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Nacional

Virada Cultural: Repressão e racismo na Praça da Sé, SP

09 May 2007   |   comentários

Não nos surpreende que mais um show dos Racionais MC’s - no evento de 5 e 6/5 da prefeitura paulistana - tenha sido interrompido pelas brutalidades da polícia. Em um local que certamente ficaria pequeno para o show, sem estrutura suficiente de som etc., milhares de jovens se apertavam e cantavam as letras ao som das batidas pesadas, quando os ratos cinzas resolveram descer o cassetete e expulsar da Praça da Sé milhares de jovens que prestigiavam este evento "democrático" e "plural".

Claro que também havia muita gente nos outros shows - de MPB, música pop ou regional, com intervenções teatrais e circenses etc. - em geral um público universitário, branco e de classe média. Lá também tinha muita gente bebendo, fumando e tentando se divertir de várias formas. Porém, quando se trata de um show cheio de jovens negros e negras da periferia, os cães de guarda do capital ficam mais ferozes.

A polícia que se "irrita" com as letras dos Racionais é a mesma que se "ofende" com os militantes do movimento negro que, em um protesto pacífico, levantam bandeiras contra o racismo e a repressão policial (como aconteceu com os ativistas que foram presos no ABC, durante as atividades do ENJUNE- Encontro Nacional da Juventude Negra). Alegam que era uma "ofensa à honra" da corporação. Que honra?...

Nós, jovens trabalhadores, temos nossa rotina de trabalho. Chegamos nos escritórios, nas lojas, fábricas, ou vamos para as ruas, e começamos a produzir, atender, cobrar, vender... A polícia também tem sua rotina de trabalho: nos reprimir e humilhar. Um trabalho sujo, sem nenhuma honra. Por isso que um comunista não pode nunca ver um policial como um trabalhador: como vamos apoiá-los em suas reivindicações, se elas se voltam contra nós? Seus "melhores salários" e "melhores condições de trabalho" signifcam mais enquadros, humilhações, mais terror nas favelas, mais morte para o nosso povo. Um policial é um anti-trabalhador e um agente da burguesia branca, racista. E queremos o fim da burguesia.

Diante das cenas de resistência no show dos Racionais, em que - apesar dos apelos do Mano Brown! - muitos jovens estavam dispostos ao enfrentamento com a polícia, lembramos dos muitos feriados de 1º de maio na Praça da Sé e também do 7 de outubro de 1934, quando a Frente Única Anti-fascista - organizada pelos trotskistas da Liga Comunista Internacionalista - expulsou a bala os comparsas de Plínio Salgado, que buscavam ali realizar um ato público.

Devemos nos inspirar nesse exemplo para dizer: nenhuma investida policial contra o nosso povo deve "passar em branco"!

Por uma grande campanha contra a repressão policial e o racismo

O racismo em nosso país está em toda parte. Está escondido, nos preconceitos linguísticos, nas imagens estereotipadas dos livros didáticos, nas exigências racistas de "boa aparência" dos anúncios de emprego. Mas também se mostra muito nitidamente nas filas de desempregados, nos ónibus lotados voltando para as cidades-dormitó rio das metrópoles, nas periferias e favelas, penitenciárias etc. A miséria, neste país, tem cor.

Nós da CONLUTE e da Frente de Luta temos que nos diferenciar qualitativamente dos stalinistas racistas da UJS e do governo. Precisamos ser ativos em buscar os movimentos organizados da juventude negra, apoiá-los em suas lutas e nos colocar concretamente em defesa de suas bandeiras. A partir das universidades onde estamos, devemos ser os primeiros a enxergar as "cadeiras pintadas de branco", a polemizar com os professores e teóricos racistas, a nos sensibilizar e denunciar os ataques das reitorias aos estudantes bolsistas e a situação dos trabalhadores terceirizados etc.

Que iniciemos uma grande campanha a partir dos Centros Acadêmicos e Diretórios ligados à CONLUTE, em todo o país, organizando panfletagens, debates, aulas públicas, atividades culturais, festivais, atos de rua e tudo mais que pudermos construir em frente única com as Posses de Hip Hop, Casas de Cultura, grupos de capoeira, entidades e movimentos da juventude negra - e que esta campanha seja estendida aos sindicatos da CONLUTAS, da INTERSINDICAL, a todas as Centrais que possamos propor e ao conjunto das organizações de esquerda que assumem para si o combate ao racismo e a defesa dos trabalhadores e da juventude negra!

Podemos e devemos denunciar não só o governo Lula, mas das atrocidades de sua polícia racista, nas favelas, nos morros e nas ruas das periferias!

Como os trabalhadores anti-fascistas de 1934, nos organizemos contra os ataques da burguesia racista!

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