Quinta 16 de Maio de 2024

Movimento Operário

ENTREVISTA COM ALEJANDRO LOPEZ

“Querem devolver a fábrica ao velho Zanon”

01 Sep 2008 | O governador Sapag declarou que quer comprar os créditos privilegiados dos principais credores de Zanon, supostamente para que os trabalhadores possam “comprar” a fábrica. O jornal La Verdad Obrera de Neuquén e Alto Valle entrevista Alejandro López [1], Secretário Geral do Sindicato Ceramista e operário de Zanon, para que nos conte a posição dos trabalhadores diante da proposta do governo.   |   comentários

Poderia nos dizer como essas declarações afetam a gestão operária?

Alejandro: Antes de tudo queria dizer que depois dos 6 anos de luta que travamos, e escutamos o governador, quando assumiu, em seu primeiro discurso na Assembléia Legislativa, e ele disse que a fábrica tinha que ficar nas mãos dos trabalhadores, nós, desde aquele momento, sabíamos que era uma declaração do que as pessoas queriam escutar. Nós sabíamos que apesar dessa declaração ia ser difícil avançar nas questões concretas que vínhamos exigindo há anos, que a fábrica seja expropriada e que assim fique nas mãos dos trabalhadores.

Com o tempo, o governo foi afinando as variantes com que está trabalhando. Primeiro foi a compra da fábrica, ao que nós nos pronunciamos contrariamente, porquê nos parece que gastar milhões e milhões de pesos não ajuda em nada ao controle operário, muito pelo contrário, significaria nos endividarmos por toda a vida e nós sabemos a realidade de toda a comunidade de Neuquén, onde é preciso melhorar o sistema de saúde, a infra-estrutura no que se refere à educação, é preciso criar postos de trabalho genuíno e, acima de tudo, a falta de moradias que há aqui em Neuquén, com mais de cinqüenta mil famílias sem casa. Por isso denunciamos a compra, porquê era um despropósito que o governo gaste milhões e milhões de pesos, quando tem a solução ao alcance da mão. É uma decisão política: deve expropriar a fábrica. Quando derrubamos sua proposta de comprar a fábrica, sai com isso de comprar os créditos privilegiados.

Para que se entenda claramente, isso é nada mais que voltar a proteger a família Zanon. Ou seja, a compra de créditos privilegiados não é nada mais que o governo encarregando-se da dívida de Zanon, o que nos obriga a pagar uma dívida fraudulenta e ilegítima. Lembremos que, em meio a isso tudo, houve um lock-out patronal, um esvaziamento do capital da empresa por parte da família Zanon, que pediu créditos milionários ao estado e nunca devolveu nada. Os trabalhadores não temos nada a ver com essa dívida.

O que continuam querendo os trabalhadores de Zanon?

A: Depois do lock-out, que nos obrigou a ficar 5 meses acampados, depois que tivemos de pór a fábrica para produzir, gerar mais de 70 empregos, pór a fábrica a serviço da comunidade, levar adiante um controle operário que, para nós, é impressionante, e pelo sentido social que tem se dado à fábrica, nos parece que depois de ter feito tanto esforço junto à comunidade, junto a todas as organizações que tem bancado a gestão operária, escutar o governador dizer que a proposta é a compra de créditos privilegiados para continuar beneficiando à família Zanon, para continuar beneficiando os credores que foram parte desse esvaziamento do capital, é uma hipocrisia. O pior de tudo e o mais complicado dessa proposta do governo é que não descarta nem freia o fechamento da fábrica. Com a proposta do governador, a fábrica vai de qualquer maneira a um fechamento.

A que conclusões estão chegando os trabalhadores?

A: Por um lado o governo quer tirar as dívidas da família Zanon e que fiquem sem dívidas, e assim podem voltar a apresentar o fechamento. Ou seja, que volta a fechar-se o círculo, já que querem recuperar a fábrica que está sob controle operário. Temos que ser claros, o governo do MPN tem um discurso duplo: por um lado dizem que a fábrica tem que ficar nas mãos dos trabalhadores, mas realmente a variante na qual estão trabalhando é para devolvê-la ao velho Zanon.

O que estão discutindo nas assembléias?

A: O que nós estamos discutindo em nossas assembléias é por o pé no acelerador nesses dois meses que restam, fazer uma campanha intensiva para levar esclarecimento à comunidade, nos parece fundamental que a comunidade que sustentou essa luta saiba claramente que há uma estratégia de fundo. Querem tirar-nos a fábrica para devolvê-la à família Zanon e isso nós não vamos permitir.

O que está em jogo aqui é a expropriação versus o fechamento. Se não se consegue a expropriação, a fábrica fecha sim ou sim, isso é o que está buscando o MPN. Temos que fazer a defesa da nossa luta, a defesa da gestão operária, em conjunto, entre todos. Por isso dizemos que Zanon é do povo, porque é assim. Então achamos que essa briga que temos a frente, agora em 20 de outubro, que é quando vencem os prazos da prorrogação da cooperativa, temos que enfrentá-la de forma conjunta, tanto com os professores, com os trabalhadores da saúde, os desempregados, como com os companheiros de esquerda, os organismos de Direitos Humanos e com a comunidade em geral. A idéia é uma campanha forte, de discussão, para que todo mundo saiba qual é nosso pensamento.

Hoje na fábrica fizemos uma assembléia onde discutimos de somar à campanha pela expropriação uma proposta ao governo de um debate político, um debate público no qual eles, junto com seus assessores, apresentem a proposta do governo e nós, junto a nossos contadores, aos companheiros assessores e todos os companheiros da fábrica possamos fundamentar por que a expropriação é a saída. A isso temos que somar a mobilização. Os primeiros que temos que estar mobilizados somos nós, mas a idéia é poder fazer isso com o conjunto das organizações, trabalhar uma mobilização daqui a duas semanas onde possamos fazer uma mobilização com os companheiros da CTA, da ATEN, de diferentes organizações, em defesa da gestão operária e pela expropriação de Zanon.

Ao mesmo tempo em que nos mobilizamos aqui em Neuquén, fazer uma atividade nacional na Casa de Neuquén para que fique claro ao governo que há muitíssimos setores, melhor dizendo, a comunidade em geral está pedindo uma solução definitiva e não estamos dispostos a deixar passar o tempo sem que haja uma solução de fundo pro nosso conflito.

Você sabia que...

”¢ A Família Zanon deixou dívidas de 175 milhões de pesos (R$ 212 mi) ao Banco Mundial.

”¢ Deve 30 milhões de dólares (R$ 71 mi) à empresa provedora de maquinaria da Italia, Sacmi.

”¢ A Família Zanon tem uma empresa que não produz nada que se chama Cerâmica Zanon AS, na qual injetaram capital.

”¢ A dívida total de Zanon em agosto de 2005 é de 360 milhões de pesos (R$ 296 mi naquela época)

”¢ 205 milhões de pesos (R$ 169 mi) é o piso de dívida para comprar a fábrica.

O Partido de los Trabajadores Socialistas (PTS) é a organização irmã da LER-QI na Argentina, e também faz parte da Fração Trotskista - Quarta Internacional

[1Secretário geral do sindicato dos ceramistas e Operário da cerâmica Zanon, que está sob controle dos trabalhadores há 6 anos.

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