Sábado 27 de Abril de 2024

Movimento Operário

CERALIT CAMPINAS

Uma pequena experiência de ocupação de fábrica

28 Feb 2008 | Para garantir os empregos, ocupar, produzir e lutar pela estatização sob controle dos trabalhadores   |   comentários

No dia 15 de fevereiro, os operários da empresa CERALIT, localizada na rodovia Anhanguera, em Campinas, ocuparam a fábrica para exigir o pagamento de seus direitos. Desde a metade do ano passado, o grupo Biobrás ’ que gere esta e mais outras empresas do setor de óleos e biodiesel pelo país afora ’ levou adiante um plano de reestruturação da empresa, jogando nas costas dos trabalhadores a crise da CERALIT, desencadeada pela perda de um consórcio da Petrobrás para produzir nesta fábrica o biocombustível. Diante dos atrasos dos salários, das demissões e o não pagamento do fundo de garantia nos últimos anos por parte do patrão, o Sindicato dos Químicos Unificados, dirigido pelo PSOL e ligado à INTERSINDICAL, propós a ocupação para pressionar a justiça do trabalho a conceder o arresto dos bens da empresa como garantia de pagamento das indenizações trabalhistas.

Nós, militantes da Ler-qi de Campinas, desde que tivemos conhecimento do processo, prestamos solidariedade a esta importante luta da classe trabalhadora da nossa região. Estivemos presentes na fábrica e chamamos os estudantes da Unicamp a se ligarem a esta luta, aumentando as fileiras dos piquetes e colocando o seu conhecimento a serviço desta classe. Enquanto organização revolucionária, fizemos um diálogo estratégico com os trabalhadores da CERALIT em torno do controle operário da fábrica, dando exemplos concretos de como é possível colocá-lo em prática. Demos como exemplo Zanon, fábrica na qual nossa organização irmã na Argentina, o PTS, tem destacado papel dirigente, contribuindo para mantê-la sob gestão operária há 7 anos.
A demanda judicial impetrada pelo sindicato foi julgada favorável no dia 22/02 pela 11ª Vara Trabalhista da Justiça do Trabalho, em Campinas, que determinou o bloqueio dos bens da Ceralit como garantia dos direitos dos trabalhadores. Essa primeira vitória é importante porque desmascara o golpe que a empresa vinha dando nos trabalhadores, deixando de pagar salários e demais verbas trabalhistas que acumulam há mais de dez anos uma dívida de aproximadamente R$ 160 milhões. Com o fechamento da fábrica os empresários decretam o fim de 200 postos de trabalho, abandonando os trabalhadores e suas famílias à própria sorte.

A ocupação da fábrica pelos trabalhadores foi importante porque chamou a atenção para a grave situação, obrigando a justiça patronal a conceder o arresto dos bens. Porém, a luta deve prosseguir em defesa dos empregos. Para isso, o sindicato deveria preparar um plano que englobasse a denúncia à toda a população do golpe dos patrões, as dívidas que se acumulam, os lucros extraídos nesses anos todos, defendendo o funcionamento da empresa sob gestão operária como parte da luta pela municipalização ou estatização da Ceralit sob controle dos trabalhadores. Somente assim os empregos serão garantidos e a manutenção da fábrica estará a serviço dos interesses da população de Campinas, abrindo a possibilidade de criação de novos postos de trabalho. Os patrões demitem e fecham as fábricas. Os trabalhadores e o sindicato devem lutar para fazer as fábricas produzirem para garantir e abrir mais postos de trabalho.

O sindicato, dirigido por militantes do PSOL, poderia abrir um debate entre os trabalhadores e a população para que seus parlamentares apresentassem um projeto de lei de municipalização ou estatização da empresa, sob controle dos trabalhadores, para que as dívidas dos patrões fossem assumidas pelo Estado e cobradas para garantir um plano de gestão, colocando a empresa para produzir. Aqui em Campinas, seus dois vereadores, a Marcela Moreira e o Paulo Bufalo, poderiam ter cumprido este papel, apresentando um projeto de lei de municipalização, usando a Câmara Municipal e o espaço que possuem na imprensa da cidade e região para divulgar o conflito da fábrica [1]. Infelizmente a estatização sob controle operário não é a política da direção do sindicato quando afirma que “com a determinação judicial que bloqueia os bens da Ceralit, deixa de ter razão a ocupação que os trabalhadores faziam há cinco dias na fábrica” . O sindicato deveria convocar a Intersindical, a Conlutas, o PSOL, o PSTU e demais organizações de esquerda para formar uma Coordenação de Apoio e Solidariedade em Defesa dos Trabalhadores, de modo a ajudar os trabalhadores da Ceralit a manter a ocupação ou, no mínimo, um acampamento em frente à empresa para garantir os bens e continuar a luta, pois não se pode confiar nem na justiça nem nos patrões. Esta Coordenação serviria para divulgar a população de Campinas e demais cidades a situação vivida pelos trabalhadores da Ceralit, a roubalheira dos patrões, a negligência e conivência dos governantes para ganhar apoio popular à garantia dos empregos, à gestão operária e à estatização ou municipalização da empresa. Serviria como frente de unificação entre os sindicatos, começando pelos dois principais de Campinas, que são ligados à Intersindical, os químicos e os metalúrgicos, que juntos possuem uma base de mais de 80 mil operários.

Além da luta dos trabalhadores da Ceralit, uma Coordenação como essa, na qual os sindicatos e partidos da esquerda (Intersindical, Conlutas, PSOL, PSTU e outros) deveriam colocar todo seu peso militante e material, deveria cercar de solidariedade e apoio as demais lutas, como a que travam os trabalhadores e as trabalhadoras da Samkwang e Costech, em Campinas, os metalúrgicos da General Motors de São José dos Campos que lutam contra o banco de horas etc.
Nós, da LER-QI, nos colocamos a serviço desta luta dos trabalhadores da Ceralit e demais fábricas e empresas que enfrentam os ataques capitalistas.

[1A vereadora Marcela Moreira do PSOL se restringiu a apresentar na Camarada uma moção de aplauso à fábrica.

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