Sexta 3 de Maio de 2024

Movimento Operário

Um mau exemplo na luta contra a reforma trabalhista

PSTU aceita flexibilizar a jornada de trabalho na LG Philips

01 Apr 2007   |   comentários

No dia 6 de fevereiro, depois de cinco dias de greve na LG Philips (960 funcionários), o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, dirigido pelo PSTU, defendeu a aprovação de um acordo com a patronal que na prática flexibiliza a legislação trabalhista, entregado à patronal uma conquista histórica.

Como o próprio sindicato escreve em seu site, “pela Constituição, empresas que atuam com turnos de revezamento ininterruptos devem ter jornada de 6 horas diárias. Mudanças só podem ocorrer com a assinatura de um acordo específico (que será o caso)” .

Antes esses trabalhadores, conforme a lei, cumpriam jornada de 6 horas por dia. Agora vão cumprir 8 horas/dia, pois o sindicato “negociou” o “legislado” . Essas duas horas diárias que serão trabalhadas a mais os trabalhadores não receberão como extra, e o patrão embolsará esta quantia. É uma perda dupla, flexibilizando a jornada e trabalhando a mais sem receber por isso!

“Esse acordo foi uma conquista expressiva dos trabalhadores da LG.Philips, que fizeram uma mobilização muito forte e que contou com a participação de 100% dos funcionários” , como disse o diretor sindical Nelson Faria. Este diretor quer nos convencer que a flexibilização da jornada (medida fundamental do plano dos patrões e do governo na reforma trabalhista) foi uma “conquista” porque em “compensação” a patronal ofereceu R$ 2.300,00 de abono, pagos em duas parcelas, e a estabilidade por 90 dias. Este abono, que será pago apenas neste ano, a patronal recuperará com o aumento da exploração e do ritmo de trabalho, e de agora em diante terá a sua disposição todos os trabalhadores numa jornada excessiva e com custos menores. E a estabilidade nada significará depois dos 90 dias, pois a patronal terá aumentado em 33% a quantidade de horas produtivas, o que lhe possibilitará reestruturar a produção e voltar à carga contra os trabalhadores, inclusive demitindo funcionários.

Será que não havia alternativa, e esta derrota era inevitável? Sendo verdade, como informa o diretor Faria, que a mobilização na LG Philips era “muito forte e que contou com a participação de 100% dos funcionários” , só podemos concluir que os sindicalistas do PSTU e da Conlutas neste sindicato não levaram a luta até o fim e com a firmeza necessária para impedir, na prática, esta reforma trabalhista.
Não organizaram a luta de toda a categoria, deixaram a LG Philips isolada para resistir, e ainda assim os trabalhadores responderam positivamente com “100% dos funcionários” mobilizados. Nenhuma reunião da Conlutas foi convocada para preparar a solidariedade ativa, como parte de um plano de ação unificado para a luta de toda a classe trabalhadora contra os planos flexibilizadores da patronal. Nenhuma campanha efetiva foi feita pelo sindicato, Conlutas ou PSTU para fortalecer esta greve e mostrar aos trabalhadores da LG Philips que poderiam contar com apoio para resistir e não entregar suas conquistas. Enfim, a luta na LG Philips não foi levada como parte da luta de toda a classe trabalhadora contra as medidas de flexibilização da patronal e do governo. Foi um mal exemplo na luta contra as reformas.

No final, com esta estratégia o resultado só poderia ser a: entrega de conquistas em troca de migalhas, vitória para a patronal, derrota e enfraquecimento da luta dos trabalhadores, pois esta empresa e outros patrões verão que podem impor suas medidas mesmo em sindicatos dirigidos pela Conlutas, e muitos trabalhadores em outras fábricas compreenderão que “não há outro jeito” a não ser aceitar as flexibilizações e medidas das reformas neoliberais.

Esta lição, porque as derrotas ensinam muito, deve servir para que todos os sindicatos da Conlutas e da Intersindical vejam que para barrar as reformas é fundamental impor os métodos combativos ’ greves, ocupações, piquetes ’ organizando a luta nas bases, unindo e coordenando as fábricas, convocando a solidariedade ativa de outras categorias para que a classe trabalhadora se sinta segura de que pode ir adiante porque luta como classe unificada e seus dirigentes não se entregarão sem lutar até a última gota de sangue.

Afinal, quando se fala em luta contra as reformas deve ser coisa séria, e esta luta se dá, em primeiro e principalmente, no chão da fábrica, onde as medidas neoliberais são aplicadas pela patronal. Os sindicatos combativos não podem aceitar qualquer acordo que retire ou flexibilize direitos. Essa é uma exigência básica para organizar a luta contra as reformas!

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