eleições nos marcos deste regime apodrecido, deixando de apresentar uma proposição que coloque em xeque todo o regime de conjunto ’ executivo, legislativo, judiciário e o sistema reacionário de partidos no qual reina o poder económico contra a vontade popular.

Ao nosso ver, a Conlutas deve iniciar o debate, desde as bases, sobre a mobilização dos trabalhadores e das massas, a partir dos sindicatos e das correntes de esquerda, para impor a convocação de uma Assembléia Constituinte Livre e Soberana. Esta Assembléia, baseada no voto de todos os cidadãos sem qualquer exclusão, com deputados eleitos e revogáveis, recebendo o salário de um operário médio, que tenha poderes para decidir sobre as questões fundamentais como a punição aos corruptos, revogação de todas as medidas aprovadas pelo “Congresso do Mensalão” , a propriedade privada e as reivindicações de interesse da classe operária e do povo pobre como a reestatização, sob controle operário, das empresas privatizadas, a ruptura dos pactos com o imperialismo, o não pagamento das dívidas externa e interna, bem como a questão das verbas para a educação, a saúde, aumento geral de salários, reajuste mensal de acordo com o custo de vida, redução da jornada de trabalho para garantir emprego aos desempregados, legalização de todos os trabalhadores terceirizados ou precarizados, como parte de um real programa operário e popular que seja imposto pelos trabalhadores e as massas mobilizados com seus métodos de luta. Os sindicatos da Conlutas podem e devem se dirigir aos demais sindicatos da esquerda da CUT e aos trabalhadores e lutadores sociais convocando-os a se unir, lutando contra as direções burocráticas.

[1O Conselho Diretor de Base do Sindicato dos Trabalhadores da USP (São Paulo), reunido no dia 5 de agosto, discutiu a proposta apresenta pelos companheiros da LER-QI e outros membros do Conselho, onde se denunciava o “acordo” firmado entre as direções do PSTU e do PSOL com o PPS e o PDT (além dos partidos de aluguel PHS e PMN) para participar em “unidade de ação” no Ato do dia 17. Os trabalhadores reunidos aprovaram a luta para que este Ato mantivesse seu caráter classista, sem partidos burgueses, entendendo que não podemos enganar as massas vendendo a falsa imagem de que estes partidos são “contra a corrupção e as reformas neoliberais” . Conseqüentemente, aprovou-se a organização de um “Bloco pela Independência de Classe” para participar do dia 17, o que gerou uma resposta positiva em vários setores como a Conlutas do ABC e a maioria dos presentes na reunião em São Paulo, no Sindifisp, para preparar a participação na manifestação.

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