Domingo 5 de Maio de 2024

Nacional

CAMPANHA SALARIAL DOS CORREIOS

Unificar a categoria para derrotar o governo e a direção da ECT numa forte greve

17 Sep 2012   |   comentários

Entrevistamos uma trabalhadora dos Correios

JPO: Em que marco se deu a mobilização para a greve deste ano?

Os trabalhadores dos correios vem nos últimos anos mostrando grande disposição de luta, organizando greves combativas e com enfrentamentos com o governo e a burocracia sindical. A forte mobilização que está se preparando para este ano está se dando mesmo com todos os obstáculos que a burocracia sindical impõe. Para garantir uma forte greve será necessário também superar a divisão que está colocada na categoria, depois que a CTB (PCdoB) resolveu rachar com a FENTECT, fazendo com que os principais batalhões da nossa categoria, SP e RJ, estejam separados da Federação. Apesar das diferenças, na hora de uma greve como essa não se pode resolvê-las, é necessário unificar a categoria ao redor da luta por nossas reivindicações, com organismos que funcionem de maneira unificada para a greve. Depois da greve, voltamos a debater essas questões. A nossa luta não pode ficar refém dessa divisão.

JPO: Como são as condições de trabalho nos correios?

Somos mais de cem mil carteiros, atendentes e operadores de triagem e transbordo dos Correios. Mas faltam muitos funcionários e sobra trabalho: são dobras e horas extras nos CDDs (Centro De Distribuição), excesso de carga, assédio moral, metas e agora o novo Sistema de Acompanhamento de Produtividade (SAP) que obrigam um ritmo de trabalho absurdo, além de filas enormes e acúmulo de trabalho com a terceirização do Banco do Brasil no caso das agencias, etc. Os salários, por sua vez, cada vez mais servem para comprar menos. Se o salário base de um agente de Correios já correspondeu a cerca de 10 salários mínimos, com as perdas dos últimos anos, não alcança a soma de 2. A terceirização também é cada vez mais presente, com trabalhadores precarizados na limpeza, nos caminhões, mas também carteiros e atendentes, e inclusive agências inteiras, ou seja, são centenas de trabalhadores ainda mais precarizados que os próprios ecetistas, e que além de gerarem muito lucro para os Correios, ainda são impedidos de lutar por sua condição instável, o que divide ainda mais a categoria.

JPO: E qual é a política do governo do PT e da direção da empresa?

O governo Dilma, que controla a estatal, e seus dirigentes, e que em última instância dá as cartas da empresa, já no ano passado mostrou pra quem governa, acenando com privatização e ataque aos trabalhadores ecetistas, descontando os dias da greve sem conceder nenhuma melhoria para a vida dos trabalhadores. Este ataque, além de ter penalizado os grevistas, deixou suas marcas profundas na insegurança e sensação de ameaça que agora muitos trabalhadores sentem, mesmo querendo lutar. A mesma linha que foi aprofundada este ano diante das importantes greves do funcionalismo, que mobilizou estudantes e professores, e servidores de diversas categorias, e que também foram duramente atacados pelo governo. Ao mesmo tempo, as intenções privatistas agora apareceram claramente num projeto para toda a infraestrutura do país, incluindo portos e aeroportos, por exemplo.

JPO: E da burocracia sindical?

As representações sindicais estão em grande parte sob controle de burocratas, principalmente ligados ao PT e ao PCdoB, e fazem acordos com a direção da empresa, traindo os trabalhadores e acumulando derrotas, enquanto a empresa os elogia por serem “responsáveis e realistas” ao abrirem mão das reivindicações da categoria. Para fazer este jogo sujo, utilizam mil artimanhas, assinam acordos de paz com a direção, fazem propostas rebaixadas, e agora, diante da forte possibilidade de uma luta que existe, apesar de todos os ataques e manobras preventivas, aprofundam ainda mais sua política desmobilizadora e divisionista: adiaram assembléias e o próprio indicativo de greve que estava para o dia 11/9, confundindo os trabalhadores e isolando os companheiros de Minas Gerais e do Pará, que agora começaram a greve sozinhos.

JPO: E qual política você acha que deve ser levada a frente?

Temos que ir pra greve com toda força. É preciso toda solidariedade da categoria para com os companheiros que já começaram a greve. E é necessário que os trabalhadores dos Correios organizem discussões em cada unidade, elejam representantes, atuem ativamente nas assembléias, pois somente com a mobilização e a auto-organização da categoria desde a base será possível superar os ataques do governo, da direção da empresa e dos burocratas traidores, unificando nacionalmente todos os trabalhadores em uma forte greve, impedindo que a divisão dos sindicatos nos debilite ainda mais neste momento. Só com esse fortalecimento pela base será possível que a FENTECT seja de fato uma alternativa. Junto com os ecetistas, estão em campanha salarial bancários e metalúrgicos. Compreender estas lutas no marco da crise econômica internacional e diante de um governo nacional dirigido por um partido que traz os trabalhadores no seu nome, mas na prática vem atacando até mesmo o mais elementar direito de greve, significa encarar cada greve como uma batalha da classe operária brasileira, em que é preciso buscar superar o corporativismo dentro das categorias, unificando efetivos, temporários e terceirizados de diferentes funções e entre as diferentes categorias, acertando com um só punho os governos e patrões!

Artigos relacionados: Nacional , Movimento Operário









  • Não há comentários para este artigo