"Seu petróleo, nossos mortos"
20 Mar 2004
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A Espanha foi um dos países onde se expressou de forma massiva a oposição à guerra no Iraque. Durante fevereiro e março do ano passado, antes do início da invasão no Iraque por parte das tropas lideradas pelos EUA, as centrais sindicais e os movimentos sociais, artistas e intelectuais convocaram milhões de manifestantes em Madri e Barcelona e centenas de milhares em Málaga, Córdoba, Morón de la Frontera (Sevilha), Oviedo, Pontevedra, Mallorca, Bilbao, Pamplona, Valladolid, Albacete, Murcia e outras cidades.
A amplitude das consignas denotava o caráter pacifista destas mobilizações: “Espanha há quem te quer e há quem te USA” , “Pela Paz” , ainda que também contra Bush, Blair e Aznar e o partido governante - PP. Este movimento ainda que altamente progressivo não logrou torcer o braço de Aznar, que participou da cruzada guerreirista de Bush com 90% da população contra. Durante o transcurso da guerra houve distintas ações como atos, boicotes, tentativas de greve, entre outras medidas de menor envergadura, porém mais militantes.
O 11-M e o ressurgimento do movimento antiguerra
Após o brutal atentado de quinta (11) nos trens de Madrid, Aznar lançou a manobra de acusar o ETA para obter crédito eleitoral.
Muitos jornais davam conta da divisão implícita que havia nas manifestações entre quem dizia “ETA não” e quem cantava “Guerra não” . Em Barcelona os dirigentes regionais do PP se viram encurralados quando milhares de manifestantes gritavam para eles: assasinos!. Na medida em que apareciam evidências categóricas que demonstravam a origem islâmica dos autores do massacre, a manobra do governo do PP foi se desmoronando rapidamente e se voltou contra ele mesmo.
No sábado, dia 13, de forma espontânea, convocados pela internet e por telefones celulares, foram se aglutinando manifestantes nas sedes do Partido Popular que exigiam saber a verdade e denunciavam a manobra do governo. “Quem foi?” , se perguntavam. Somavam-se coletivos e movimentos sociais, aparecendo as consignas do movimento antiguerra em Madrid, Barcelona e Valencia. Já eram milhares contra Aznar e o PP. Se podia ver e ouvir: “Vocês são os fascistas e terroristas” , “assassinos” , “Vocês põem as guerras, nós os mortos” , “Os operários pagam as guerras do capital” , “as bombas para o Iraque caem em Madrid, “Nós dizemos não à guerra” . A consigna “seu petróleo, nossos mortos” é uma boa síntese da consciência de amplos setores da juventude e dos trabalhadores espanhóis de que os responsáveis finais pelas mortes nos trens de Madri são os governos imperialistas que levaram adiante a guerra de agressão ao Iraque e às massas muçulmanas do Oriente Médio, em função de seu interesse em controlar essa zona chave do planeta por suas reservas petrolíferas.
A derrota eleitoral do governo pelas mãos do PSOE no domingo, dia 14, expressou que a maioria dos jovens e um setor importante do movimento antiguerra pretenderam “castigar” Aznar porque o identificam como responsável político pelo brutal e múltiplo atentado e sua pretensão de manipular a informação a favor do candi-dato presidencial do PP.
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