Domingo 28 de Abril de 2024

Movimento Operário

O PAPEL DAS MULHERES FRENTE À CRISE CAPITALISTA

Unidade das fileiras operárias para triunfar!

23 Jan 2009 | “Pessoas foram assassinadas por suas convicções na classe operária. Temos que brindar-lhes com a história do movimento operário e o papel que as mulheres tiveram nele.” Genora Johnson Dolliger   |   comentários

Todos os dias vemos mais demissões para o conjunto da classe trabalhadora ’ são os primeiros sintomas da crise capitalista. Mas porque esse ataque adquire proporções mais profundas quando se trata das mulheres trabalhadoras? Não é difícil entender... Somos metade de humanidade e sofremos com a dupla jornada de trabalho; somos as que recebemos os piores salários, ainda que façamos o mesmo trabalho que nossos companheiros; somos as que trabalhamos nas piores condições, com contratos precários ou sem carteira assinada; somos a maioria dentre aqueles que não têm direito a aposentadoria, e menos ainda direito a se organizar...

São tantas as amarras em torno da vida das mulheres, que o capitalismo consegue dessa forma silenciar as vozes de milhares de lutadoras que permanecem no isolamento do lar, ou dentro das fábricas e locais de trabalho sem se organizar, pois muitas ainda não tomaram consciência da opressão e exploração em que vivem ou se deparam com uma burocracia sindical que pouco dá importância para a organização das mulheres trabalhadoras. Sabemos que tomar consciência dessas amarras poderá ser perigoso para a classe dominante, pois quando as mulheres entram em cena, não há quem as segure. A história demonstrou, ao longo dos anos, que o papel das mulheres nos principais enfrentamentos de classe tem sido decisivo.

Quando uma mulher avança, nenhum homem retrocede

Num momento em que os Estados Unidos ainda sentem as consequências da chamada “Grande Depressão” , se torna conhecida a militante Genora Johnson Dolliger, da ala esquerda do Partido Socialista norte-americano, e que mais tarde se aproxima dos trotskistas ingressando no SWP. Com apenas 23 anos, em 1936, se aproximou da luta contra as péssimas condições de trabalho e contratos precários da General Motors norte-americanas, através de seu companheiro, Kermith Johnson, que era um dos poucos militantes que trabalhava nesta fábrica.

A partir daí, Genora começa a perceber a dificuldade das esposas dos trabalhadores em se organizarem e apoiarem efetivamente a greve. As mulheres eram as que administravam e organizavam a vida familiar e portanto as primeiras a resistir a qualquer fato que colocasse em risco a manutenção dos lares. Entendendo a opressão na qual se encontravam, buscou de todas as maneiras organizar essa força “silenciada” nas casas operárias, já que ela tinha certeza que poderia se tornar uma força explosiva durante a greve e um fortalecimento para o próprio movimento operário. Junto às esposas dos trabalhadores começou a organizar restaurantes comunitários, creches, piquetes e a famosa Brigada Auxiliar de Mulheres, retirando-as do isolamento do lar e fortalecendo dessa forma a greve dos trabalhadores da General Motors.

Aproveitando o impulso que conseguiram organizando a Brigada Auxiliar de Mulheres, Genora, ao mesmo tempo, realizava visitas às casas das trabalhadoras, grupos de estudos e discussões, e inclusive atos públicos nos bairros para ganhar mais mulheres para a greve. A medida em que as mulheres se somavam, se tornava mais urgente o problema do cuidado das crianças. Genora montou, na própria sede do sindicato, uma creche. À medida que os dias iam avançando os piquetes para impedir a entrada de fura-greves e da policia tornavam-se cada vez mais massivos: homens, mulheres e crianças ficavam nas entradas durante as vinte e quatro horas do dia [1].

Genora foi uma grande organizadora sindical, e uma cativante oradora capaz de motivar os mais diversos auditórios operários. Era capaz de incendiar a revolta das mulheres, que pouco antes se encontravam isoladas em seus lares com seus filhos famintos. Em uma entrevista disse “Não nasci heroína” . Estava certa. Ela foi militante revolucionária e sua vida não precisou do impulso de nenhum herói. Sua convicção nas forças dos trabalhadores e trabalhadoras e a confiança em uma perspectiva socialista a fizeram única, e ao mesmo tempo, mais uma das mulheres desta classe capaz de transformar esta suja prisão em um mundo livre de exploração e opressão.

“Se não for agora, então quando?” [2]

São nesses momentos que a unidade da classe trabalhadora deve se mostrar mais fortalecida do que as divisões que querem impor em nossa classe. Todos os nossos companheiros saberão compreender que, se uma mulher avança, nenhum homem retrocede. As donas de casa das famílias trabalhadoras, as mães que sustentam sua casa sozinhas, as que suportam a carga de uma dupla jornada de trabalho porque seguem com as tarefas do lar quando chegam da fábrica, as esposas dos trabalhadores, assim como suas irmãs e filhas, todas estão chamadas a lutar contra esta crise que estão despejando sobre nós.

Para isso, resgatemos as melhores tradições do movimento operário expressas nas páginas do Programa de Transição: “Agora, a época da declinação do capitalismo joga na mulher seus mais duros golpes tanto em sua condição de trabalhadora como de dona de casa. As seções da IV Internacional devem buscar apoio nos setores mais oprimidos da classe trabalhadora, e por tanto, entre as mulheres que trabalham. Nelas encontrarão fontes inesgotáveis de devoção, abnegação e espírito de sacrifício. Abaixo o burocratismo e o arrivismo! Passagem à juventude! Passagem à mulher trabalhadora! Tais são as consignas inscritas na bandeira da Quarta Internacional”  [3].

 A história desta e de outras mulheres é o tema do livro “Lutadoras. Histórias de mulheres que fizeram história” , próxima publicação das Edições ISKRA, com previsão de lançamento para março deste ano.

Diana Assunção é integrante do Núcleo Pão e Rosas.

[1A luta não parou por aí. Depois que os trabalhadores da GM se organizaram, seguiram os da Chrysler, depois Ford, os trabalhadores da borracha, do vidro e do ferro.

[2Consigna lançada por Clara Lechmil, em 1909, no início da chamada “greve das meninas” que contou com a adesão de 30 mil jovens operárias têxteis de Nova Iorque.

[3Trotsky, Programa de Transição, Edições ISKRA, 2008

Artigos relacionados: Movimento Operário , Mulher









  • Não há comentários para este artigo