Quinta 2 de Maio de 2024

Movimento Operário

ARGENTINA

10A: Grande paralisação nacional na Argentina contra o ajuste do governo

16 Apr 2014   |   comentários

A jornada de 10 de abril convocada por três centrais sindicais (pelas CGT de Hugo Moyano e Luis Barrionuevo além da CTA de Pablo Micheli), se converteu num pronunciamento nacional da classe operária argentina contra o ajuste do governo kirchnerista.

A jornada de 10 de abril convocada por três centrais sindicais (pelas CGT de Hugo Moyano e Luis Barrionuevo além da CTA de Pablo Micheli), se converteu num pronunciamento nacional da classe operária argentina contra o ajuste do governo kirchnerista. Sobravam motivos para parar o país: a desvalorização do salário e reajustes abaixo da inflação galopante; 35% dos trabalhadores sem carteira assinada e mais da metade ganhando abaixo da renda mínima familiar; os aposentados com apenas 2.700 pesos mensais (equivalente a 746 reais).

Com massiva adesão nos locais de trabalho, foi uma verdadeira paralisação nacional que, com piquetes de fábrica e cortes de rodovia protagonizados por milhares de trabalhadores em toda Argentina, obrigou a mídia burguesa, oficialista e opositora, a reconhecer que o triunfo da paralisação nacional não fica apenas nas mãos do sindicalismo peronista, mas também da esquerda trotskista, que mostrou ter cada vez mais peso orgânico nos principais centros industriais do país, destacadamente o Partido dos Trabalhadores Socialistas (PTS, organização irmã da LER-QI naquele país).

Paralisaram não só as bases dos sindicatos opositores ao governo, mas também amplos setores de trabalhadores pertencentes aos sindicatos governistas, desobedecendo abertamente a linha destas direções burocráticas que chamaram a trabalhar, como foi o caso dos professores.

A partir de sindicatos, agrupações classistas e comissões internas das fábricas nucleadas ao redor do Encontro Sindical Combativo de Atlanta, e particularmente do PTS, impulsionou-se assembléias de preparação do 10 de abril em cada fábrica e local de trabalho, para que os trabalhadores votassem conscientemente na medida de força e nos métodos que garantiriam que a paralisação fosse total, contra a burocracia sindical oficialista que incentivava a não parar, e também delimitando-se da burocracia convocante, que não fez nada sério para assegurar o bloqueio da produção. O método histórico de luta dos piquetes colaborou para convencer milhares de trabalhadores, e ajudou precarizados e terceirizados (mais vulneráveis à pressão patronal) a encontrar uma “via” para não chegar ao trabalho e participar da jornada. Apesar dos ataques promovidos pela frente única de todos os partidos patronais, mesmo dos opositores como Sergio Massa e Mauricio Macri, com o governo de Cristina Kirchner usando a polícia federal contra os piquetes do 10 de abril, não puderam evitar que os trabalhadores e dirigentes operários das fábricas da Zona Norte de Buenos Aires denunciassem o ajuste do governo, amplificando uma voz alternativa à burocracia sindical e tornando a paralisação ativa em frações significativas da classe operária.

É a primeira grande ação operária que se opõe com contundência à ofensiva ajustadora e ao giro à direita do governo (que inclui a desvalorização, a aumento das tarifas de serviços públicos, suspensões e demissões), tendo sido antecedida pela histórica greve nacional dos professores. A burocracia sindical de Moyano, Barrionuevo e Micheli não desejam lutar até derrotar o ajuste (deixaram isso claro ao fazer o balanço da jornada e não se comprometer em dar continuidade à medida). Apesar disso, emerge um problema para o sindicalismo peronista (pilar do Estado burguês argentino) em suas distintas alas: a jornada do 10 de abril mostrou uma mudança no estado de ânimo dos trabalhadores, adiantando uma possível multiplicação da a luta de classes. Tornou evidente que o processo de ruptura e cisão de amplos setores do movimento operário o governo, que apesar de não ser radicalizado é persistente e se choca cada vez mais frontalmente contra as direções sindicais burocráticas nos locais de trabalho.

O protagonismo operário no combate ao ajuste krichnerista, a verificação da importância estratégica dos sindicatos na Argentina e a emergência das organizações operárias na vida política nacional abrem possibilidades imensas para a esquerda revolucionária. As lições da jornada mostram que para além de desenvolver a FIT como alternativa política independente a caminho da construção de um partido operário revolucionário, é preciso aproveitar este novo ânimo para promover uma política de recuperar os sindicatos das mãos da burocracia e colocá-los a serviço de derrotar o ajuste, reagrupando a vanguarda e impulsionando frações classistas orgânicas dentro do movimento operário, para que estas organizações operárias voltem a estar a serviço da luta de classes contra o Estado burguês, para que a crise seja paga pelos capitalistas.

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