Palavra Operária

Desde o início do ano, estudantes da Fundação Santo André (FSA) estão construindo o Encontro Regional de Estudantes de Ciências Sociais (ERECS-Sudeste), marcado para os dias 22 a 25 de maio no ABC. Foi aprovada no ERECS de 2007 a realização do encontro na FSA principalmente pela possibilidade que se colocava de que a reitoria fechasse os cursos de licenciatura, entre eles, Ciências Sociais (CS). Esse seria um ataque que atingiria não só os estudantes da FSA, mas também os trabalhadores e a população do ABC, além de significar um ataque aos cursos considerados pouco lucrativos e que poderia abrir ainda mais brechas para a perspectiva de fechamento desses cursos em outras universidades.

No início deste ano, o famigerado reitor Odair Bermelho e seus aliados, mesmo depois da greve dos estudantes que durou mais de 50 dias em 2007, lançou o ataque que se temia: 8 dos 11 cursos da FAFIL (Faculdade de Filosofia e Letras) não tiveram turmas abertas, sob o falso argumento de que não há interesse por esses cursos.

Nesse contexto, tornou-se ainda maior a necessidade de que os centros acadêmicos de CS da região colocassem suas forças para a construção do ERECS. Com essa preocupação, os estudantes da FSA lançaram em março um chamado para que a convocação se efetivasse nas demais universidades, explicando a importância da realização de um forte encontro para cercar de apoio ativo a necessária luta pela reabertura dos cursos e impulsionamos reuniões do CORECS (Coordenação Regional de Estudantes de CS) para organização do encontro. Frente ao fato de que a reitoria proibiu que o ERECS fosse realizado na FSA, essas reuniões resolveram que era necessário manter o encontro na região do ABC, para defender a FAFIL e também pelo significado que tem a região nas lutas dos trabalhadores.

Enfrentando as teorias “em moda” que negam o papel social da classe trabalhadora e relegam o marxismo como pensamento ultrapassado, os estudantes da FSA sabiam que escolher o tema “CS e a classe trabalhadora” significaria nadar contra a corrente. Pela própria composição social da FSA ’ a maioria dos estudantes são trabalhadores ’, muitos estudantes discutem há meses que será muito importante expressar as reflexões e propostas de jovens trabalhadores que estão na universidade questionando o papel que cumpre essa instituição e o conhecimento produzido nela, hoje a serviço dos interesses capitalistas. Entendemos que é muito importante expressar para as outras universidades a importância de um curso com certa expressão de professores marxistas como a CS da FSA.

Nós, da LER-QI e do Movimento A Plenos Pulmões, impulsionarmos a construção do ERECS porque achamos que pode contribuir para forjar um setor de estudantes que expresse dentro da universidade os interesses dos trabalhadores. Sabemos que isso hoje passa por se enfrentar com o petismo, que dirigiu o último ascenso e foi responsável pelo desvio daquele processo com o pacto da “transição lenta, gradual e segura” para essa democracia podre dos ricos, e hoje quer comemorar os “30 anos do sindicalismo autêntico” .

Porém, os estudantes da FSA se depararam com uma situação preocupante. Até agora há um verdadeiro silêncio dos CA´s dirigidos pelo PSOL e pelo PSTU, o que na prática é um boicote ao movimento de área e à luta contra o fechamento da FAFIL. O que é mais grave se levamos em consideração que a organização dos encontros é responsabilidade dos CA´s. Por mais disposição que tenham os estudantes da Fundação, um encontro regional não pode ser realizado se os próprios centros acadêmicos não convocam os estudantes das universidades em que estão. Sem dúvida, os estudantes da FSA estão cumprindo seu papel. Chamamos os CA´s da região, em boa parte dirigidos pelo PSOL e PSTU, a tomar urgentemente a construção do ERECS.

Mara Onijá é estudante da Fundação Santo André e militante do movimento negro.

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