Sexta 3 de Maio de 2024

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ATO EM HOMENAGEM A LEON TROTSKY

"O legado do trotskismo e as tarefas dos revolucionários frente a uma crise histórica do capitalismo"

27 Sep 2010   |   comentários

Companheiros e companheiras

Estamos diante de uma crise histórica do capitalismo, que está marcando o começo do fim das condições da etapa de restauração burguesa. Durante a etapa de restauração burguesa, marcada pelo avanço do neoliberalismo, o que vimos foi um fortalecimento da burguesia imperialista, que conseguiu retirar uma a uma as conquistas da classe trabalhadora e dos povos oprimidos do mundo sem guerras, se utilizando de suas democracias degradadas. Isso só foi possível por que as direções reformistas das organizações políticas e sindicais surgidas no pós II Guerra Mundial pactuaram com as burguesias os ataques à classe trabalhadora.

Como resultado disso passamos 30 anos sem revoluções, marcados pela restauração capitalista nos países do Leste Europeu e Ásia. A burguesia imperialista se aproveitou desta correlação de forças para semear a estúpida ideologia de que agora as revoluções, não só as operárias, mas quaisquer revoluções teriam sido para sempre varridas do mapa. Que o capitalismo seria a última forma de organização da humanidade. Que nada mais restaria à humanidade que aceitar a exploração do homem pelo próprio homem. Que a realização do ser humano se daria a partir do individualismo. Sobre estas bases a burguesia imperialista pedantemente declarou na voz de sua pseudo-intelectualidade que havíamos chegado ao fim da história.

Mas a realidade demonstra o contrário. Entramos em um momento em que as reformas parciais e os remendos de nada servirão. A evolução histórica chegou a uma de suas etapas decisivas, na qual só a intervenção direta das massas é capaz de varrer os obstáculos reacionários e resolver as contradições do sistema de miséria que vivemos.

A crise capitalista mundial explode apesar da exploração de quase 2 bilhões de novos trabalhadores dos países em que o capitalismo foi restaurado, que passaram a ser obrigados a vender sua força de trabalho em troca de salários miseráveis, questão que foi utilizada pela burguesia para rebaixar os salários dos trabalhadores de todo o mundo. A restauração capitalista nestes países, longe de ser um ganho se traduziu em um grande ataque às condições de vida dos trabalhadores. A China, que muitos saudaram como a potência do século XXI, tem um PIB que dividido por todos a sua população só é superior à do Congo e Angola.

Nos países imperialistas do Ocidente vimos os governos capitalistas gastar 12 trilhões de dólares salvando os grandes bancos e a patronal. Esta política foi impulsionada tanto pelos governos conservadores como pelos social-liberais. De Angela Merkel e Barack Obama, a Lula no Brasil todos tiraram do povo e dos trabalhadores para dar aos patrões. Porém, hoje se vê que sequer com estes planos de salvar a burguesia e afundar a classe trabalhadora, o capitalismo está conseguindo fechar sua crise.

Nos Estados Unidos, país mais rico do mundo, em lugares como Detroit cerca de 40% da população depende de ajuda do governo para comer. O desemprego oficial é de 9,5%, porém se contamos os que perderam as esperanças e não buscam trabalho há mais de 20 semanas esta cifra sobre para 20%. Na Europa temos diversos estados falidos, que podem seguir o caminho da explosão da dívida grega. A crise da dívida bancária e privada se transforma em uma crise da dívida dos Estados, potencialmente mais explosiva, que pode arrastar o mundo a uma grande depressão econômica. Nos últimos meses, todos os governos da Europa estão anunciando medidas de ataque contra os trabalhadores. Demissões, corte nos salários, e retirada de direitos, como a reforma da aposentadoria na França, estão entre os ataques.

Mas as primeiras respostas dos trabalhadores começam a se dar. Se não avançam mais é por conta do controle da burocracia sindical, que mais que nunca deve ser superado. Na Grécia houve uma greve geral política contra os planos de ataques do governo do PASOK. Na França milhões de pessoas foram às ruas contra a reforma da previdência. No Estado Espanhol, onde o desemprego atinge 40% dos jovens de 18 a 24 anos, há uma nova greve geral convocada para o dia 29 de setembro. É preciso que apoiemos estas ações de nossos irmãos de classe, com todas as forças, impulsionando atos e ações e solidariedade. (Brasil, Europa, América Central, a classe operária é internacional)

Em momentos de crise, a burguesia sempre aumenta as opressões e as utiliza como forma de manter seus lucros. As mulheres, a juventude, os negros e os imigrantes são os que mais sofrem, não só com os ataques aos seus empregos, como também com a onda de xenofobia que se expressa nos Estados Unidos e na Europa. As mãos dos trabalhadores das semicolonias que construíram grande parte dos imensos edifícios e riquezas dos países imperialistas, agora são algemadas pela polícia que os expulsam e os caçam brutalmente. É preciso que saudemos o exemplo da população francesa que se manifestou nas embaixadas contra as políticas anti-imigração de seus países.

É somente unindo os trabalhadores imigrantes e das semicolonias, aos seus irmãos de classe nos países centrais que a crise capitalista poderá ser superada. Este é um dos fundamentos do internacionalismo revolucionário que queremos tornar vivos! Morte à burguesia que lança um trabalhador contra o outro para manter seus lucros!
Companheiros, em nosso continente, o que vemos é como a crise golpeou diferentemente os países. Na América do Sul houve crescimento, o que gerou ilusões gradualistas, do qual Lula se favoreceu. Porém, isso não resolveu os problemas estruturais. O Brasil segue extremamente dependente do capital estrangeiro e o desenvolvimento da crise capitalista internacional pode golpear duro no próximo período.

Na América Central e no Caribe a crise arrasa as economias ligadas mais diretamente aos Estados Unidos, lançando na miséria cada vez mais setores da população. O imperialismo apoiado nos governos direitistas da região amplia sua presença militar direta. Hoje as mesmas tropas imperialistas que assassinam os povos do Oriente Médio estão presentes no Haiti, na Costa Rica, em nossos mares com a IV Frota. O golpe direitista em Honduras se estabiliza apoiado diretamente no imperialismo. Esta política busca ampliar as posições dos Estados Unidos para garantir a dominação imperialista sobre a América Latina, e garantir a submissão dos povos de nosso continente! Frente a isso, é preciso agitar fortemente as bandeiras anti-imperialistas (e gritar: Fora Ianque)

Esta ofensiva imperialista demonstra que os discursos anti-imperialistas de Chávez e Evo Morales não passam disso: discursos. Nenhum destes governos que se reivindicam revolucionários se colocaram contra o golpe em Honduras, ou contra a presença militar dos Estados Unidos na América Latina. A capitulação de Chávez frente à Obama se combina no plano interno a uma política de fazer vista grossa aos constantes assassinatos de dirigentes operários a mando das grandes patronais. Isso demonstra que contra o mito do bolivarianismo só a revolução operária e socialista pode libertar os povos das semicolonias latino-americanas da opressão imperialista, e instituir uma verdadeira revolução!

Mas o ponto chave da situação latino-americana hoje é a encruzilhada em que Cuba se encontra. Disso depende se o imperialismo conseguirá impor novas cadeias de dominação à América Latina.

Esta que foi a única revolução latino-americana que expropriou a burguesia mantém uma série de conquistas a serem defendidas. A revolução de 1959 foi responsável pelo fim da exploração imperialista sobre Cuba, que antes explorava tanto seus recursos, quanto suas mulheres e o seu povo, lançando-os em um mar de exploração e humilhações. Pôs fim à fome, ao analfabetismo, à ignorância e à falta de assistência médica. Algumas destas conquistas sobreviveram até hoje, apesar do criminoso embargo imperialista.

Porém, a burocracia castrista está ameaçando estas conquistas. Seu anúncio de que cortará 500 mil postos de trabalho dos setores públicos mostra que a direção castrista, que nunca se apoiou na centralidade da classe trabalhadora, em soviets, e numa estratégia internacionalista, é hoje uma das maiores ameaças para os trabalhadores e o povo cubano. Isso prova que a estratégia de apoiar direções quaisquer, para revoluções quaisquer, predominante entre as correntes trotskistas no momento da revolução cubana era completamente equivocada. Porém, não podemos atuar como as organizações que após embelezar a direção castrista, hoje se negam a ter uma política de defesa dos trabalhadores e do povo cubano contra a ofensiva restauracionista.

Tanto as posições que identificam a defesa das conquistas da revolução cubana com a defesa do regime burocrático, como as que sustentam que se trata de mudar o regime para obter liberdades democráticas formais, reproduzindo as campanhas demagógicas do imperialismo, expressam duas formas distintas de apoiar a algum dos agentes da restauração do capitalismo em Cuba, seja a burocracia governante ou diretamente o imperialismo. A LIT-PSTU assumiu abertamente a variante socialdemocrata colocando como eixo a “luta frontal contra a ditadura” e defendendo“liberdades democráticas para os burgueses”.

Contra as visões simplistas e entreguistas frente à URSS, Trotsky demonstrou que a dialética não é um mero esquema de pensamento, mas um guia para a elaboração da política revolucionária. Trotsky dizia com clareza que a única maneira de preservar as bases econômicas conquistadas com a revolução na União Soviética era varrer a burocracia e implantar um regime baseado na democracia dos trabalhadores, que permitiria transformar a estes estados em trincheiras da revolução socialista internacional. Um programa que em certa medida foi apropriado por quem se levantou contra a burocracia em Berlim, em 1953, na revolução dos conselhos operários da Hungria em 1956, na Tchecoslováquia em 1968 ou na Polônia em 1970 e 1980, levantamentos que foram esmagados com sangue pela burocracia, que sujou as bandeiras do marxismo e do socialismo. Esta questão, companheiros, segue sendo atual como vemos no caso de Cuba, ameaçada pela restauração capitalista não somente pela agressão criminosa do imperialismo com seu bloqueio, senão também pela própria ação da burocracia governante que se prepara para seguir o caminho de seus amigos da China, Vietnã ou da União Soviética.

Este legado deve ser atualizado para as condições de nossos dias, e transformado em prática na defesa das conquistas da revolução cubana contra a ofensiva imperialista e de sua casta governante. Este é um chamado que a realidade nos faz com a maior urgência. Responder a este chamado e se levantar em defesa da classe trabalhadora internacional é ser parte consciente da História! Esta é o desafio hoje! A isto chamamos todos os que estão aqui presentes!

Que a crise seja paga pelos capitalistas!

Fora o imperialismo da América Latina! Fora o imperialismo do Oriente Médio!

Pelo internacionalismo proletário!

Viva a revolução mundial!

Viva a IV Internacional!

Intervenção de Simone Ishibashi, diretora da revista Estratégia Internacional - Brasil e dirigente da LER-QI

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