Quarta 8 de Maio de 2024

Nacional

Um balanço necessário

Romper com a política de conciliação de classes e assumir uma política independente

14 Nov 2003   |   comentários

Perante a submissão do governo Lula-Alencar e do PT diante do imperialismo, correntes que se reivindicam trotskistas, como o PSTU, a CST, do deputado Babá, e o MES, da deputada Luciana Genro ’ dirigentes, as últimas, do Bloco dos “radicais” ’ criticam o governo e fazem “exigências” ao Lula.

No Manifesto aos Petistas e Lutadores Sociais, assinado pelos “radicais” , “exige-se” que “Lula tem que respeitar a vontade da maioria e não cooperar com o imperialismo” , cobrando que o PT “abandonou suas bandeiras” contra a Alca e o FMI. Para esses companheiros “o problema é que a direção do PT fez uma opção: governar com a burguesia, se apoiando em alianças com os governadores e aceitando o fisiologismo do Congresso Nacional” . Ao afirmar que a causa da “opção” do PT em “governar com a burguesia” estaria nas “alianças com os governadores” e no “fisiologismo do Congresso Nacional” os “radicais” escondem o verdadeiro caráter da direção reformista do PT como uma corrente contra-revolucionária que tem como centralidade impor aos trabalhadores a aliança de classes com a burguesia para defender os interesses capitalistas. O PT, mesmo antes de chegar à presidência, há duas décadas governa com a burguesia e em defesa dos interesses capitalistas, como se pode comprovar nos estados e municípios dirigidos pelo partido e nas alianças eleitorais e no apoio a diversos partidos e candidatos patronais, como Covas, do PSDB, em São Paulo, em 1994.

As prefeituras e governos estaduais aplicaram todos os planos capitalistas e cumpriram todos os compromissos com o imperialismo, atacando os interesses da maioria da população. Os diversos anos em que o PT vem governando e “gerenciando os negócios capitalistas” desmentem totalmente o que os “radicais” pretendem fazer a vanguarda acreditar: que Lula e o PT “mudaram tanto em tão pouco tempo” e que “antes” tinham um programa e uma estratégia anticapitalista e antiimperialista. Somente negando os próprios fatos e a história do PT e das últimas décadas do Brasil, os “radicais” poderão seguir iludindo a vanguarda de que o PT e as “bandeiras aprovadas no Encontro Nacional” apontavam para uma “dinâmica [que] conduzia à ruptura da aliança com os grandes capitalistas” . Na verdade, essas falsas explicações têm o objetivo de esconder que essas correntes se mantiveram por décadas no PT, aceitando que se “governe com a burguesia” em diversos estados e municípios.

Se milhões de trabalhadores continuam confiando em Lula e no PT, não se pode atribuir ao “acaso” ou a “baixa consciência” das massas, e as correntes da esquerda que saíram do PT e as que ainda continuam no partido, devem fazer o balanço necessário que permita encontrar uma política justa e superior.

Para ajudar as massas a romperem com as ilusões que ainda guardam a respeito de Lula e para avançar a uma estratégia revolucionária, a vanguarda deve se orientar por uma política de independência de classe, combatendo sem tréguas a aliança das direções reformistas com a burguesia nacional.

Nos meses de outubro e novembro, o PSTU e as correntes de esquerda deixaram, mais uma vez, passar uma grande oportunidade para dar passos importantes para que amplos setores dos trabalhadores avancem em sua ruptura com o governo, o PT e a burocracia sindical da CUT e demais centrais. Dirigindo dezenas de sindicatos de metalúrgicos, bancários e outras categorias operárias, o PSTU e o Bloco dos “radicais” participaram da “Campanha Salarial Unificada” com a velha estratégia sindicalista e burocrática imposta pelo petismo na CUT e nos sindicatos, privilegiando “ações de pressão” (paralisações de algumas horas, atrasos de turnos) para que a patronal abrisse negociações para reposição salarial. Essa estratégia é a mesma da direção burocrática da CUT que, em São Bernardo do Campo, por exemplo, “pressionou” inclusive com paralisações de vários dias até que a patronal “cedesse” reajustes salariais que repõem a inflação, com 2% acima, o que de fato não responde a perda de renda de 14% somente neste ano.

Nessa estratégia petista, por exemplo, os milhões de desempregados não são considerados como trabalhadores e vivem como “párias” , e os acordos com a patronal são defendidos pelos burocratas sindicais com a chantagem de mais demissões, caso não se aceite. Ou seja, não se une e coordena os interesses dos desempregados para lutar juntos por emprego para todos, contra qualquer demissão e demais reivindicações.

Enquanto o PSTU e as correntes do Bloco dos “radicais” continuarem adaptados a essa estratégia petista conciliadora que “convence” os trabalhadores de que “não se pode lutar contra a patronal e deve-se negociar” , não será possível constituir uma nova vanguarda que apareça das fábricas e dos sindicatos como alternativa para preparar uma ofensiva operária contra o plano económico burguês imposto pelo governo e a patronal. Somente revertendo essa trajetória de adaptação aos ditames da burocracia sindical petista, o PSTU e o Bloco dos “radicais” podem assumir um papel progressivo para que as bases dos sindicatos que dirigem sejam atraídas para uma alternativa combativa e antiburocrática e possam se constituir num pólo de atração para os demais operários das fábricas e sindicatos dirigidos pela burocracia sindical.

A enorme energia demonstrada pelos servidores públicos federais, a disposição de luta dos trabalhadores dos Correios, a paralisação dos petroleiros, dos bancários e das diversas fábricas metalúrgicas davam bases concretas para que estas correntes políticas colocassem seus sindicatos à frente de um processo antiburocrático, que organizasse os trabalhadores em defesa de uma preparação efetiva e democrática da Campanha Salarial Unificada, a partir de encontros regionais e nacional onde os próprios operários discutissem e votassem um programa e um plano de ação que unisse e coordenasse empregados e desempregados contra os ataques patronais e do governo, até que se garanta emprego para todos (escala móvel de horas de trabalho), reposição integral das perdas salariais, reajuste mensal de acordo com o aumento do custo de vida (escala móvel de salários), entre outras reivindicações imprescindíveis para os trabalhadores e suas famílias.

Essa nova estratégia combativa, independente e antiburocrática, exige que os dirigentes sindicais rompam com seu burocratismo garantindo que sejam as bases que determinem a luta, utilizando os métodos da greve e da ocupação de fábricas para romper a intransigência patronal. Essa tarefa essencial não poderá estar condicionada aos interesses e à impotência das correntes de esquerda: a vanguarda, em seu próprio movimento de ruptura com o PT e as direções burocráticas conciliadoras, se dará os meios para superar as direções que não rompam com o “modo petista de militar” , e avancem para uma estratégia combativa e classista ’ baseada na auto-organização a partir das fábricas e locais de trabalho e em organismos eletivos de frente única operária.

Artigos relacionados: Nacional









  • Não há comentários para este artigo