Domingo 5 de Maio de 2024

Juventude

Um chamado à juventude trabalhadora

20 Mar 2005   |   comentários

Fazemos aqui um chamado à juventude trabalhadora. Queremos discutir com cada jovem trabalhador que está nas fábricas, nos supermercados, nos bancos, nos transportes, etc, a grande necessidade e tarefa que temos hoje: nos organizar para lutar pelos interesses de nossa classe.

Quando nossos salários atrasam, quando a empresa resolve cortar gastos e demitir funcionários, quando nos matamos trabalhando horas a mais... Em todos esses exemplos - e muitos outros que virão à mente de cada trabalhador quando estiver lendo - são mostras da divisão de classes da sociedade em que vivemos. Os lucros, as decisões sobre a empresa e a produção, as vantagens ficam para o patrão. O corpo cansado, a falta de dinheiro no domingo depois de trabalhar a semana inteira, o cumprimento das regras impostas no trabalho, tudo isso fica pra nós, trabalhadores.

Mas o descontentamento e a disposição não bastam para conquistar a vitória. Está colocado também para nós o desafio de nos organizarmos politicamente para a superação dessa realidade. Precisamos nos organizar nos sindicatos, em uma organização política de jovens trabalhadores, nos aliar a outros trabalhadores e sindicatos em luta pelo país, defendendo a independência de classe.

E está colocada, principalmente para nós, jovens trabalhadores, a tarefa de refletir, discutir, fazer militância política no movimento operário apontando para um caminho de independência de classe e rompimento com as velhas e corriqueiras conciliações com os patrões e o Estado capitalista.

Nós da Juventude pela Revolução Socialista (JRS), chamamos a juventude trabalhadora a construir essa organização política, com um jornal próprio, site, camisetas, local de reunião e tudo que necessitarmos para ser uma referência para amplos setores que não vêem alternativa nas organizações existentes que não dão espaço e nem liberdade para a juventude se organizar de forma independente. Confiamos na disposição da juventude trabalhadora para recuperar a tradição e os métodos mais avançados de organização e luta que a classe operária criou na história, para aprender com as experiências do passado e tirar lições para os combates que iremos travar pelo fim da exploração, pelo comunismo.

Chamamos aos combates pelo fim da exploração

Nós que ao fim do dia, depois de muito suar por salários de fome, ainda temos que ouvir discursos demagógicos na televisão de que somos “o futuro do país” , partimos, sim, da convicção de que o futuro está em nossas mãos. Mas não temos nenhuma ilusão de que “os mais esforçados vencem na vida” . Afinal de conta, será que nos esforçamos pouco quando trabalhamos horas e horas, enfrentamos transporte lotado, estudamos à noite e ainda com a preocupação de como esticaremos nossos salários para pagar todas as contas? Não, o trabalho diário nos impõe muitos esforços!

A questão é que no capitalismo nossa força de trabalho produz riquezas de que não usufruímos. Toda a produção é organizada visando apenas os lucros das empresas e não para garantir melhores condições de vida para os trabalhadores.

Vem então a pergunta: querem que sejamos o futuro de qual país? De qual sociedade? Nós nos recusamos a ser a continuidade dessa sociedade baseada na exploração dos trabalhadores para a garantia dos lucros de poucos - a burguesia. A juventude, em geral, traz consigo o sentimento de descontentamento e a energia para mudar a “ordem” vigente das coisas. Até porque não carregamos em nossas costas o peso das derrotas de lutas do passado.

Nós, jovens, nascemos num período de extrema mobilização e organização da classe trabalhadora. Muitos de nós inclusive ouvimos nossos pais contarem sobre participações em assembléias e greves. Eles foram parte do ascenso operário do fim da década de 70 e início da década de 80, marcadas por piquetes nas portas das fábricas, greves massivas, assembléias que reuniam milhares de operários.

Hoje, a memória dessas lutas, que foram o que de mais avançado expressou a classe operária na história do país, muitas vezes são tratadas como “coisa do passado” , que serve apenas para lembrança. E como se tudo que virá já estivesse condenado a ser a repetição de traições e conciliações com a burguesia.

A juventude trabalhadora e a juventude da periferia

Segundo dados do IBGE, a juventude no Brasil corresponde a 20,13% da população, sendo que mais de 80% dela vive no meio urbano. Ao mesmo tempo em que 75% dos jovens já fazem parte da população economicamente ativa, ela representa quase a metade do número de desempregados no país.

A juventude que está nas periferias do país sofre com as piores condições de vida que se possa imaginar. Escolas capengas, outras fechadas; trabalho informal e desemprego fazem parte da realidade da grande massa de jovens que foram jogados para o fundo das cidades.

Muitas ONG”™s chegam aos bairros de periferia, nos oferecendo a “possibilidade” de sermos “protagonistas” de projetos de “cidadania” e “inclusão social” . Querem organizar a “juventude da periferia” , com uma política que está de acordo com a manutenção do capitalismo. Todas as correntes de exploração e opressão permanecem. Continuam existindo os que não trabalham e recebem os lucros, os muitos que trabalham e são explorados e outros muitos que não conseguem trabalho. E assim segue o capitalismo...

Precisamos atacar esse sistema na sua raiz. O funcionamento de toda a sociedade está relacionado ao modo de produção capitalista, que divide a sociedade em duas classes fundamentais: a burguesia e a classe trabalhadora. Os trabalhadores, que tudo produzem e operam a distribuição de toda a produção, têm em suas mãos o poder de parar tudo isso, colocar a burguesia no chão e fazer tudo funcionar sem patrão. Porque, afinal, “o patrão precisa do trabalhador; o trabalhador não precisa do patrão” !

A organização da juventude nos bairros, nos movimentos culturais, etc cumprem um papel muito importante para avançar na compreensão de que precisamos tomar nossos destinos em nossas mãos. Mas um futuro de libertação da exploração capitalista não será possível se os trabalhadores não estiverem organizados em seus locais de trabalho para parar o funcionamento de tudo (a produção nas fábricas; o transporte pelas rodovias, ferrovias, etc; os pagamentos de contas nos bancos; etc.).

As massas podem tomar as ruas, se confrontar com a polícia e o exército e até derrubar governos, mas se os trabalhadores, com destaque para a classe operária, não entram na cena política, a burguesia consegue manter-se no poder, ainda que tenha dificuldades.

É por isso que defendemos que toda expressão de protesto e organização da juventude e dos oprimidos avance para se ligar e apoiar ativamente os fenómenos de luta da classe trabalhadora. Todos os problemas cotidianos da juventude que vive nas periferias só terão resposta de conjunto se o controle do funcionamento da sociedade sai das mãos da burguesia; e são somente os trabalhadores, pelo papel que cumprem na produção e na economia, que podem tomar esse controle da burguesia, colocando tudo a serviço do conjunto do povo oprimido.

Chamamos a combater os ataques do governo Lula

Milhões de trabalhadores votaram em Lula, com a esperança de que um ex-operário no governo desse saídas para melhorar as condições de vida das massas. Mas a própria candidatura de Lula já dava mostras do que estaria por vir. Um exemplo é o fato de que o candidato a vice-presidente era José Alencar, um empresário. O que pode representar a aliança entre Lula/PT e partidos da burguesia como o PL? Somente uma coisa, que o PT já vinha desenvolvendo há anos nas cidades e estados do país: a conciliação de classes, a conciliação entre burgueses e trabalhadores.

Hoje isso se demonstra nos ataques atrás de ataques desse governo à classe trabalhadora. Atualmente o governo Lula/PT está aprovando a reforma sindical, que quer arrancar direitos de organização dos trabalhadores historicamente conquistados, e já prepara a reforma trabalhista, com as chamadas “flexibilizações” .

As “flexibilizações” significam mais vantagens para o patrão. O que significa dizer que direitos como décimo terceiro, férias e licença maternidade serão negociados entre empregado e empregador? Significa dizer que querem nos arrancar esses direitos porque seremos forçados a aceitar as imposições do patrão. Querem deixar as negociações nas mãos de burocracias sindicais e acabar nosso direito à greve.

O governo Lula/PT conta hoje com o apoio de burocratas sindicais que são os agentes do governo e dos patrões no movimento operário que facilitam os ataques do governo em troca de privilégios.

Não á à toa que hoje a direção da CUT chama os jovens para seu projeto “Juventude, sindicalismo e inclusão social” . Querem que a juventude se alinhe com suas posições de conciliação de classes e apoio ao governo e abandonem seu papel questionador do sistema. Mas nós nos recusaremos a isso! Precisamos, sim, estar nos sindicatos. Mas devemos estar lá, organizados com outros trabalhadores nas bases para recuperar os sindicatos, arrancando-os das mãos da burocracia, expulsando as direções traidoras na defesa de sindicatos que sejam a expressão real de nossas lutas. Precisamos lutar para varrer as burocracias da CUT, que tem em sua base 22 milhões de trabalhadores e concetra um enorme potencial tranformador da sociedade, para retomá-la como ferramenta de luta dos trabalhadores.

Chamamos a construir a Conlutas

Hoje, ainda que seja um processo minoritário, milhares de trabalhadores começam a romper com o governo de Lula/PT. Quando as ilusões com esse governo se rompem, não podemos abaixar a cabeça e achar que a última alternativa foi perdida. É preciso aglutinar todos esses setores para unificar as lutas e se dirigir ao conjunto das massas, colocando a necessidade de barrar as reformas, lutar contra esse governo e reorganizar os trabalhadores para dar uma saída à crise do país - que somente nós trabalhadores podemos dar.

Tudo isso aponta a necessidade de construir um pólo anti-burocrático e anti-governista, que unifique os trabalhadores em nossas lutas, que necessariamente se confrontarão com esse governo e a burocracia sindical. Vemos que através da Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas), uma organização que reúne sindicatos e trabalhadores que querem lutar contra as reformas neoliberais e o governo, podemos lutar para avançar em todas essas tarefas que temos hoje. Por isso chamamos a juventude trabalhadora a construir essa coordenação para que essa possa verdadeiramente se transfomar em uma referência para amplos setores da juventude trabalhadora.

Não podemos abandonar os sindicatos, eles precisam ser nossas ferramentas de organização e luta. Mas precisamos fazer com que sejam sindicatos militantes, o que significa que quem deve fazer política não é só a diretoria dos sindicatos que em sua enorme maioria são compostas pelos mesmos de sempre, há anos e anos. É preciso renovar os dirigentes sindicais e a juventude precisa ser a linha de frente desse processo. Nós, jovens trabalhadores, temos a responsabilidade de fazer valer para o conjunto da classe trabalhadora a confiança em nossas próprias forças e em nossas ferramentas de luta.

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