MÊS DA CONSCIÊNCIA NEGRA
Os defensores do governo Lula lembram Zumbi, mas para esconder sua política de conciliação
11 Dec 2007 | Passado recentemente o 20 de novembro, faz-se necessária uma discussão sobre qual o sentido político que se imprime ao Dia da Consciência Negra. Essa data precisa servir para armar politicamente negros e negras para uma luta sem tréguas contra o racismo dos dias de hoje. Hoje, com o governo Lula no poder, as principais direções do movimento negro – a maioria do PT e do PCdoB – se negam a combater as políticas racistas desse governo. Conciliação com os opressores ou combate sem tréguas: foi essa a diferença entre Ganga Zumba e Zumbi. Os defensores do governo falam de Palmares para aparecer como combativos, mas a verdade é que sua política só pode levar os negros para Cucaú [1].
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Por: Mara Onijá
Cinco anos de governo Lula: para os negros, demagogia...
Na IV Marcha da Consciência Negra, realizada em São Paulo, entre as principais bandeiras estavam: a aprovação do feriado nacional de 20 de novembro e do Estatuto da Igualdade Racial.
Toda a “novela” dos empresários e governos sobre o feriado nos municípios [2] só continua porque até hoje o feriado nacional não foi instituído. A verdade é que Lula posa de “reconhecedor das contribuições do povo negro para o país” , mas não move uma palha sequer para atender às demandas do nosso povo, nem mesmo à instituição do feriado nacional; mas quando se tratam dos decretos e medidas provisórias em benefício da burguesia, a sua caneta está sempre pronta para assinar.
O Estatuto da Igualdade Racial já leva 12 anos tramitando no Congresso, sendo 5 anos de governo Lula. O Fundo de Promoção da Igualdade Racial, parte do Estatuto, que deveria servir para implementar ações nas áreas da saúde, educação e emprego, está ainda mais parado porque o governo já tem o orçamento compromissado ’ este vai para as frações da burguesia nacional e para o imperialismo com o pagamento da dívida externa.
No Estatuto aparecem demandas reais do povo negro como, por exemplo, o direito à saúde para a população negra, atendendo às suas especificidades. Mas é uma ilusão acreditar que os hospitais atenderão a população negra ao mesmo tempo em que avança o projeto do governo de privatização da saúde com a criação de fundações privadas para controlar este setor. É necessário desmascarar o Estatuto que quer fazer crer que é possível a “inclusão” dos negros na democracia burguesa e que as vias de pressão parlamentar são o caminho. Somente com mobilização massiva, independência do governo e confronto aos capitalistas e seu Estado é que poderemos lutar conseqüentemente pelas demandas do nosso povo.
...Para os negros, repressão!
Enquanto nossos irmãos negros morrem, os dirigentes do movimento negro se negam a denunciar que o principal responsável por isso é o governo Lula. Enquanto os negros haitianos são reprimidos e assassinados pelas tropas da ONU comandadas pelo exército brasileiro, grande parte do movimento negro no Brasil se cala, em nome de preservar o governo Lula.
Que dizer então sobre a repressão policial no Brasil? Este problema tem sido muito discutido em encontros e seminários do movimento negro. Mas campanhas contra o genocídio da juventude negra sem combater as políticas do governo que promovem tudo isso não passarão de uma farsa. A Guarda Nacional foi enviada por Lula ao Complexo do Alemão, espalhou o terror e ele disse que esse era um exemplo a seguir. Em seguida, criou o PAC da Segurança, que vai destinar 6,7 bilhões para a segurança pública ’ ou seja, para a repressão ’ e vai construir 187 presídios para a juventude. O movimento negro, junto com sindicatos e organizações combativas, deveria nesse momento fazer uma ampla campanha contra a implementação do PAC da Segurança.
Na IV Marcha da Consciência Negra, os militantes do PT, do PCdoB, das ONGs não falaram uma palavra sobre isso! Para eles, mais valem as cadeiras nas secretarias de governo do que um combate conseqüente a essas políticas assassinas do governo Lula. E assim, de nada adianta lembrar Zumbi, se for para aceitar Cucaú...
Abaixo o PAC da Segurança e toda política de militarização e extermínio da juventude negra!
Por emprego, salário, carteira assinada e direitos trabalhistas!
Unir empregados e desempregados para repartir o trabalho entre todos, sem diminuição dos salários: é a única forma de acabar com o desemprego. Por um salário mínimo do DIEESE (R$ 1797,00), a começar pelas mulheres trabalhadoras chefes de família!
Estatização das universidades privadas com verbas provenientes do não pagamento da dívida externa e impostos progressivos às grandes fortunas. Fim do vestibular. 100% de vagas para as escolas públicas e cotas para negros proporcionalmente ao percentual da população no estado.
Unipalmares convida Condoleezza Rice para sua primeira formatura
Condoleezza Rice, braço direito do Bush assassino foi convidada a participar, em março de 2008, da primeira formatura da Unipalmares, a universidade privada destinada para os negros. É uma vergonha que a Unipalmares tenha como convidada de honra a mulher negra que é uma das principais dirigentes de invasões como a do Iraque; que é o braço direito do imperialismo que mata os negros no Haiti; que arranca riquezas naturais, promove guerras e fome na à frica. Ela é representante do governo que deixou morrer e matou os negros no Katrina.
Chamamos a todos os negros e negras que se indignam a organizar um ato de repúdio à presença da Condoleezza na formatura da Unipalmares. Quem mata o nosso povo não pode falar em nosso nome! Fora Condollezza!
[1] Entre muitas tentativas de destruição do Quilombo dos Palmares, o governo de Pernambuco tentou também a conciliação. Em 1678, Ganga Zumba aceitou um tratado de paz com os portugueses, levando consigo uma parte dos quilombolas para o Vale do Cucaú, uma terra que havia sido prometida pelo governo para que vivessem ali somente negros nascidos em Palmares. O resultado é que os negros que seguiram para Cucaú ficaram com suas cabeças sob as botas dos portugueses. Zumbi, contrário ao acordo, manteve Palmares junto com vários mocambos que lutaram ao longo de mais de quinze anos depois do “acordo de paz”.
[2] Hoje, o feriado só existe em 267 dos 5.561 municípios do país. A oposição dos empresários e governos segue ferrenha, como em São Bernardo do Campo onde o prefeito Willian Dib declarou que o feriado seria preconceito e provocaria desemprego. Salvador, cidade com 86% de negros, não tem o feriado em 20 de novembro, ou seja, nenhum feriado diz respeito a imensa maioria da sua população.
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