Domingo 28 de Abril de 2024

Juventude

52º CONUNE

UNE na contramão dos novos tempos para juventude.

29 Jul 2011   |   comentários

Enquanto a juventude no mundo inteiro luta contra a precarização da vida imposta pelo desenvolvimento da crise capitalista, derruba ditaduras e começa a expressar como os novos tempos em que vivemos são cada vez mais agitados, a UNE realizou seu 52º Congresso mais uma vez marcado como um grande palanque dos políticos e ministros do governo Dilma e do regime.

Justamente numa conjuntura internacional aonde a palavra revolução começa a ressurgir nas mentes e corações da juventude, a UNE reafirma seu compromisso de colaboração governamental no interior do movimento estudantil. Num congresso que reuniu milhares de estudantes, ao invés de estimular a revolta o que se viu foi uma grande louvação a degradada democracia vigente.

Na total contramão do que são os “indignados” no Estado Espanhol, e agora os jovens chilenos que saem as ruas em defesa da educação pública ganhando um apoio massivo na população, a direção governista da UNE, com a dita “comunista” UJS/ PC do B a frente, resume a sua estratégia em “pressionar e dialogar com todos os atores” .

Entretanto, o que diferencia a UNE da famigerada estratégia de pressão do clássico reformismo em desgastar o Estado para obter demandas parciais, presente a séculos no movimento estudantil e sindical, é justamente pelo fato que tal ação se realiza desde o ponto de vista do Estado Capitalista, em outras palavras, o que a UNE exerce não é pressão e sim o podre poder burguês na juventude.

Uma burocracia estudantil necessária para o governo mais instável de Dilma.

Se durante os 8 anos de governo Lula a UNE teve fundamental importância em consolidar base social para o petismo nas universidades, a partir de programas como o ProUni e o REUNI, nos próximos anos com Dilma a frente seu papel será superior. Isso porque os anos de crescimento econômico combinado com a estabilidade política garantida até então por Lula, estão cada vez mais incertos, pelo contrário a tendência é que o avanço da crise capitalista internacional abale profundamente a frágil estrutura da economia brasileira, centrada na exportação de commodities e no fluxo de capital estrangeiro, fazendo com que as contradições sociais e econômicas sejam mais abertas no mais fraco governo Dilma.

Já podemos ver como expressão desse cenário o atual corte que Dilma implementou de R$ 50 bilhões do orçamento da União, sendo mais de 3bi da educação e deixando um patamar inferior a 1% em áreas como a cultura, assim como o aumento progressivo do custo de vida, sentido cada vez mais pela juventude que no início desse ano se mobilizou nacionalmente contra o aumento de tarifas do transporte público. Além disso, a relação do governo com as empreiteiras para a realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas no Brasil escancaram a “escravidão” que é o trabalha terceirizado, enquanto os capitalistas lucram bilhões de reais. No campo, a situação é ainda mais grave, diversos assassinatos de ativistas são cobertos pela impunidade, que também está presente na não punição dos torturadores da Ditadura Militar, ao mesmo tempo em que mais concessões são feitas as oligarquias rurais com a aprovação do novo código florestal como também aos militares na comissão da verdade. A bancada evangélica e políticos como Bolsonaro também tem seus interesses garantidos pelo governo com o recente veto ao Kit anti-homofobia, a não aprovação do PLC 122 e a crescente impunidade a diversos assassinatos a homossexuais. A UNE diz isso aos estudantes?

Não! Todos esses são alguns elementos que fazem da UJS/PCdoB a verdadeira tropa de choque do governo na juventude através da UNE. Sendo parte desse regime, a sua essência não é capaz de defender a educação pública, de se colocar ao lado da atual greve dos professores, muito menos promover a necessária aliança entre estudantes e trabalhadores para lutar contra os ataques. Pelo contrário, a UNE não vê essas ações como ataques e sim como parte de um “dialogo”; na prática constrói a aliança da juventude com as empreiteiras, com os deputados como Aldo Rebelo do PC do B que foi redator e líder das alterações do novo código florestal. Os objetivos da UNE não são outros a não ser cargos, financiamento, nomeações e negociatas com os “atores” que dizem querer pressionar.

Quanto de “dinheirinho” a UNE obteve para o 52º CONUNE?

A maior prova da dependência política da UNE com o governo federal é a sua dependência financeira. Tentando contrariar essa lógica natural - como diriam: “Quem paga a banda escolhe a música...”- o ministro da educação Fernando Haddad no seu discurso durante o 52º CONUNE declarou:

“Algumas pessoas imaginam que é possível comprar a consciência do movimento estudantil com alguns trocados. Um dinheirinho para organizar um congresso bastaria para pacificar todas as contradições existentes na sociedade brasileira que provenham da educação...”

Ainda que sem números oficiais, o “dinheirinho” especulado que a UNE recebeu para a realização do 52º Congresso pode chegar até R$ 3 milhões (valor do evento). Entre os principais patrocinadores estão a Petrobrás, a Eletrobrás, a Caixa Econômica Federal, 5 ministérios e até mesmo as mantenedoras do ensino superior privado. Augusto Chagas, do PC do B e ex-presidente da Entidade defende tal mecanismo:

“O patrocinador é o dinheiro público, o dinheiro da União. Nós achamos que o Congresso da UNE tem função pública. Ele serve ao Brasil...”

Quando se solicita fundos para a ABMES , vai-se além do que pedir dinheiro público. Não bastando ser orgânica com os interesses do governo, a UNE está disposta a se ligar umbilicalmente com os capitalistas e os monopólios da educação privada que lucram quantias imensuráveis com valor pago pelas mensalidades dos estudantes. Não à toa, a entidade tem em seu programa a defesa da regulamentação do ensino privado, parte da mesma reivindicação da ABMES, que permite o capital estrangeiro especular sobre o lucro vindo da educação brasileira além de precarizar o conhecimento.

A maioria dos jovens universitários das IES privadas não pode encontrar na UNE alternativa que lhes garanta a educação enquanto direito social, pública, gratuita e de qualidade, justamente por essa entidade estar atrelada aos milionários capitalistas do Ensino.

Já Lula no mesmo CONUNE tentou camuflar essa medida se confrontando contra o que os meios de comunicação acusaram da entidade ser chapa branca do governo:

“Você liga a televisão e vê propaganda de quem? Quem é a propaganda do futebol brasileiro? Quem é a propaganda das novelas? Para eles, é democrático. Para vocês, é chapa-branca.”

Lula está comparando a UNE com os grandes meios reacionários da imprensa, que diz criticar, financiados pelo capital privado e público, apenas substituindo a terminologia “chapa branca” por “democrático”. Enfim, a única conclusão que se tira por trás da confusão consciente do ex-presidente é da UNE como um mecanismo da burguesia para disseminar a passividade na juventude.

Estudantes e trabalhadores Às Ruas em defesa da Educação Pública.

Apesar de tudo isso, a direção governista da UNE acabou o Congresso dizendo que a principal tarefa votada foi a defesa dos 10% do PIB a educação. É difícil de acreditar que realmente a entidade levará essa bandeira a frente, já que nas principais lutas são eles os principais sepultadores. Ainda mais, quando se vota essa política junto ao apoio do novo PNE 2011/2020 que diz, como o anterior, projetar apenas 7% do PIB.

Entretanto, o que a esquerda anti-governista deve entender é que a principal contradição existente atualmente para a UNE está justamente na sua relação com o capital da educação privada, parte estrutural da política educacional do governo petista. Ou seja, a UNE até pode se colocar a favor dos 10% do PIB, mas não pode fazer isso combinado a denuncia do ensino privado.

Frente a isso, é uma capitulação principalmente das correntes do PSOL em continuar impulsionando uma dita “oposição de esquerda” no interior da Entidade ao mesmo tempo que o fazem legitimando toda essa estrutura burocrática, sem denunciar o financiamento privado e público com o pretexto de “disputar a consciência” dos estudantes, sendo que parcela importante da juventude vem buscando novas formas de articulação.

A ANEL, ainda que não represente todos esses setores que começam a despertar, pode vir a ser uma referência importante nesse sentido. E por isso construímos essa entidade junto a diversos independentes para forjar uma verdadeira frente única de ação dos estudantes, em aliança com os trabalhadores, seguindo hoje o exemplo do movimento estudantil chileno que sai às ruas em defesa da educação pública. Entretanto, tal política não é levada a frente pela direção majoritária do PSTU que ao se pautar em acordos superestruturais com a oposição de esquerda da UNE, faz com que atualmente a campanha dos 10% do PIB a educação seja apenas uma promessa de plebiscito para o 2º semestre (enquanto oportunidades são perdidas como a atual greve dos trabalhadores da educação em vários estados), com um programa que não luta pela estatização das IES Particulares e nem o fim do vestibular como questões fundamentais à maioria da juventude, excluída do Ensino Superior público.

Uma das diretrizes centrais de uma entidade combativa é buscar no seio das lutas, forjar uma aliança com os trabalhadores capaz de desferir golpes contundentes para que, pautando-nos na independência política e financeira, arranquemos as demandas da juventude e dos trabalhadores capaz de fazer frente aos ataques que virão.

Nós da juventude da LER-QI fazemos um amplo chamado a todos os estudantes e jovens trabalhadores a construir um polo revolucionário e combativo da juventude que assuma apaixonadamente as tarefas e os desafios dos novos tempos colocados.

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