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V Congresso da USP na encruzilhada: armadilha ou um eixo de mobilização para golpear o regime universitário?

06 Apr 2008   |   comentários

Uma das conquistas parciais da greve e ocupação da Reitoria da USP foi o V Congresso de estudantes, professores e funcionários que está marcado para 26 de maio. Queremos abrir uma discussão sobre o que tem que ser este congresso e qual estratégia traçar para que não seja um Congresso qualquer, mas que sirva para organizar os estudantes e trabalhadores para impor nossas demandas a partir da mobilização e golpear o regime universitário da USP.

Um dos principais balanços que fazemos da greve e a ocupação da USP foi que a unidade na luta de estudantes e trabalhadores foi fundamental para impor o recuo ao governo com o decreto declaratório. Por mais que nossa reivindicação fosse pela derrubada de todos os decretos e pela extinção da Secretaria do Ensino Superior, esta foi uma conquista importante que só foi possível porque o movimento estudantil mostrou sua cara depois de mais de vinte anos de passividade e os funcionários da USP mais uma vez entraram em luta contra a precarização do ensino e das condições de trabalho na universidade.

Por fora do decreto declaratório, todas as demais conquistas foram bastante parciais e estão sendo convertidas em ataques pela burocracia acadêmica, que ainda está tentando dividir estudantes e trabalhadores para melhor dar uma resposta à crise aberta na USP. Isso vem ocorrendo com a reforma dos prédios que retira os espaços estudantis [1] e com a não contratação pela Reitoria de funcionários para o serviço do bandejão e do circular aos finais de semana. A face repressiva desta elitista e racista burocracia acadêmica também se mostra nas sindicâncias aos estudantes e processos administrativos e perseguição política aos trabalhadores que participaram da ocupação [2].

A reitoria sabe que os estudantes e trabalhadores divididos têm menos peso para golpear seus projetos de deixar a universidade ainda mais elitista, racista e ligada às grandes empresas. Nós também. É por isso que vemos a importância de resgatar essa unidade no momento atual para impor nossas demandas e não permitir que a burocracia acadêmica feche a crise da USP com suas privilegiadas mãos.

A Reitoria e o Conselho universitário tentam fechar a crise aberta ano passado pela direita. Estão aplicando uma reforma estatutária que concentra ainda mais o poder nas mãos do reacionário Conselho Universitário. Clara fica a política da Reitoria de dar sua resposta à crise quando mais uma conquista parcial da greve se transforma em ataque. A princípio a Reitoria vai disponibilizar a infra-estrutura com a liberação das aulas para que a comunidade universitária possa participar do V Congresso de estudantes, professores e funcionários da USP. Porém, atrás de tanta “dedicação” está a real política da reitoria: atualmente já está passando um reforma de estatuto que concentra ainda mais o poder nas seletas mãos de professores titulares que mandam na USP e quer controlar o máximo possível o Congresso.

Como fazer do V Congresso um marco na mobilização de estudantes e trabalhadores

Este V Congresso só pode ser efetivo no marco da mobilização dos estudantes e trabalhadores se organizando para impedir que nossas conquistas sejam transformadas em ataques, dando exemplos concretos de que não permitiremos nenhuma divisão entre nós. Cada conquista que a burocracia quer transformar em ataque tem que ser respondida no marco da aliança entre estudantes e trabalhadores para dar uma resposta à crise da USP que coloque abaixo esta universidade elitista e racista, apontando para uma luta profunda para colocar a universidade a serviço dos trabalhadores e do povo, contra os interesses de uma seleta burocracia acadêmica a serviço dos interesses do capital e das empresas.
Achamos que este V Congresso tem que ser um marco na organização da luta que se abriu ano passado, sendo um congresso resolutivo, onde as decisões tomadas sejam levada adiante de maneira unificada entre estudantes, trabalhadores e dos professores. As resoluções tomadas têm que ser impostas pela mobilização e levadas à frente pelo SINTUSP, DCE e ADUSP, pois não podemos ter nenhuma confiança nem no autoritário Conselho Universitário desta universidade nem em sua porta-voz: a Reitoria.

Nenhuma das direções abriu uma discussão na base dos estudantes, professores e funcionários sobre o que tem que ser o estatuto da USP. O resultado é que, à essa altura é impossível garantir uma discussão democrática e profunda sobre o estatuto em tão pouco tempo. O V Congresso deve ter como um dos pontos centrais a discussão do estatuto, mas como marco da abertura dessa discussão que deve ser levada para cada local de trabalho e estudo para ser parte de uma discussão democrática e massiva na comunidade universitária. A partir de uma mobilização e de propostas de cada faculdade poderemos preparar uma luta para impor as resoluções da comunidade universitária discutida e deliberada através conjuntamente entre estudantes, trabalhadores e dos professores que se colocarem em luta.

Nossa mobilização tem que estar a serviço de preparar uma grande greve para barrar os ataques da Reitoria e golpear o reacionário regime universitário

Todos estes ataques citados acima são deferidos pela mesma casta de professores que lucram na universidade com as empresas terceirizadas que mantêm cerca de 4000 trabalhadores ganhando um salário mínimo por mês sem nenhum direito garantido. A mesma burocracia que permite as fundações na universidade para colocar seu conhecimento a serviço dos grandes capitalistas enquanto pensa em como precarizar os cursos de humanas, com falta de professor e de salas de aula.

Apenas uma mobilização conjunta de estudantes e trabalhadores pode dar uma resposta à situação, buscando retomar a aliança com os professores que se colocaram em luta ano passado ou que simpatizavam com a greve e ocupação. Infelizmente, entre os professores será uma minoria, pois o elitismo e racismo da universidade brasileira se expressa com tudo na USP que conta em seu corpo docente com muitos professores que se dispõe apenas a manter seus privilégios em cargos políticos e administrativos e para isso têm que manter a universidade tão ou mais elitista do que já é.

Esta aliança tem que responder aos ataques que já estão sendo deferidos pela burocracia acadêmica para mostrar que estudantes e trabalhadores estarão unidos para mais uma grande mobilização. A campanha salarial dos funcionários da USP, que já começou, tem que ser parte desta unificação. A partir de cada curso ou unidade temos que lutar por assembléias unificadas de estudantes e trabalhadores para construir um plano de luta conjunto que sirva como preparação do V Congresso e de uma grande greve universitária. Esta será a única forma de golpear o regime universitário e impedir que a burocracia acadêmica feche a crise aberta pela direita.

Neste sentido, não podemos aceitar um “congresso estatuinte” tratorado como quer a ADUSP e o DCE (PSOL, PCB e independentes), que muito falam de “democracia na universidade” , mas não garantiu nenhuma discussão ampla sobre o tema. Qualquer conquista sobre democracia, acesso, permanência, o tripé ensino/pesquisa/extensão, não poderão ser conquistadas sem uma enorme mobilização.

Assim, faz-se a encruzilhada: ou armamos uma grande mobilização com eixo em estudantes e trabalhadores da USP para preparar uma greve e golpear o regime universitário ou será mais um Congresso que ficará para a história de eventos da USP como os outros 4 congressos que ninguém sabe.... mas não deram em nada.

Flavia Vale é estudante de Ciências Sociais da USP

[1O mais absurdo desta política vem sendo feita pelo engenhoso diretor da FFLCH, Gabriel Cohn. Retirou parte do espaço dos estudantes da Ciências Sociais e quer transferir os trabalhadores da manutenção desta unidade para tal lugar. Uma política clara de tentar jogar os trabalhadores, que de fato necessitam de um melhor local de trabalho, contra os estudantes, que estão perdendo o espaço estudantil.

[2Vale lembrar que a Reitoria da USP conta com um serviço de intelingência policialesco que acompanha passo a passo a rotina de militantes do movimento, principalmente de alguns dos diretores do SINTUSP.

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