Sexta 26 de Abril de 2024

Movimento Operário

HISTÓRIA DO MOVIMENTO OPERÁRIO

1º de maio de 2008: aprender com as lições do movimento operário brasileiro

24 Apr 2008   |   comentários

Foi em 1924 que o dia 1º de Maio passou a ser feriado nacional, "... consagrando-se não mais a protestos subversivos, mas à glorificação do trabalho ordeiro...", como disse o presidente Arthur Bernardes. Naqueles tempos (em que era comum trabalhar até 14 horas por dia), a luta pela jornada de 8 horas marcava os 1º de Maio com greves, barricadas e quebra-pau com a polícia. Desde então, a burguesia tenta mudar o caráter desta importante data, marcada a fogo e a sangue como o dia em que a classe trabalhadora relembra e demonstra sua guerra contra a classe burguesa.

Em 1932, às custas de anos de combates sangrentos, a jornada de 8 horas já era uma conquista de amplos setores da classe. O demagogo presidente Getúlio Vargas apenas legalizou a jornada já conquistada e passou a comemorar o 1º de Maio ao mesmo tempo em que reprimia as greves e manifestações, evitando que os trabalhadores avançassem em novas conquistas.

Pode parecer que a discussão sobre uma data “comemorativa” é pouco importante, mas por trás da data está uma discussão profunda e decisiva para quem luta pelo fim da exploração: há anos os governos burgueses tentam institucionalizar e regulamentar as ações do movimento operário para torná-lo “ordeiro” e inofensivo. O 1º de Maio é um símbolo de nossa luta, e em 2008 deve servir para que os trabalhadores da vanguarda reflitam em que medida a burguesia, com a ajuda da burocracia sindical, tem sido vitoriosa nessa tentativa.

1º de Maio de 1968: um dia de luta pela retomada da Praça da Sé

Quatro anos depois do golpe militar, a burguesia asfaltava o caminho do “milagre económico” arrochando salários e apertando o ritmo de trabalho nas fábricas para aumentar a margem de lucro dos patrões. Os sindicatos estavam tomados por dirigentes sindicais nomeados pelo governo militar e que atuavam como traidores da classe, desarmando a organização dos operários.

Mas os metalúrgicos de Contagem (MG) e Osasco (SP), a partir das comissões de fábrica e de terem retomado dos sindicatos das mãos dos pelegos, puderam organizar duas greves que se enfrentaram diretamente coma ditadura. Em Contagem, foram 16.000 operários paralisando as atividades e ocupando fábricas. Em Osasco, a greve é fortíssima e só termina com a invasão da cidade pelos tanques do exército. A classe operária mostrou aí sua potência para enfrentar a ditadura militar.

Ainda em 1968, o governador de São Paulo, Abreu Sodré, juntou-se aos sindicalistas pelegos para montar uma grande “festa oficial” no 1º de Maio, com um palanque na Sé. Nessa praça, que foi palco dos combates de classe desde o início do século, esperavam embelezar a pelegada, num ato de “glorificação do trabalho ordeiro” e de defesa demagógica de aumento de salários.

Mas eles não contavam que aí também os bravos metalúrgicos de Osasco, que haviam retomado seu sindicato, lutariam pela sua independência política. Esses jovens trabalhadores, que recém haviam derrotado os pelegos, se recusavam a permitir que o 1º de Maio fosse organizado de forma institucional, com a participação da ditadura, dos pelegos e do Ministério do Trabalho.

Organizaram-se para não permitir que o governador falasse, trazendo vários ónibus com operários armados de pedras e paus. Enfrentaram a burocracia e o Estado, obrigando, em plena ditadura militar, que o governador e sua laia se retirassem. Ao invés da festa do 1º de Maio institucional e ordeiro, a “autoridade” Abreu Sodré levou uma pedrada na cabeça e teve que fugir para o hospital, enquanto os trabalhadores retomavam o palanque e festejavam o seu 1º de Maio com independência de classe, sem patrões nem governo nem traidores da classe.

1º de Maio de 1980: em meio à greve, uma data para organizar a solidariedade de classe

Em 1980, os metalúrgicos do ABC tocavam uma greve massiva. Partindo das reivindicações de salário, pagamento das horas extras e estabilidade no emprego, acabavam se enfrentando diretamente com a ditadura militar (agora já nos seus anos finais). A radicalidade e a força da greve concentrava a atenção de todo o país e arrepiava os cabelos da patronal. Desde 1968 as reuniões públicas de trabalhadores estavam proibidas e eram duramente reprimidas, mas em 1980 o “dia do trabalho” se transformou em marco de solidariedade com a greve dos metalúrgicos do ABC e uma demonstração de força contra a ditadura militar.

Iniciado sob forte tensão, com mais de 5.000 policiais prontos para reprimir, o ato marchou pelas ruas de São Bernardo e reuniu 100.000 trabalhadores no estádio da Vila Euclides, obrigando a polícia e o exército a recuarem. É importante lembrar que Lula e a direção “autêntica” do sindicato estavam atrás das grades, presos pela ditadura e o sindicato sob intervenção do Ministério do Trabalho. A organização desse 1º de Maio ficou nas mãos do fundo de greve, onde se organizaram os trabalhadores depois que o sindicato foi fechado.

No ato, diversas delegações de trabalhadores de todo o país levavam contribuições financeiras ao fundo de greve, coletadas entre trabalhadores. A marcha até a Vila Euclides deu ao 1º de Maio um caráter que ele há muito não tinha: um marco de solidariedade de classe, unindo os trabalhadores para defender a luta dos metalúrgicos.

Não é meramente simbólico que, semanas depois, Lula saia da prisão, não para aprofundar o espírito do 1º de Maio, mas para garantir o fim da greve e a derrota dos metalúrgicos. Se estivesse solto, Lula provavelmente tentaria garantir que o “dia do trabalho” de 1980 não se transformasse em um “protesto subversivo” . Nos anos seguintes, Lula e o PT impediram que a força das greves metalúrgicas unificasse a classe para derrubar a ditadura e punir os responsáveis pelas prisões, torturas e desaparecimentos. Em troca, o petismo escolheu a transição “lenta, gradual e pacífica” das “Diretas Já” , protegendo os assassinos e torturadores que até hoje mantêm cargos e posses conquistadas sobre o sangue e suor dos lutadores e operários.

1º de Maio de 2008: retomar as lições do movimento operário

Nas primeiras décadas do século XX, o 1º de Maio servia para marcar greves gerais, atos políticos e de solidariedade de classe. Era o dia de colocar em ação os planos de luta da nossa classe. A burguesia tentou tão arduamente institucionalizar o 1º de Maio e transformá-lo em uma simples festa justamente para evitar que isso acontecesse. A herança que nos deixou a escola petista de militância são os atos limitados aos discursos de dirigentes sindicais, com a presença passiva e ordeira dos trabalhadores, desligando o 1º de Maio dos problemas reais da classe.

Não é de se espantar então que a CUT convoque mais um 1º de Maio com shows e sorteios financiados pela patronal e o governo. Com tanta conciliação com a burguesia, a bandeira de redução da jornada de trabalho não passa de um enfeite. Os trabalhadores não devem se enganar com o discurso petista e muito menos comparecer a um 1º de Maio institucional e atrelado ao governo e à burguesia.

Contra essa vergonha, estaremos, nesse 1º de maio, na Praça da Sé e lutaremos para que esse dia não seja apenas uma festa com alguns discursos radicalizados. Os trabalhadores precisam de um plano de ação concreto. Para isso é preciso retomar as lições dos 1º de Maio passados e transformar novamente essa data num marco de organização e luta para o conjunto da classe.

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ALGUNS MARCOS DE LUTA NO PRIMEIRO DE MAIO

dados retirados do site do núcleo Piratininga de comunicação

1906

Rio de Janeiro

A Federação Operária do Rio de Janeiro convida associações e sindicatos de vários estados e realiza o 1º Congresso Operário Brasileiro, que delibera: "1º de Maio de 1907: greve pelas 8 horas".

Jundiaí - SP

Greve dos ferroviários pelas 8 horas, de 15 a 31 de maio. A força pública intervém: massacra. Mortos, feridos, presos e espancados.

1907

São Paulo

Manifestação na Praça da Sé. Ocupação Policial. Dia 04 de maio começa uma greve generalizada na cidade. No final os marmoristas (Construção Civil) conseguem a aprovação das 8 horas.

Porto Alegre

Greve Geral na cidade conquista 9 horas para todos.

1919

Rio de Janeiro

Mais de 60 mil grevistas no 1º de Maio... "Viva a Revolução Soviética", "Viva Lênin" e se canta a Internacional!

Recife / Porto Alegre

Barricadas, mortos, feridos, presos. Os empresários aceitam as 8 horas.

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