Domingo 28 de Abril de 2024

Movimento Operário

MOBILIZAÇÃO ESTADUAL

A greve das ETECs e FATECs

21 May 2011   |   comentários

Ricardo Festi, professor da ETECAP e da ETEC Bento Quirino (Campinas)

Nesta última sexta-feira, 13 de maio, mais de 500 pessoas, dentre professores, funcionários técnico-administrativos e estudantes do Centro Paula Souza (ETECs e FATECs do estado de São Paulo), participaram do ato de lançamento da greve em frente à sede da Superintendencia (o órgão de gestão da autarquia), em São Paulo. Pela quantidade de unidades paradas ou parcialmente paradas e pelo clima de indignação da categoria representado pelas pessoas presentes neste ato, tudo indica que a greve caminhará para um enfrentamento duro contra o governo de Geraldo Alckimin. Depois de anos de descaso com o salário e os direitos destes funcionários, a reivindicação central desta mobilização é um reajuste salarial de 82,735% para os docentes e 97,558% para os funcionários (levando-se em conta, nos dois casos, reajustes + recomposições).

O governo e a superintendência (dirigida por Laura Lagná, uma interventora do PSDB há mais de dez anos), fizeram na semana passada um operativo de contra-informação para tentar desmobilizar nossa greve. Lagná enviou na terça e na quarta-feira um Comunicado Oficial prometendo um reajuste salarial, a progressão funcional dos funcionários (congelada há mais de três anos) e um novo plano de carreira. Na quinta-feira, junto ao governador do estado, Geraldo Alckimin, anunciaram no Palácio dos Bandeirantes um reajuste de 11% para todo servidor do Centro Paula Souza. Foram além, disseram que este reajuste era parte de uma política de valorização salarial.

Mais que uma concessão a nossa movimentação, este reajuste demonstrou a nefasta política do governo para com o Centro Paula Souza. De maneira autoritária, sem nenhuma negociação com o sindicato (SINTEPS), anunciaram o reajuste como um fato dado. Deram, desta forma, argumentos para que os diretores das ETECs e FATECs, assim como os que ocupam cargo de confiança e coordenação, em sua maioria contrários a greve, tentassem desarticular nossa greve, deslegitimando-a (já que agora havíamos supostamente conquista a reivindicação), partindo para as ameaças. Mas a reação da categoria não poderia ter sido outra: indignação!

Os estudantes, que em sua grande maioria apóia a luta dos professores e funcionários, e estão conosco nas mobilizações e discussões, manifestaram o sentimento da comunidade escolar com um twitaço: #circopaulasouza (essa frase ficou em primeiro lugar durante horas no twitter na noite de quinta-feira).

O governo estadual, que se encontra em plena crise interna (com PSDB rachado e vários aliados debandando para o novo partido de Kassab,o PSD, incluindo o vice-governador, ex-secretario de Desenvolvimento Econômico, o qual o Centro Paula Souza faz parte), sabe que uma forte greve da categoria colocará em evidencia as verdadeiras condições de trabalho daquela que foi a sua principal plataforma eleitoral para a educação (as ETECs e FATECs). A população ficará sabendo que os professores hoje ganham R$10,00 hora/aula, num regime de contrato de trabalho que não garante nenhuma estabilidade. Alckimin e Lagná apostaram que este ano imperaria a despolitização e a desarticulação dos anos anteriores. Mas não foi isso que expressou o ato de sexta-feira passada.

A luta que teremos pela frente não será simples, pois ainda temos que enfrentar inúmeras dificuldades organizativas e políticas da categoria. A pauta de reivindicação da categoria é muito mais ampla e abrange desde de questões econômicas, como o aumento do Vale Alimentação, a questões política, como a reivindicação por democracia na estrutura de poder do Centro.

Nós, da Corrente Professores pela Base, desde nossa atuação em Campinas e o apoio que estamos dando a partir de nosso trabalho em professores da rede pública oficial de ensino, achamos fundamental que durante a greve consigamos debater com a categoria a necessidade de romper com o corporativismo que divide docentes de funcionários técnico-administrativos. Atuamos na perspectiva de unir os trabalhadores em torno de seus direitos, mas também em torno do direito de sua classe. Não podemos esquecer que uma boa parte dos que trabalham no Centro são terceirizados (limpeza, segurança, manutenção, etc). Lutar contra nossa precarização do trabalho requer lutar contra a precarização de toda forma de trabalho.

Outra questão fundamental a se pautar neste processo de greve é o caráter do próprio Centro Paula Souza. Enquanto escola e faculdades técnicas, que possuem vestibular para ingressar nelas, e que são consideradas enquanto escolas e faculdades de excelência, é necessário se questionar o porquê disso. Para quê e para quem serve esta forma de ensino?

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